terça-feira, 20 de dezembro de 2011

na hora foi engraçado

Eu não gosto de humor negro. Não gosto. A pessoa pode contar mil piadas estúpidas de humor negro do meu lado e eu não vou ver graça nenhuma, não tenho que fazer força pra não rir. Eu não gosto de desrespeito ideológico, religioso, social e blábláblá.

Certo? Certo.

Mas tem uma exceção que eu não consigo evitar. Tem o mesmo efeito sobre mim que a piada do paraguaio. O caçambito.

conheça caçambito

caçambito eu

Pois eu vi isso um dia na minha vida, ri até acabar o ar e não propaguei, porque né?

Aí esqueci, milhões de anos se passaram e, nos últimos dias do finado Google Reader, alguém botou isso de volta na roda e eu ri tudo de novo. Abria o reader, ria de novo. Salvei a foto no computador e cada vez que trocava de janela e passava por ela, ria de novo. Assim, ad eternum, bem idiota, durante toda uma tarde.

Mas a vida não tá fácio pra ninguém, de modos que no fim do dia eu passei por uma situação deselegante e desatei a chorar. Chorei na rua, chorei no carro, chorei em casa, chorei no banho.

Saí do banho ca cara toda desfigurada, vermelha, esbugalhada. Fui até a mesa da cozinha, onde minha mãe e irmã tomavam um lanchinho e disse que não queria falar sobre o assunto, só ia ficar lá.

O assunto era a incapacidade das moça da minha geração na minha família de reproduzirem. Incapacidade psicológica, I mean, que ninguém tá tentando.

Aí eu lá, cas lagriminha escorrendo silenciosa, ouvindo minha irmã falar de adoção e blábláblá, quando ela solta “qualquer coisa, mãe, nem que seja um bebê tirado do lixo!”.

Gente, o que aconteceu só tinha graça vendo, porque eu parei de chorar imediatamente e tive um ataque de riso+falta de ar que ninguém entendeu nada. Compreende que as duas tavam lá no maior assunto dramático, eu na maior choradeira e de repente, RIZOS? Mas tanto, que elas começaram a rir junto sem nem saber do quê. E eu lá, sem conseguir me recuperar pra explicar.

Nisso, meu irmão surge, sem saber que eu estava chorando, achou que a cara toda vermelha e cheia de lágrimas era só de risada e me perguntou se eu já tinha registrado uma crise de riso pior que aquela em toda a história. E eu ria mais ainda.

Quando eu finalmente consegui parar de rir, em vez de explicar, eu peguei o celular e mostrei a tirinha pra todos, que continuaram me olhando sem entender nada.

Aí eu tive que explicar que quando eu ouvi minha irmã dizendo que pegaria um bebê do lixo, eu só conseguia pensar “pronto, agora eu vou ser a tia do caçambito”.

Fim.

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Caçambito... AHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHHA

AAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHA

HAHAHAHAHAHAHAHAHA AHAHAHA

HAHAHAHAHA HAHAHAHAHAHAHHA

HAHAHA

AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHA


AHAHHAHA

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

carta a alguém desconhecido



Olá!

Você não me conhece, mas sua casa está no meio meu caminho para o trabalho. Espero que não considere minha carta uma intrusão.

É que todos os anos a época da primavera é muito difícil pra mim. Eu tenho muitas alergias e tanto pólen faz com que eu tenha que tomar muitos remédios. Eles me deixam com sono e tanto sono me deixa mal-humorada.

Mas todos os dias, quando eu volto do trabalho, eu passo na frente da sua casa. E quando a primavera chega, crescem essas margaridas tão lindas que me fazem sorrir todas as vezes. Todos os dias.

E eu sempre espero um dia de sol pra parar em frente ao seu portão fotografar.

Esta foto é do ano passado. Eu tirei com uma câmera russa, por isso ela tem essa carinha de foto antiga.

Imprimi várias cópias dela, coloquei na internet, distribuí pra alguns amigos e todos sempre me dizem que ficam muito felizes ao olhar pra ela.

Queria que você também tivesse uma cópia.

Imagino que a carta de uma desconhecida possa parecer um pouco exagerada, mas eu queria agradecer a você por fazer esse canteiro, por essas margaridinhas. Queria dizer que elas deixam a rua muito mais bonita.

Com certeza, minha primavera fica muito mais feliz.

Obrigada,

Vanessa





quinta-feira, 24 de novembro de 2011

back to the fusca tales

01 sonho: fuscazul. só que não.

Alovose que acha que andar de carro e de taxi são coisas incompatíveis e muito curiosas: esse post pode ficar complicado pra você.

*****

Digo adeus à tão linda minivan, digo oi de novo ao fusca encantado. O.mesmo.bendito.fusca.encantado. Por um breve período de um ano, eu achei que nunca mais teria que ver aquele fusca novamente. Pois ele fez uma mitose e agora são dois fuscas beginhos na garagem, um deles sob meu domínio.

Até agora ele não me fez bullying. Qué dizê, ele não deixou de funcionar em nenhuma quinta (isso não é um desafio, hoje eu vou até o cafundó do judas de fusca, allah permita que ele se comporte), mas andar de fusca é um self-bullying que vôticontá.

Tipo parar em vaga paralela. Pelamordedeus, que coisa mais desagradável. Cê tem que calcular matematicamente todas as possibilidades de trocas de carros na sua frente e atrás, de modos que você não fique com tão pouco espaço na hora de sair que sejam necessárias 908 manobras. E não é que você seja mau motorista, mas o volante tem o tamanho de um cookie e você tem que rodar, rodar, rodar igual à Berenice pra fazer com que o movimento sëx aconteça.

Até lá, você já tem 8 torcicolos, uma escoliose e 12 nervos inflamados.

Hoje, por exemplo, eu parei numa vaga dessas.

Como eu sou muito inteligente, peguei a última vaga da rua, de modos que NINGUÉM possa parar atrás de mim e eu possa marlombrar tranquilamente. Tô eu lá trancando o automóvel, começo a ouvir uma buzina. Um psiu. Outra buzina, outro psiu.

Amigo. Se um dia você quiser dizer “morri de te chamar e você nem me viu” naquele dia que você não quer de fato me chamar nem me ver, trabalhe no fomfom-psiu. Nunca olho. Pode morrer fazendo, não vou olhar.

Aí o tio deu um grito: “ô, moça, empurra aí seu carro pra frente que eu quero parar atrás”.

AHHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHA

Não.

Beu abô, já ouviu falar de graus de liberdade? Nesse caso, já tava em menos um, eu já escolhi minha vaga e não.vou.mudar. Tá entendendo?

Até porque, veja bem. Tinha espaço na minha frente. Se ele não cabia na minha frente, não caberia atrás de mim se eu me movesse. Certo? Certo.

“Olha, tio. Não vou sair não. Depois você me prende pra caber aí atrás e eu nunca mais saio dessa vaga.”

O tio me olhou com lasers, mas olha minha cara de preocupada. Virei as costas e fui embora, ainda com tempo de ouvir uma pessoa dizer “se você não entra naquela vaga com direção hidráulica, ia querer que a moça saísse de lá de fusca?”. Hahaha fica a questã.

***

O legal de andar de fusca é o respeito. Nego te respeita tanto quanto respeita uma velhinha, é impressionante. A pessoa acha que pode cortar sua frente, que pode furar o vermelho enquanto você cruza o verde (quase matando você e um amiguinho à sua escolha, desculpa aê o stress alcançado), que pode ficar dando luz alta atrás de você, que pode te pedir pra mudar de vaga. É uma alegria infinita.

Aí que outro dia minha mãe me pediu pra deixar o fusca em casa e eu deixei. Quando eu voltei, ela falou pra ligar e dar uma buzinadinha.

O FUSCA ESTÁ COM BUZINA DE CAMINHÃO ♥♥♥♥♥

É muito amor na minha vida. Já matei uns 3 cortadores de preferencial do coração, consigo nem explicar como é divertido.

Porque babãe é assim: dá um fusca pra zoar com a minha cara, mas dá uma buzina poderosa pra compensar. E um alternador novo, que é pra bateria agüentar a pressão.

Tá certo que cada dia é uma surpresa, que ficar presa no trânsito por uma hora e meia faz você desejar que seus músculos derretam pra parar tanta dor (alô, maratona de curitola!), que se o vidro sobe, não desce, se desce, não sobe, mas qualquer coisa com uma buzina paralisante já faz meu dia.

FOOOOOOOOOOOOOOOOOM.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

eu não quero mais escrever

Ultimamente só tenho vontade de reclamar, sabe? PRA QUÊ, não é mesmo? Nunca me conformo com aquela história de que uma vida cocô leva à inspiração. Minha vida tá um cocô e eu só tenho ficado inspirada a lavar roupa e passar aspirador.

Aí assim. Semana passada dois dos meus melhores amigos estavam se casando, um com o outro. Passamos semanas planejando mil coisas e uma semana antes do casamento, a noiva me avisa que eu vou fazer um discurso. Uma semana. U.ma.se.ma.na. Sete dias em que tinha o mundo pra resolver, nem meu vestido estava pronto ainda e eu tive que escrever um discurso.

Ficou um lixo.

Tanto no pessoal pessoa quanto no profissional ô loco eu só falo abobrinha o tempo todo, todos esperava um stand up comedy ali no momento. Só que:

- meu público não é a mãe e a família das pessoas;

- eu não gosto de falar quando o negócio parece de fato um público;

- eu não sei escrever sob pressão.

Sempre achei meio bocó esse povo do “ui, trabalho tão melhor na deadline, adoro pressãozzzzz” se mata, pfv?

Aliás, sabe uma coisa que me deixa mega revolts? A sociedade achar que pode mandar na hora que eu vou almoçar. HAHAHAHAHHA ME DEIXA? SAI? Eu almoço na hora que eu quiser. No dia em que existir a vanessalândia, não vai mais existir ~hora do almoço~ e os restaurantes vão ter que largar de palhaçada e abrir num horário mais amplo. Hora da comiiiidaaaaa. Quer bacon, macarrão, ovo frito? Vai num restaurante. Quer pão, café, requeijão? Vai na padaria.

POR QUE EU NÃO POSSO COMER QUANDO DÁ FOME, SOCIEDADE?

Eu não posso dormir quando dá sono, eu não posso acordar quando o sono acaba, eu não posso ter vida entre 8h e 18h, eu não posso almoçar às 3 da tarde.

Coisa chata.

*****

Voltando às minhas habilidades literárias inexistentes. Quem acompanhou os anos de colaboradora da capricho sabe: não há qualidade de escrita que sobreviva a prazos, limite de caracteres, tema definido e público específico.

Aí os noivos falaram “ah, eu jurava que ia morrer de rir no seu discurso” e POF. Eu não quero escrever nunca mais na vida.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

in-go-al

~hipster~


Outro dia eu estava tendo efeitos colaterais pelo uso de medicamentos pesados (cê jura) e larguei mão de todas as minhas quatrocentas e noventa e vinte obrigações e fui ver TV.

Acontece menos que a passagem do cometa Halley.

Pois eu não sei o que me levou a colocar a TV na GNT (sério) e deixar por lá. Pra minha sorte, os programas eram de moda. Pro meu azar, não tinha o aviso de não tentar reproduzir em casa.

Julia Petit, disk tem blog e tudo, nunca vi nem comi só ouço falar, tava apresentando um programa. Num dos blocos, ensinava a fazer coisinhas diferentinhas nas unhas.

Acho que eu devo dizer que eu gasto fortunas na manicure, porque nasci sem o gene da coordenação motora. São milhões e milhões de reais que eu sempre soube que eram necessários, só não sabia que era tanto.

Escolhi a unha que parecia mais bobinha de fazer, a unha marmorizada. Não entendi o nome (num tem cara de mármore, meus amô), mas achei bonitinha e fui lá.

Gente, olha. Primeiro eu tentei com quatro cores de esmalte: cinza, vermelho, azul e rosa. Ficou bonito, mas eu consegui transformar uma unha numa francesa ao avesso e outra num reboque mal feito. Minha irmã sugeriu colocar duas cores claras e eu fui de rosa e madrepérola e aí deu certo.


“““““““““certo”””””””””

De longe pode até parecer que foi uma boa ideia, mas de perto tem bolhinhas de água estouradas, nata embolada de esmalte, pedaços falhados que escorregaram de unhas que ficaram sem base e 30kg de esmalte debaixo das unhas, que não há acetona que tire. Uma graça.


Mas o incrível é que já estamos no terceiro dia e a unha ainda não se desfez. Estou chocada porque é a primeira vez que eu faço minha própria unha na vida e achei que não fosse durar 10 minutos.

quilinda

Agora é treinar pra ficar fazendo a adolescente biruta e trocar de dois em dois dias. Heh.

Fica a dica aí pra senhora amiga dona de casa, que é mais coordenada que eu, tem mais dó do dinheiro que eu e tem menos o que fazer que eu.

Os dois esmaltes são da Colorama.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

desorientada

as coisa no retrovaisor tão mais perto que parece kkk

Agora virou ~modinha~ que toda primavera eu tenho que tomar esse remédio que me deixa muito bocó. Tive que escrever a frase anterior 8 vezes, até todas as palavras estarem nos lugares certos, por exemplo. O negócio me deixa confusa, esquecida, biruta, de mau humor, chorona, distraída, sem fome, sem sede, sem sono, sem nada. No limbo.

Mas eu consigo respirar e, aparentemente, essa é a única coisa realmente importante na vida.

De modos que assim como se faz com idosos, gestantes e pessoas portadoras de necessidades especiais, todos têm que ser bem legais comigo de setembro a março. RISOS.

Falando em gestantes e em breaking outs, o universo achou de bom tom colocar pelo menos uma grávida em cada um dos meus círculos sociais. Já reparou como a gente tem o dom de respirar e contar até mil de trás pra frente quando tem uma grávida por perto? Todos é bonzinho com grávida, até a pessoa maluca, quimicamente alterada por medicamentos prescritos. Aí eu fico aqui parecendo calma, mas indo limpar a baba de meia em meia hora.

Vou arranjar uma gravidez psicológica, pra ver se todos fica bonzinho comigo.

*****

Olha, esse remédio me deixa tão fora do ar que eu tava ali reavaliando o mesmo período do ano passado e olha. Num tem condição. Eu deveria estar trancada numa instituição até essa marola passar.

*****

Este remédio específico não me manda ficar longe de máquinas pesadas, tipo carro, por exemplo. De modos que eu tenho dirigido normalmente. E olha, se um dia eu me peguei imaginando que estava a uma minivan e quatro filhos de virar uma soccer mom, meua mô, agora não falta mais nada. Don’t ask.

Pois aí que eu tenho um hábito adquirido geneticamente, que é o de buzinar. Se no mundo eu preciso falar e não há meio de falar com os amiguinhos de pista (kkk), a buzina é minha única forma de conexão com os outros motoristas e eu buzino mêmo, tá no carro é pra usar, ASSIM COMO SINAL DE SETA, FICADICA. (Ques tanto de vírgola.)

Se a pessoa faz bobagem no trânsito, o outro amiguinho tem obrigação MORAL de buzinar. A pessoa tem que saber que Deus alguém tá vendo e acertar na próxima.

Aí vem o cerumano do sëx masculino fazer cagada na minha frente. Quiqui eu posso fazer? Descer a mão na buzina, né? Quiqui o primata equilibrado faz? Olha no retrovisor e faz um gesto cas mão pra insinuar que eu seja louca.

Aí eu olho pro retrovisor dele e faço um gesto ca mão também, de que ele é barbeiro. Aí ele fica locão e me mostra o dedo do meio. Sem perder a calma, eu faço um gesto com dois dedinhos, mostrando o tamanhinho e perguntando se procede.

Se os moço tão orgulhoso dos seus pipi fazem um sinal gráfico de pipi como se fosse uma coisa ruim, a gente só conclui que ele não sabe fazer a mágica, né?

Aí o moço estressa que foi chamado de pipi pequeno e transforma seu carro num tênis de luzinha de criança hiperativa e freia tanto, dá tanta ré (ops) e liga até o sinal de seta, que o bagulho pisca a ponto de te dar um ataque epilético.

E você, que está super calma (de verdade) atravessada no cruzamento esperando o homem das cavernas possuído superar uma buzinadinha, só olha no retrovisor dele de novo, rindo, diz movendo os lábios lentamente e apontando a rua perpendicular, com carros esperando pra passar: “baaaar-beeeei-roooo”. Ni qui ele faz o que deveria ter feito desde o princípio, acelera e vai embora.

Nesta noite as moça pode tudo dormir sossegada, porque taí um pipi pequeno que caiu pelas próximas 24 horas. De nada.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

like a mulher de malandro

tô a cara da Bonnie nessa fota ô num tô?

Eu tenho uma conta num banco ruim. Aí o amiguinho me pergunta a razão pra isso e eu respondo: eu trabalhava nesse banco ruim. Não só eu tenho uma conta num banco ruim, como eu tenho conta na PIOR agência, no PIOR lugar da pobrelândia, mais comumente conhecida como centro da cidade. Aí o amiguinho me pergunta de novo e eu respondo: eu trabalhava NESSA agência, obviamente.

Eu era uma criança, era minha primeira conta, primeiro trabalho, primeiro tudo. Comé que eu ia saber o tamanho da furada? E, trabalhando lá, eu não chegava realmente a notar como era caído o processo todo. Eu tinha crachá, eu tinha privilégios.

Um dia eu saí de lá e acabei mantendo essa conta só porque era mais fácil que fazer tudo de novo, mas ÓLIA, paciência tem limite nessa vida.

*****

O inconveniente de manter uma conta num banco ruim na pobrelândia é o tratamento. Eu não acho que maus tratos com o correntista sejam justificados em qualquer nível social, mas na pobrelândia nego abusa. Trocentas portas conta-gado que você tem que passar até entrar na agência, fora os brucutu xucro (redundância proposital) que ficam se metendo na sua vida, perguntando POR QUE VOCÊ SE ACHA DIGNO DE PASSAR PELA PORTA SAGRADA DO ESTABELECIMENTO.

Meia hora só pra conseguir entrar no inferno.

E, gente, eu não vou deixar meu celular na caixinha do banco da pobrelândia, desculpaê. A porta conta-gado vai travar, no matter what, então eu não vou tirar. Aí depois da vigésima travada, o segurança vai me fazer passar pelo constrangimento de revistar minha bolsa, o que ele faria mesmo que meu celular não estivesse lá e eu finalmente entrei no banco. Ouço o coro de Aleluia nesse momento.

*****

Acontece que mesmo com toda essa “““““segurança””””” meu cartão foi clonado, maizomeno nessa mesma época do ano passado. O mais incrível foi que a amada instituição bancária queria colocar a culpa em mim. HAHAHAHHAHAHA. Que dó.

Primeiro que eu sou inteligente (ah vá, a maioria dos correntistas do universo é) e não enfio meu cartão em qualquer maquininha por aí. Fora que eu tenho toc, autismo, paranóia, hipocondria (tudo imaginário, mas tenho) e só freqüento os.mesmos.estabelecimentos. E, por último, eu não uso caixa eletrônico, nem os 24h, nem os do próprio banco. Eu só uso a agência (a de rico, perto do meu lar, que eu só vou na pobrelândia em caso de extrema necessidade) e a lotérica. Sempre a mesma agência e a mesma lotérica.

Como se tudo isso não bastasse, quem clonou meu cartão ainda me fez o favor de me roubar em horários em que eu comprovadamente não poderia estar fazendo isso, tipo dentro de avião, sacoé. Dona instituição bancária subestima a inteligência dos amiguinhos.

Má é claro que tiveram que me devolver meu rico dinheirinho. Não sem antes me tratar como idiota irresponsável por alguns dias. Quando ficou comprovado que não foi minha culpa mesmo, minha paciência acabou. A gerente ainda quis vir com liçãozinha de moral e eu perguntei se ela sabia contar.

- claro que sei.

- então conta até três, que é o tempo que você tem pra parar com o discurso, antes que eu tire todo o meu dinheiro dessa agência e, QUIÇÁ, deste banco.

Calou a boca, né? Me trata como se eu fosse uma princesa desde aquele dia e até chip colocou no meu cartão de débito. Vai ganhar uma estrelinha.

*****

Então tem a lotérica, né? Cê já fez saque em lotérica, caro amigo leitor? É um parto de gêmeos sentados.

Cê dá o cartão, a identidade, a fia olha seu cartão AND sua identidade, vê se bate os nome, vê se bate as fuça, você pede os dinheiros, digita senha, digita data do aniversário de trás pra frente, confirma os dinheiros, confirma que vende a alma, confirma que matou Odete Roitman, a fia anota o número da sua identidade no comprovante da lotérica, conta seus dinheiros, te dá seus dinheiros, o resto todo e fim. BEM RÁPIDO, só que ao contrário.

Como eu vou sempre à mesma lotérica, as tia tudo só pega minha identidade pra anotar o número mesmo e fica tudo mais rápido.

Só que ontem tinha a PESSOA NOVA.

Como eu odeio pessoa nova. Nego vem com aquela camiseta “em treinamento” e eu tenho vontade de morrer só um pouquinho. Eu compreendo a necessidade de treinar ozotro, mas vai treinar com a sua vó, não vem treinar comigo não.

A pessoa nova pegou meu cartão e minha identidade e ficou olhando pra minha cara. Eu disse quantos dinheiros eu queria e ela permaneceu olhando pra minha cara. Resolvi olhar pro teto pra dar um tempo pra pessoa e concomitantemente orar pra Jesus, quando a mulher saiu do estado catatônico e fez a seguinte questã, em tom ameaçador:

- moça, de quem é esse cartão?

Ni que eu respondi com toda finesse que me é peculiar:

- da minha vó.

Mentira. Eu só pensei. Respondi que era meu mesmo.

- é que essa foto tá meio... diferente.

- o nome disso é passagem do tempo.

Tudo bem que eu tive um pequeno problema com a atividade das minhas melaninas nos últimos anos, mas não é pra tanto.

A moça, muito da incrédula, virou pro lado e fez a coisa mais mal educada que eu já vi em toda a minha vida. Começou a falar com a coleguinha mal mexendo a boca, como se eu fosse Bonnie Parker, fazendo o maior drama.

- Neide, ô Neide olha a cara da mulher que tá tentando fazer saque com essa identidade!!!oneoneONE

Neide tá acostumada cas minhas fuça, mandou a mulher parar de palhaçada e fazer logo o saque.

- mas, Neide, cê não tá entendendo, olha a cara dela.

Quem me conhece sabe que eu não faço piti. Eu fico nervosa, eu quebro tudo depois que saio do ambiente, mas não faço piti. Só que a mulher tava me tratando como bandida e o que se seguiu não foi bonito.

- como é que é? COMO É QUE É? Você tá me tratando como bandida? Na hora de clonarem meu cartão e sacarem uma fortuna da minha conta NUMA LOTÉRICA, o infeliz não foi tratado como bandido. Na hora em que o ladrão sacou meu dinheiro SEM a minha cara e SEM meu documento, ele conseguiu levar um milhares de reais. Eu te dou meu cartão, eu te dou minha identidade e você vai fazer essa palhaçada? Por causa de cem real? TOMAQUIMEUSDOCUMENTOTUDOEANDALOGOCOESSAMERDAAAAAA.

E taquei tudo que era documento com foto na cara dela.

Aí a moça fez meu saque com muita agilidade, sob os olhos atentos de umas 4 funcionárias, 12 clientes e 3457768 transeuntes.

Mas sabe, a culpa é minha.

Sou eu que deixo esse banco MARAVILHOSO me tratar dessa forma e não arranco meu dinheiro todo de lá. Eu mereço.

No dia em que eu criar vergonha na cara e ganhar dinheiro igual gente grande eu abro uma conta num banco chique de blêblêblê e serei tratada com a mesura que eu tenho direito.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

falhando como adulto



Acho injusto eu ter que ser adulta só porque eu sou velha. Cêis num acha? Eu acho. E o inconveniente de trocar de faixa etária é ficar com aquelas crises mongol advanced “oh my god, oncotô, proncovô?”.

Por exemplo. Eu achei que seria doutora antes dos 30. Formada aos 22 e com 3 especializações antes dos 25, quem não acharia? Mas aí, eu vanessei e enjoei das logística. E fui olhar o tempo passar.

Porque não é como se eu tivesse sonhado estudar administração. Nem eu consigo ser assim tão boring. No segundo ano do ensino médio eu fiz tudo que era vestibular que você pode imaginar, só pra provar que era inteligente. Cheguei a passar em quarto lugar em medicina, veja só você. Não era burrice, era falta de vocação mesmo.

No fim do ensino médio tudo desandou, até direito eu pensei em fazer – só o Senhor sabe como eu me manteria acordada nos cinco anos seguintes – e tudo deu errado, só que ao contrário. Administração pra mim foi nas vibe de casamento indiano: você faz porque a família manda pede, adiciona umas pitadinhas de boa vontade e vai deixando pra garrar amor no processo. No fim você tá acreditando que os astros convergiram pra você ter uma vida auspiciosa e tudo é lindo, tudo é amor, nothing hurts.

Mentira.

O encanto passou depois de dois anos que eu estava formada, quando eu virei funcionária pública. Fim.

Mentira.

Todo ano eu penso em seguir meus sonhos I believe I can flyyyy, começo o processo pra fazer mestrado em letras (só maluco pensa em fazer outra faculdade depois dos 30. OI, MÃE.), mas essa gente das arte não tem amor no coração. É muito difícil ser aceito quando se veio não só das social apricada, mas de uma blublublu business school mlémlémlé. Aí eu desisto e tento no ano que vem de novo e repete. Ad eternum.

*****

Minha vida social ecsiste na mesma proporção em que eu me submeto à vontade alheia. Impressionante. Isso meique é um problema da pessoa solteira aos 30. Da pessoa solteira SEM pretensões amorosas. Da pessoa solteira, SEM pretensões amorosas e que não acha ““““balada”””” uma coisa válida na vida. Porque aí você está entre suas amigas piriguetes que ainda aceitam o mundo onde você passa por bolos de pessoas e babacas pegam no seu derriê na sua mão como se não houvesse amanhã. E do outro lado estão todos os casais do mundo, que automaticamente passam a ter 90 anos e só querem fazer coisas de gente velha. AND que inclua necessariamente a outra metade do seu ser. Não dá pra sair só com as meninas, não dá pra sair só com os meninos. Onde já se viu deixar meu chuchuzinho em casa?

Credo.

*****

Vida amorosa aos 30 é uma coisa chamada limbo. Porque ou você já achou o velhinho de 90 anos pra chamar de seu ou você está em uma cilada, bino. A faixa aceitável está num desvio padrão de cinco pra menos e dez pra mais. Pros menores de 25 eu não tinha paciência nem quando estava lá. Os maiores de 40 eu ainda não estou preparada pra encarar.

Nessa faixa bonita de idade estão todos os homens comprometidos do universo. Os que não são comprometidos, são gays (e comprometidos). Os que sobram são os pretensos Charlie Harper, que arrotam (e sonham que têm) cabelo bom, modelos, casa na praia e dinheiro. Mas na verdade estão carecas, barrigudos, pegando vadia no bar da Brahma e se atracando com ela por lá mesmo, ou no quarto-e-sala numa vizinhança duvidosa. E se vestindo mal.

Todos são feios.

Gente, como homem nessa idade é feio, Jesus amado.

Se você achar um boy magia e achar que ele tem 30, ou ele tem 25 e tá acabado, ou ele tem 40 e, amiga, cê acertou o jackpot. CORRE.

Cê vê. Entre os cafuçu magya que eu conheço tem Creiço. Vintenove anos, casado, usa barba e bermuda bad boy. Com esse figurino e esse nome, eu não teria coragem de apresentar pra ninguém, de qualquer forma. Mas Creiço é casado e há boatos de que a marida observa de perto.

Mr. E., trintequatro anos, bofe xucro, de QI imenso e total falta de cultura (como diz Katylene, como isso é possível? A ciência explica? Veja hoje no globo repórter), feio que é um susto no meio da noite, taí, noivo. Noiva de qualidade duvidosa, é verdade, mas é mais um bofe de aliança no dedo.

E a última opção, mais recente, um boy sem magia, trinteum anos, de voz mansa e cílios que possuem vento próprio e eu tenho certeza que neste exato momento estão causando um furacão na Nova Zelândia, da noite pro dia, aparece de aliança. Já era casado, mas ela tava quebrada, estragada, polindo, sei lá. Fiquei tão em choque quando descobri que o cafuçu em questã era comprometido, que perdi um pouco mais da audição e capacidade cognitiva.

Mais do que despeito, a mensagem aqui é: até os feios estão ocupados, amiga dona de casa. Se não sobram nem os feios, sobra o que?

Babaca.

Babaca tá cheio. Prefiro ficar sozinha.

*****

Falando em ficar sozinha, nem pra sair de casa eu tenho competência. Pensei nisso umas oitocentas e vinte e doze vezes neste ano, mas sempre acho um argumento que me impede.

E o primeiro bocó que vier falando “claaaaaro, comida pronta, casa limpa, cama arrumada e cuidadinho da mamãe, até eu” vai levar um grampeador nas fuça. Porque quem faz tudo issaê sou eu. Lavo, não passo, porque não sou obrigada, se na minha casa tem ferro e [pausa pra perguntar pro irmãozinho como chama aquela mesa de armar onde bota a roupa] tábua de passar, eu não sei onde eles moram, cozinho marabidjosamente bem, passo aspirador, esfrego, tiro pó, e tudo mais que você possa imaginar.

É que eu sou jovem demais pra morar sozinha.

*****

Finalmente, o álcool. A última alternativa da pessoa desesperada. Não bebo, não gosto e não gosto de quem bebe.

:)

Se você é do time que diz que do gosto ninguém gosta, que o bom é o efeito, então, né? Babaca.

E aí eu vou semana após semana pro bar, ficar olhando todo mundo encher a cara. E aí eu faço festa e tenho que morrer de pobreza, pra pagar birita pros outros. Eu quero ir num lugar aleatório e a primeira pergunta que me fazem é “qual é a cerveja que tem lá?”. Meua migo, eu só quero saber se lá tem coca ou Pepsi, cê tá entendendo? Eu quero saber se o suco de abacaxi é de fruta mesmo ou aquelas polpinhas congeladas. Eu quero saber se a bolinha de aipim tem recheio de queijo ou carne seca.

Porque olha, além de tudo, eu não como carne.

I regret nothing.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

I probably just need a nap


Eu não sei o que veio primeiro. Não sei se eu seria assim de qualquer forma, não sei se é culpa de como minha vida aconteceu. O caso é que eu não pertenço.

Minha família se mudou de casa tantas vezes que eu já até perdi a conta. Acho engraçado alguém dizer “morei minha vida toda nesta casa blábláblá” porque eu nem imagino o conceito. Meu atual lar é um monstro remendado de móveis feitos pra cá ou pra lá, que nós fomos amontoando e carregando junto nas costas.

Eu nunca estudei por mais de dois anos em uma escola. Eu bati o incrível recorde de quatro escolas em um ano. E, morando numa cidade do tamanho de São Paulo, quando você sai de perto da pessoa, você sai da vida dela. Pelo menos enquanto você não tem autonomia o suficiente pra ir sozinho nem até a padaria.

Já mudei de casa, escola, cidade, estado, só falta mudar de país. Eu coleciono pessoas que ficaram pra trás.

Não sei se por necessidade ou por gênio ruim, eu deixo que as pessoas vão, ué. Foi-se. Nunca mais terei notícias, mesmo num mundo com email aí, na mão. Depois de um tempo ninguém tem mais o que dizer.

Eu sempre começo relacionamentos “amorosos” avisando ao coleguinha pra que não se apegue, porque eu não vou. Eles nunca acreditam e é uma pena, mas eu fui programada pra não me apegar. Não posso afirmar que jamais acontecerá, mas eu sei dizer quando não vai acontecer. E não acontece.

O que eu deveria é começar TODOS os relacionamentos assim. Pessoa, não se apegue, porque eu não vou ficar. Um dia eu não vou mais atender ao telefone, um dia eu não vou mais aceitar seus convites, um dia você não vai me ver mais. Porque eu sou o típico homem babaca: acho mais conveniente desaparecer que explicar que não é você, sou eu. Eu que cansei de você.

*****

Eu nunca morei tanto tempo no mesmo lugar como agora. Na mesma cidade, na mesma casa. Trabalhando no mesmo lugar, na mesma sala, com as mesmas pessoas. Comprando na mesma padaria, pegando o mesmo ônibus, andando pelas mesmas ruas. Nunca. E de repente me dei conta de que não fui mesmo feita pra isso.

Meu espírito é nômade.

A paisagem me cansa e eu faço um caminho mais comprido, só pra ver uma rua diferente. As pessoas me cansam, até aquelas que eu só vejo no ônibus das 8:45h, então eu espero no portão pra só pegar o ônibus das 8:55h, porque aí eu não conheço ninguém. E tenho a capacidade de ficar emburrada quando eu vejo que o cara da roupa esquisita também se atrasou e vai me atrapalhar no meu plano.

Eu não sei o que é aqui, mas eu sei que eu não quero mais.

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Às vezes, muito raramente, eu me acostumo. E por um momentinho eu me deixo iludir e acabo deixando escorregar um pensamento que diz “encontrei meu lugar”. E esse pensamento é quase uma profecia de que tudo está pra desandar. É quando eu fico confortável que a cigana oblíqua e dissimulada (muito dissimulada, faz com que os outros acreditem que eu gosto de estar) que mora em mim chacoalha o vestido de 12 camadas e grita: SAI DAÍ. AGORA.

Porque a cigana que mora em mim sabe que ao menor descuido de gostar de alguém, de pertencer a alguém, faz com que esse alguém te quebre todo. As pessoas só te querem enquanto você voa, a graça toda se perde quando você pousa.

Estou pousada faz tempo demais. As pessoas não acreditam que eu vá voar de novo, que eu posso desaparecer da vista a qualquer momento.

O que elas não sabem, é que eu já voei.

Minha imagem pode parecer estar ainda por aí, mas é só o que se imprimiu na sua retina. De verdade eu já estou longe.

*puf*

sábado, 17 de setembro de 2011

envelhecendo

Porque 31 é velha pra cacete.

Quando eu tinha 17 anos, minha avó me chamou pra conversar. Minha avó tinha 203 netos, nunca imaginei o que poderia ser importante pra conversar só comigo. Como eu estava velha e entrando pro caritó, ela queria me passar ensinamentos milenares de como conseguir homem. Não funcionou.

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Em 2002, uma vovó do meu convívio, mas que não é minha, me deu uma toalha de presente. Pra ir começando a fazer meu enxoval.

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Meu bisavô jurava que meus dentes eram dentadura. “Ninguém nasce com os dentão assim”.

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Minha bisavó não tinha rugas. Tinha o rosto molinho e cheio de pintinhas, mas não tinha rugas. E tinha o tom de verde mais lindo que alguém pode ter no olho.

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Minha outra bisavó roubava meu cobertor quando eu era bebê, porque ela era velhinha demais e não entendia o problema.

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A gente tinha um jardineiro bem velhinho, o Seu Eurides. Orides? Nunca sei. Sempre que eu entrava em casa, eu gritava “oooooooi, seu Eurípedes!”. Ele corrigia no começo. No fim, ele só ria com a carinha de velhinho e balançava a cabeça. Seu Eurípedes era tão fofinho que o cachorro da minha casa resolveu ir morar com ele.

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Eu e minha irmã já nos demos os apelidos de Ervilha e Palmita, porque meu pai diz que a gente se parece muito (no jeito de conviver) com a minha avó, mãe dele, e a irmã dela. Elvira e Palmira.

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Outro dia eu estava no shopping com a minha amiga Ana Chérolaine - que vai se casar e de quem serei madrinha - olhando vestidos cinza, pra mim mesma pro próprio casamento dela. Ana estava me perturbando, mostrando os vestidos mais feios da galáxia.

- Ana, mas que vestido de velha!

Obviamente tinha uma senhorinha atrás de mim. Eu chutaria entre 60 e 70 anos.

- Olha, eu concordo. Eu sou velha, mas nunca usaria esse vestido.

- A senhora não acha que esse modelo deixa até uma menina com cara de velha?

- Eu acho. Eu nem uso cinza, eu prefiro color block.

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Num guento gente que apresenta com seu ou dona como se fosse parte do nome. Como é o nome do senhor? “Seu Zé”. Como é o nome da sua mãe? “Dona Maria”. Num guento. NUM GUENTO. Meu sonho de velha é me apresentar como dona Vanessa.

DONA VANESSA, acho que vou começar já.

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Velho sente saudade, né?

E do buraco onde eu morava quando seu Eurípedes era jardineiro, eu só sinto saudade do jardim que ele cuidava. O jardim que tinha 53 árvores. Que eu contava pra todo mundo que tinha. Por um tempo, o jardim teve 54 árvores. Mas meu cachorro (o novo, não o que foi morar com seu Eurípedes) se afeiçoou à mangueira que eu plantei. Se não estivesse mordendo as folhinhas, estava usando de poste e a mangueira morreu. Hahaha.

Beijos,

Dona Vanessa.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

delírios de consumo de vanessa n.


Depois que eu comecei a ganhar dinheiro na vida, eu me tornei uma pessoa rica. Deve ter algum nível de toc no meu cérebro, de modos que eu sempre administrava a coisa toda com um nível de maluquice que deixava todo mundo tonto. Não vou explicar como eu juntei uma fortuna ganhando trezentão por mês, mas eu juntei.

Aí gastei tudo de forma que não vem ao caso e comecei de novo.

E gastei de novo e juntei de novo mais duas vezes.

Até o dia em que eu juntei muitos dinheiros (pra uma funcionária pública, reflitam) e resolvi que eu ia gastar.

E fiquei pobre.

Concluí ontem que estava pobre, na realidade.

Chegando em casa com 438 sacolas de coisas que eu absolutamente não precisava.

Tá certo que isso é marketing one-o-one, na verdade, precisaaaar a gente não precisa de muita coisa. Mas tudo tem limite nessa vida, não é?

E eu estava carregando um guarda-chuva de 80 dinheiros, um porta-guardanapo de bigode – e eu não tenho nem casa, gente, vou fazer o que com um desses? – uma caneca com estampa de teclado de piano, um relógio de parede e uma calça jeans, que eu não tinha plano NENHUM de comprar quando saí de casa.

Enquanto administradora formada numa business school, I'm embarrassing myself. Achei que era hora de parar.

Como eu só consigo exorcizar as coisas escrevendo, azar de você que me leem e terão que partilhar o sofrimento comigo.

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Eu classifico minhas compras estúpidas em dois tipos. Aquelas que vão fazer com que eu me arrependa e aquelas que super valem a pena.

Me arrependo, por exemplo, da fortuna que gastei numa bomber jacket, ONDE EU ESTAVA COM A CABEÇA, que não usei nenhuma vez fora da minha casa. Me arrependo sempre que arrisco e compro sandálias. Me arrependo do par de tênis marrom (?). Da calça skinny. Aí fico lá sofrendo e doando pras pessoas.

Não me arrependo do tênis de florzinha que super era mais caro do que qualquer tênis deveria custar, dos 438 guarda-chuvas estampadinhos (todos sabe que dá pra viver com um guarda-chuva preto, funciona igual, mas QUEM QUER?), da colcha de patchwork pra minha cama.

Mas tem tanta coisa mais importante nesse mundo, não é?

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A intenção é, se eu não desistir, me confrontar com as tralhas que eu compro só porque sim e parar de ser pobre e voltar a ser rica.

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CAPÍTULO 1

Saí de casa pra fazer exames, almoçar e ir ao cinema. SÓ.

Voltei pra casa com:

- um presente;

- um guarda-chuva;

- um porta-guardanapo;

- uma caneca;

- dois kit-kats;

- um sachê aromatizante;

- uma calça jeans.

Fora o presente, eu não precisava de mais nada.

Aliás, um parêntese. Eu estou uma balofa. E embora isso seja um problema com doenças e remédios e regimes não possam fazer nada por mim (acredite, já foram consultados nutricionistas, nutrólogos, endocrinologistas, mágicos, pais de santo e psicólogos, tô lascada mesmo), nunca é demais comer de menos, não é? Vamo regular comida também, moçada!

Guarda-chuva

Tenho uns 10, eu acho. De tudo quanto é estampa. O mais caro tinha sido um de bigodes, da Zara. Aí eu vi esse da Imaginarium marabidjoso, que muda de cor quando molha. Não resisti.

Porta-guardanapo

O que uma pessoa que não tem cozinha quer com um porta-guardanapo? Não sei. Mas ele é de bigode (quando foi que essa mania de bigode começou? Tenho uma camiseta de bigode que NUNCA usei porque a manga é medonha, olhaê a conta...) e provavelmente vai virar porta papel de recadinho.

Caneca

Eu tenho tanta caneca que fez com que meu pai criasse a lei nunca cumprida que proíbe a entrada de novas canecas na minha casa. Vou ter que esconder essa no meu quarto ou fingir que ela está lá HÁ ANOS, se ele perguntar.

Kit-kat

Alovose que trouxe isso de volta ao braziu: não sei se agradeço ou choro. Felizmente ainda não foi o reeses cups, porque olha. Mas assim, um só não tava bom? Gordo é uma desgraça. Lado positivo (maomeno): comprei dois e só comi um, enquanto estava no cinema.

Sachê aromatizante

Comprei pra minha mãe, juro.

Calça jeans

Era um jeans escuro, de cintura média, flare. SABE QUANTO TEMPO DA MINHA VIDA EU ESPEREI POR ESSE DIA? Adiós, bitches skinnies, adiós cintura baixa, adiós jeans claros. Essa calça me fez chorar glitter e eu comprei. Não tinha como evitar. Mesmo eu tendo uma base dumas 35 calças jeans.

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Quantos dinheiros eu gastei nisso?

201

Quantos dinheiros eu poderia ter economizado?

Considerando que a calça e o presente eram, digamos, necessários: 116.

Considerando que a calça não era necessária coisa nenhuma: 166.

Ou seja, vamo pra rehab, né?

Ficaqui o auto lembrete pra gastar menos da próxima.

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Epílogo

É bem capaz que eu comece a computar “eu queria ter comprado blá que custava bláblá, de modos que economizei blé”. Vai veno.

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Para fins de organização (toc imaginário, oi), from now on, os posts gastadeiros ficarão aqui: já fui rica

Beijo, brigada, força pra mim e que eu junte meu primeiro milhão antes dos 30. KKKKKKKKKKKKKKKKKK