quinta-feira, 29 de setembro de 2011

falhando como adulto



Acho injusto eu ter que ser adulta só porque eu sou velha. Cêis num acha? Eu acho. E o inconveniente de trocar de faixa etária é ficar com aquelas crises mongol advanced “oh my god, oncotô, proncovô?”.

Por exemplo. Eu achei que seria doutora antes dos 30. Formada aos 22 e com 3 especializações antes dos 25, quem não acharia? Mas aí, eu vanessei e enjoei das logística. E fui olhar o tempo passar.

Porque não é como se eu tivesse sonhado estudar administração. Nem eu consigo ser assim tão boring. No segundo ano do ensino médio eu fiz tudo que era vestibular que você pode imaginar, só pra provar que era inteligente. Cheguei a passar em quarto lugar em medicina, veja só você. Não era burrice, era falta de vocação mesmo.

No fim do ensino médio tudo desandou, até direito eu pensei em fazer – só o Senhor sabe como eu me manteria acordada nos cinco anos seguintes – e tudo deu errado, só que ao contrário. Administração pra mim foi nas vibe de casamento indiano: você faz porque a família manda pede, adiciona umas pitadinhas de boa vontade e vai deixando pra garrar amor no processo. No fim você tá acreditando que os astros convergiram pra você ter uma vida auspiciosa e tudo é lindo, tudo é amor, nothing hurts.

Mentira.

O encanto passou depois de dois anos que eu estava formada, quando eu virei funcionária pública. Fim.

Mentira.

Todo ano eu penso em seguir meus sonhos I believe I can flyyyy, começo o processo pra fazer mestrado em letras (só maluco pensa em fazer outra faculdade depois dos 30. OI, MÃE.), mas essa gente das arte não tem amor no coração. É muito difícil ser aceito quando se veio não só das social apricada, mas de uma blublublu business school mlémlémlé. Aí eu desisto e tento no ano que vem de novo e repete. Ad eternum.

*****

Minha vida social ecsiste na mesma proporção em que eu me submeto à vontade alheia. Impressionante. Isso meique é um problema da pessoa solteira aos 30. Da pessoa solteira SEM pretensões amorosas. Da pessoa solteira, SEM pretensões amorosas e que não acha ““““balada”””” uma coisa válida na vida. Porque aí você está entre suas amigas piriguetes que ainda aceitam o mundo onde você passa por bolos de pessoas e babacas pegam no seu derriê na sua mão como se não houvesse amanhã. E do outro lado estão todos os casais do mundo, que automaticamente passam a ter 90 anos e só querem fazer coisas de gente velha. AND que inclua necessariamente a outra metade do seu ser. Não dá pra sair só com as meninas, não dá pra sair só com os meninos. Onde já se viu deixar meu chuchuzinho em casa?

Credo.

*****

Vida amorosa aos 30 é uma coisa chamada limbo. Porque ou você já achou o velhinho de 90 anos pra chamar de seu ou você está em uma cilada, bino. A faixa aceitável está num desvio padrão de cinco pra menos e dez pra mais. Pros menores de 25 eu não tinha paciência nem quando estava lá. Os maiores de 40 eu ainda não estou preparada pra encarar.

Nessa faixa bonita de idade estão todos os homens comprometidos do universo. Os que não são comprometidos, são gays (e comprometidos). Os que sobram são os pretensos Charlie Harper, que arrotam (e sonham que têm) cabelo bom, modelos, casa na praia e dinheiro. Mas na verdade estão carecas, barrigudos, pegando vadia no bar da Brahma e se atracando com ela por lá mesmo, ou no quarto-e-sala numa vizinhança duvidosa. E se vestindo mal.

Todos são feios.

Gente, como homem nessa idade é feio, Jesus amado.

Se você achar um boy magia e achar que ele tem 30, ou ele tem 25 e tá acabado, ou ele tem 40 e, amiga, cê acertou o jackpot. CORRE.

Cê vê. Entre os cafuçu magya que eu conheço tem Creiço. Vintenove anos, casado, usa barba e bermuda bad boy. Com esse figurino e esse nome, eu não teria coragem de apresentar pra ninguém, de qualquer forma. Mas Creiço é casado e há boatos de que a marida observa de perto.

Mr. E., trintequatro anos, bofe xucro, de QI imenso e total falta de cultura (como diz Katylene, como isso é possível? A ciência explica? Veja hoje no globo repórter), feio que é um susto no meio da noite, taí, noivo. Noiva de qualidade duvidosa, é verdade, mas é mais um bofe de aliança no dedo.

E a última opção, mais recente, um boy sem magia, trinteum anos, de voz mansa e cílios que possuem vento próprio e eu tenho certeza que neste exato momento estão causando um furacão na Nova Zelândia, da noite pro dia, aparece de aliança. Já era casado, mas ela tava quebrada, estragada, polindo, sei lá. Fiquei tão em choque quando descobri que o cafuçu em questã era comprometido, que perdi um pouco mais da audição e capacidade cognitiva.

Mais do que despeito, a mensagem aqui é: até os feios estão ocupados, amiga dona de casa. Se não sobram nem os feios, sobra o que?

Babaca.

Babaca tá cheio. Prefiro ficar sozinha.

*****

Falando em ficar sozinha, nem pra sair de casa eu tenho competência. Pensei nisso umas oitocentas e vinte e doze vezes neste ano, mas sempre acho um argumento que me impede.

E o primeiro bocó que vier falando “claaaaaro, comida pronta, casa limpa, cama arrumada e cuidadinho da mamãe, até eu” vai levar um grampeador nas fuça. Porque quem faz tudo issaê sou eu. Lavo, não passo, porque não sou obrigada, se na minha casa tem ferro e [pausa pra perguntar pro irmãozinho como chama aquela mesa de armar onde bota a roupa] tábua de passar, eu não sei onde eles moram, cozinho marabidjosamente bem, passo aspirador, esfrego, tiro pó, e tudo mais que você possa imaginar.

É que eu sou jovem demais pra morar sozinha.

*****

Finalmente, o álcool. A última alternativa da pessoa desesperada. Não bebo, não gosto e não gosto de quem bebe.

:)

Se você é do time que diz que do gosto ninguém gosta, que o bom é o efeito, então, né? Babaca.

E aí eu vou semana após semana pro bar, ficar olhando todo mundo encher a cara. E aí eu faço festa e tenho que morrer de pobreza, pra pagar birita pros outros. Eu quero ir num lugar aleatório e a primeira pergunta que me fazem é “qual é a cerveja que tem lá?”. Meua migo, eu só quero saber se lá tem coca ou Pepsi, cê tá entendendo? Eu quero saber se o suco de abacaxi é de fruta mesmo ou aquelas polpinhas congeladas. Eu quero saber se a bolinha de aipim tem recheio de queijo ou carne seca.

Porque olha, além de tudo, eu não como carne.

I regret nothing.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

I probably just need a nap


Eu não sei o que veio primeiro. Não sei se eu seria assim de qualquer forma, não sei se é culpa de como minha vida aconteceu. O caso é que eu não pertenço.

Minha família se mudou de casa tantas vezes que eu já até perdi a conta. Acho engraçado alguém dizer “morei minha vida toda nesta casa blábláblá” porque eu nem imagino o conceito. Meu atual lar é um monstro remendado de móveis feitos pra cá ou pra lá, que nós fomos amontoando e carregando junto nas costas.

Eu nunca estudei por mais de dois anos em uma escola. Eu bati o incrível recorde de quatro escolas em um ano. E, morando numa cidade do tamanho de São Paulo, quando você sai de perto da pessoa, você sai da vida dela. Pelo menos enquanto você não tem autonomia o suficiente pra ir sozinho nem até a padaria.

Já mudei de casa, escola, cidade, estado, só falta mudar de país. Eu coleciono pessoas que ficaram pra trás.

Não sei se por necessidade ou por gênio ruim, eu deixo que as pessoas vão, ué. Foi-se. Nunca mais terei notícias, mesmo num mundo com email aí, na mão. Depois de um tempo ninguém tem mais o que dizer.

Eu sempre começo relacionamentos “amorosos” avisando ao coleguinha pra que não se apegue, porque eu não vou. Eles nunca acreditam e é uma pena, mas eu fui programada pra não me apegar. Não posso afirmar que jamais acontecerá, mas eu sei dizer quando não vai acontecer. E não acontece.

O que eu deveria é começar TODOS os relacionamentos assim. Pessoa, não se apegue, porque eu não vou ficar. Um dia eu não vou mais atender ao telefone, um dia eu não vou mais aceitar seus convites, um dia você não vai me ver mais. Porque eu sou o típico homem babaca: acho mais conveniente desaparecer que explicar que não é você, sou eu. Eu que cansei de você.

*****

Eu nunca morei tanto tempo no mesmo lugar como agora. Na mesma cidade, na mesma casa. Trabalhando no mesmo lugar, na mesma sala, com as mesmas pessoas. Comprando na mesma padaria, pegando o mesmo ônibus, andando pelas mesmas ruas. Nunca. E de repente me dei conta de que não fui mesmo feita pra isso.

Meu espírito é nômade.

A paisagem me cansa e eu faço um caminho mais comprido, só pra ver uma rua diferente. As pessoas me cansam, até aquelas que eu só vejo no ônibus das 8:45h, então eu espero no portão pra só pegar o ônibus das 8:55h, porque aí eu não conheço ninguém. E tenho a capacidade de ficar emburrada quando eu vejo que o cara da roupa esquisita também se atrasou e vai me atrapalhar no meu plano.

Eu não sei o que é aqui, mas eu sei que eu não quero mais.

*****

Às vezes, muito raramente, eu me acostumo. E por um momentinho eu me deixo iludir e acabo deixando escorregar um pensamento que diz “encontrei meu lugar”. E esse pensamento é quase uma profecia de que tudo está pra desandar. É quando eu fico confortável que a cigana oblíqua e dissimulada (muito dissimulada, faz com que os outros acreditem que eu gosto de estar) que mora em mim chacoalha o vestido de 12 camadas e grita: SAI DAÍ. AGORA.

Porque a cigana que mora em mim sabe que ao menor descuido de gostar de alguém, de pertencer a alguém, faz com que esse alguém te quebre todo. As pessoas só te querem enquanto você voa, a graça toda se perde quando você pousa.

Estou pousada faz tempo demais. As pessoas não acreditam que eu vá voar de novo, que eu posso desaparecer da vista a qualquer momento.

O que elas não sabem, é que eu já voei.

Minha imagem pode parecer estar ainda por aí, mas é só o que se imprimiu na sua retina. De verdade eu já estou longe.

*puf*

sábado, 17 de setembro de 2011

envelhecendo

Porque 31 é velha pra cacete.

Quando eu tinha 17 anos, minha avó me chamou pra conversar. Minha avó tinha 203 netos, nunca imaginei o que poderia ser importante pra conversar só comigo. Como eu estava velha e entrando pro caritó, ela queria me passar ensinamentos milenares de como conseguir homem. Não funcionou.

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Em 2002, uma vovó do meu convívio, mas que não é minha, me deu uma toalha de presente. Pra ir começando a fazer meu enxoval.

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Meu bisavô jurava que meus dentes eram dentadura. “Ninguém nasce com os dentão assim”.

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Minha bisavó não tinha rugas. Tinha o rosto molinho e cheio de pintinhas, mas não tinha rugas. E tinha o tom de verde mais lindo que alguém pode ter no olho.

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Minha outra bisavó roubava meu cobertor quando eu era bebê, porque ela era velhinha demais e não entendia o problema.

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A gente tinha um jardineiro bem velhinho, o Seu Eurides. Orides? Nunca sei. Sempre que eu entrava em casa, eu gritava “oooooooi, seu Eurípedes!”. Ele corrigia no começo. No fim, ele só ria com a carinha de velhinho e balançava a cabeça. Seu Eurípedes era tão fofinho que o cachorro da minha casa resolveu ir morar com ele.

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Eu e minha irmã já nos demos os apelidos de Ervilha e Palmita, porque meu pai diz que a gente se parece muito (no jeito de conviver) com a minha avó, mãe dele, e a irmã dela. Elvira e Palmira.

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Outro dia eu estava no shopping com a minha amiga Ana Chérolaine - que vai se casar e de quem serei madrinha - olhando vestidos cinza, pra mim mesma pro próprio casamento dela. Ana estava me perturbando, mostrando os vestidos mais feios da galáxia.

- Ana, mas que vestido de velha!

Obviamente tinha uma senhorinha atrás de mim. Eu chutaria entre 60 e 70 anos.

- Olha, eu concordo. Eu sou velha, mas nunca usaria esse vestido.

- A senhora não acha que esse modelo deixa até uma menina com cara de velha?

- Eu acho. Eu nem uso cinza, eu prefiro color block.

*****

Num guento gente que apresenta com seu ou dona como se fosse parte do nome. Como é o nome do senhor? “Seu Zé”. Como é o nome da sua mãe? “Dona Maria”. Num guento. NUM GUENTO. Meu sonho de velha é me apresentar como dona Vanessa.

DONA VANESSA, acho que vou começar já.

*****

Velho sente saudade, né?

E do buraco onde eu morava quando seu Eurípedes era jardineiro, eu só sinto saudade do jardim que ele cuidava. O jardim que tinha 53 árvores. Que eu contava pra todo mundo que tinha. Por um tempo, o jardim teve 54 árvores. Mas meu cachorro (o novo, não o que foi morar com seu Eurípedes) se afeiçoou à mangueira que eu plantei. Se não estivesse mordendo as folhinhas, estava usando de poste e a mangueira morreu. Hahaha.

Beijos,

Dona Vanessa.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

delírios de consumo de vanessa n.


Depois que eu comecei a ganhar dinheiro na vida, eu me tornei uma pessoa rica. Deve ter algum nível de toc no meu cérebro, de modos que eu sempre administrava a coisa toda com um nível de maluquice que deixava todo mundo tonto. Não vou explicar como eu juntei uma fortuna ganhando trezentão por mês, mas eu juntei.

Aí gastei tudo de forma que não vem ao caso e comecei de novo.

E gastei de novo e juntei de novo mais duas vezes.

Até o dia em que eu juntei muitos dinheiros (pra uma funcionária pública, reflitam) e resolvi que eu ia gastar.

E fiquei pobre.

Concluí ontem que estava pobre, na realidade.

Chegando em casa com 438 sacolas de coisas que eu absolutamente não precisava.

Tá certo que isso é marketing one-o-one, na verdade, precisaaaar a gente não precisa de muita coisa. Mas tudo tem limite nessa vida, não é?

E eu estava carregando um guarda-chuva de 80 dinheiros, um porta-guardanapo de bigode – e eu não tenho nem casa, gente, vou fazer o que com um desses? – uma caneca com estampa de teclado de piano, um relógio de parede e uma calça jeans, que eu não tinha plano NENHUM de comprar quando saí de casa.

Enquanto administradora formada numa business school, I'm embarrassing myself. Achei que era hora de parar.

Como eu só consigo exorcizar as coisas escrevendo, azar de você que me leem e terão que partilhar o sofrimento comigo.

*****

Eu classifico minhas compras estúpidas em dois tipos. Aquelas que vão fazer com que eu me arrependa e aquelas que super valem a pena.

Me arrependo, por exemplo, da fortuna que gastei numa bomber jacket, ONDE EU ESTAVA COM A CABEÇA, que não usei nenhuma vez fora da minha casa. Me arrependo sempre que arrisco e compro sandálias. Me arrependo do par de tênis marrom (?). Da calça skinny. Aí fico lá sofrendo e doando pras pessoas.

Não me arrependo do tênis de florzinha que super era mais caro do que qualquer tênis deveria custar, dos 438 guarda-chuvas estampadinhos (todos sabe que dá pra viver com um guarda-chuva preto, funciona igual, mas QUEM QUER?), da colcha de patchwork pra minha cama.

Mas tem tanta coisa mais importante nesse mundo, não é?

*****

A intenção é, se eu não desistir, me confrontar com as tralhas que eu compro só porque sim e parar de ser pobre e voltar a ser rica.

*****

CAPÍTULO 1

Saí de casa pra fazer exames, almoçar e ir ao cinema. SÓ.

Voltei pra casa com:

- um presente;

- um guarda-chuva;

- um porta-guardanapo;

- uma caneca;

- dois kit-kats;

- um sachê aromatizante;

- uma calça jeans.

Fora o presente, eu não precisava de mais nada.

Aliás, um parêntese. Eu estou uma balofa. E embora isso seja um problema com doenças e remédios e regimes não possam fazer nada por mim (acredite, já foram consultados nutricionistas, nutrólogos, endocrinologistas, mágicos, pais de santo e psicólogos, tô lascada mesmo), nunca é demais comer de menos, não é? Vamo regular comida também, moçada!

Guarda-chuva

Tenho uns 10, eu acho. De tudo quanto é estampa. O mais caro tinha sido um de bigodes, da Zara. Aí eu vi esse da Imaginarium marabidjoso, que muda de cor quando molha. Não resisti.

Porta-guardanapo

O que uma pessoa que não tem cozinha quer com um porta-guardanapo? Não sei. Mas ele é de bigode (quando foi que essa mania de bigode começou? Tenho uma camiseta de bigode que NUNCA usei porque a manga é medonha, olhaê a conta...) e provavelmente vai virar porta papel de recadinho.

Caneca

Eu tenho tanta caneca que fez com que meu pai criasse a lei nunca cumprida que proíbe a entrada de novas canecas na minha casa. Vou ter que esconder essa no meu quarto ou fingir que ela está lá HÁ ANOS, se ele perguntar.

Kit-kat

Alovose que trouxe isso de volta ao braziu: não sei se agradeço ou choro. Felizmente ainda não foi o reeses cups, porque olha. Mas assim, um só não tava bom? Gordo é uma desgraça. Lado positivo (maomeno): comprei dois e só comi um, enquanto estava no cinema.

Sachê aromatizante

Comprei pra minha mãe, juro.

Calça jeans

Era um jeans escuro, de cintura média, flare. SABE QUANTO TEMPO DA MINHA VIDA EU ESPEREI POR ESSE DIA? Adiós, bitches skinnies, adiós cintura baixa, adiós jeans claros. Essa calça me fez chorar glitter e eu comprei. Não tinha como evitar. Mesmo eu tendo uma base dumas 35 calças jeans.

*****

Quantos dinheiros eu gastei nisso?

201

Quantos dinheiros eu poderia ter economizado?

Considerando que a calça e o presente eram, digamos, necessários: 116.

Considerando que a calça não era necessária coisa nenhuma: 166.

Ou seja, vamo pra rehab, né?

Ficaqui o auto lembrete pra gastar menos da próxima.

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Epílogo

É bem capaz que eu comece a computar “eu queria ter comprado blá que custava bláblá, de modos que economizei blé”. Vai veno.

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Para fins de organização (toc imaginário, oi), from now on, os posts gastadeiros ficarão aqui: já fui rica

Beijo, brigada, força pra mim e que eu junte meu primeiro milhão antes dos 30. KKKKKKKKKKKKKKKKKK


segunda-feira, 12 de setembro de 2011

caindo da régua

Joey Tribbiani me entenderia. WHY, GOD, WHY?

Neste ano, mais precisamente nesta semana, eu faço trinteum anos. O que é muito ridículo, se a gente considerar que mentalmente eu parei de envelhecer lá pela quinta série. No ano passado eu era jovem demais pra ter trinta, neste ano eu sou jovem demais pra ter mais de trinta.

E assim, quando eu digo que fiquei lá pela quinta série eterna da vida, eu tô falando sério.

Presentes, por exemplo.

Eu sou bocó, eu vivo comprando presentes pra quem eu gosto, o tempo todo, o ano inteiro. Aí nego tem 365 dias pra prestar atenção em mim, pra encher o cofrinho, pra ir ao shopping. Chega o dia do meu aniversário e esse cerumano me diz “putz, não deu tempo de comprar seu presente”. Ou então, o tio do pavê dos anos dois miu, “kkk quem faz festa em bar não ganha presente”.

POIS SEUS PRIVILÉGIOS DE AMIGO ACABAM DE SER REVOGADOS.

Mané não ganha presente em aniversário de bar. Conhecido não presenteia. Coleguinha não presenteia. Aquele bicão dos inferno que achou que tava convidado só porque era em local público não presenteia. Amigo presenteia.

Eu sou o próprio cebolinha. Sem plesente não entla.

*****

Eu e minha irmã temos 8 dias de diferença. Não literalmente, né, que seria mó esquisito. Cinco anos e oito dias, na realidadj.

De modos que depois que ela nasceu, a gente sempre teve festa de aniversário dividida. Nunca sofri. Aliás, temos tantos amigue em comum que chega até a ser bonito.

MAS.

Mas cozotro eu odeio, não, peraí, ODEIO dividir aniversário.

O dia é meu, compreende? Meu. Eu.

Não entendo a indelicadeza de fazer aniversário no mesmo dia que eu.

Pior que fazer aniversário no mesmo dia que eu, é fazer em dia diferente, mas querer fazer a festa no dia do meu aniversário.

Festa alheia no dia do meu aniversário: não trabalhamos.

Bergamoto ainda não compreendeu que eu sou retards e me mandou a seguinte frase por emeio “aniversário é sempre ruim, mas não dá pra evitar... mas em 30 anos cê deveria ter acostumado com o lance de ter várias festas pra ir além da sua. vá em uma delas, curta, e volte pra casa sem gastar muito”.

MÁ NEM PENSAR, BEUA BÔ!

Arthur Abbott me ensinou que eu não posso ser coadjuvante da minha vida, quanto mais do meu próprio aniversário. Não divido festa com ninguém além da minha irmã, não vou a festas que não sejam minhas, não faço ode aos outros no dia de fazer ode a mim mesma e ó, nem ligo se vão me achar babaca :)

Por isso eu guardo certa maguinha do universo quando meu aniversário resolve cair no sábado (este ano) e todas as pessoas do universo nascidas em setembro (maledeto reveião) resolvem festejar no MEU dia.

Tem problema não. Vou mudar a data do meu aniversário de 31 anos pra 14 de junho de 2012, ficamos assim. Aí neste sábado tá todo mundo livre pra escolher entre as 432 festas já marcadas, enquanto eu vou ali tomar um sorvete só com os lindo, pode ser?

Todos que me amão me add e até 2014, meu aniversário de 17 anos americanos (em que a gente já pode dirigir e coisetal).

Até lá, peço que todos vocês, nascidos entre os dias 10 e 20 de setembro, façam a fineza de escolher uma data mais apropriada pra comemorarem as próprias vidas ou saiam do meu círculo social.

(Não vou usar tags de ironia porque NÉ?)

Forever thirty and flirty and thriving.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

só pra concluir

“alright. i’m guessing you’re there, but you’re sad and you can’t be bothered, but i have a tale to tell, samuel, and you need to hear it, so listen up. the scene: dinner with number two, trying to cut him loose, no such luck. so get this: you know how people say beauty’s on the inside? well, that’s total bullshit! beauty is on the outside and i love me some beauty. i mean, who doesn’t? but here’s the crazy thing, sammy-boy. i’m listening to sam number two, listening, because he made me close my eyes. so hot. and he’s making a total case for me and him to be an item. and as he’s talking, it’s like the molecules on his face must have rearranged themselves, because i open my eyes and and suddenly i am in front of the most beautiful, gorgeous man. like, a total hottie. and who knew, sammy two. that rhymed. and you were right, by the way, it is a strong name. so here is what i have to say to you before the damn beep cuts me off. sadness, be gone! let’s be people who deserve to be loved, who are worthy. because we are worthy, we really are. you’ve been telling me that for years and now i get to spit it back at you. you’re a good man, sam wexler. go get yourself loved. that’s all i got.”

annie in ‘happythankyoumoreplease’, written by josh radnor.


*****

“You know when, sometimes you meet someone so beautiful and then you actually talk to them, and five minutes later they are as dull as a brick? But then there’s other people, and you meet them and you think ‘Not bad, they are okay.’ And then you get to know them and their face just sort of becomes them, like their personality is written all over it. And they just turn into something so beautiful… Rory is the most beautiful man I’ve ever met.”

amy pond in "the girl who waited" - doctor who season 6 episode 10

terça-feira, 6 de setembro de 2011

olha meus chifre, ques bonito

Eu acho que assisto umas duzentas séries. Mentira, segundo o orangotag, eu assisto 27 séries e provavelmente não durmo.

Que calúnia, seu orangotag. Tem um monte de série em período desencontrado, tem coisas como Misfits e Sherlock que têm meia dúzia de episódio por ano, tem American Idol que suga minha vida por 4 meses, tem as sextas feiras com 18 episódios novos quando a temporada tá acontecendo. Mas agora na mid season, por exemplo, eu só tenho que lhe-dar (kkk) com pocas série. Tipo Drop Dead Diva, Royal Pains, Doctor Who e Rookie Blue.

Oremos pela saída do décimo Doctor em 2010, porque é muito mais fácil conviver com Doctor Who em modo moderado de obsessão.

Ok, moving on, que Doctor Who não é o assunto sobre o qual eu quero falar. Eu quero falar sobre Rookie Blue. Assim como Being Erica (oremos que a próxima temporada é a última e eu vou poder liberar mais uma horinha da minha semana, junto com Desperate Housewives e Lie to Me. Mentira, não oremos não, porque Being Erica é melhor que terapia nessa vida, não quero que acabe.), Rookie Blue é canadense e eu tenho impressão de que só tem eu no mundo assistindo essas coisas. RB pelo menos minha irmã assiste, já é mais divertido ter alguém pra dividir.

Porque uns 23% da graça das séries é discutir com o amiguinho, né?

Aí no meio da segunda temporada eu pensei: se não tem amiguinhos pra discutir, por que não o próprio fórum do orangotag? E fui lá, chorar limão com aquela gente errada que comenta por ali.

SOCÊ NÃO QUER SPOILERS SOBRE A SEGUNDA TEMPORADA DE ROOKIE BLUE (o que eu duvido muito), PARE DE LER AQUI.

RB é tipo um Grey’s Anatomy de poliça, todos concorda. De modos que o foco do negócio é muito mais nos relacionamentos estragados das peçoua da lei do que em casos em si. Tem gente que tetesta a série justamente porque os casos são meio bocós, mas os amiguinho precisam entender que os casos são só metáfora pra vida deles ou meio pras coisas acontecerem na vida deles. Só isso.

Pois então a menina principal do negócio, Andy, se vê “““““disputada””””” por dois moços no decorrer da vida profissional (kkk).

De um lado, Sam. O cara “feio” (há controvérsias), bruto, com ambições incompreendidas pela sociedade, que olha pra Andy como se ela fosse uma coxinha recém frita às 11:45 da manhã. Um bofe xucro da melhor qualidade, que gosta dela de verdade e, VEJA BEM, ISSO É IMPORTANTE, de quem ela também gosta. Sam e Andy se olham e faíscas saem do monitor do computador. Ele não é o babaca que trata mal o universo e rasteja por ela. Ele é constante e é gostado por ela também. Só que ela não percebe muito rápido.

De outro lado, Luke. O cara lindo (há controvérsias), alto, loiro, de olho azul, educado, bem sucedido, mas olha pra Andy como eu olharia pra um prato de pato com molho de trufas num restaurante chique (tipo: tô faminta e é só isso que tem pra comer? Ok, é comida. E em seguida eu lembro que não como pato nem por um decreto e passo pão no molho.). Andy olha pro Luke da mesma forma, “ó que prato bonito e fino… e eu tô com fome mesmo” e vai nessas até a ficha cair.

Aí acontece uma coisa muito importante. Luke ainda guarda a aliança que deu pra ex, Andy acha, conclui que era pra ela, Luke vai na onda porque ela diz sim e dá-se o pedido de casamento mais errado da galáxia. E, como se isso não fosse suficiente, Luke TRAI Andy, de um jeito muito muito muito feio mesmo.

TRAIÇÃO.

Eu sei que tem gente nesse mundo que coloca graus na coisa e diz “mas se…” e aceita. Eu não aceito. Traição é fim, vai caçar sua turma, me deixa quieta. Acho traição uma coisa imperdoável. ME DEIXA, ME ACEITA, ME AMA. E NÃO ME TRAI.

Aí o cara bonito trai a mocinha e metade da audiência comemora a chance de ela ir correndo pro bofe xucro (eu também, aleluia) e a outra metade morre de medo de que ela largue o cara bonito! É exatamã isso aí: como assim ela vai deixar o cara que traiu ela, gente? Ele é bonito!

Não consegui achar o episódio exato onde está o comentário, mas uma fulana chega a dizer que não há caráter no mundo que seja capaz de amenizar a feiúra do Sam e não há traição no mundo que justifique abandonar um cara como Luke.

Só porque Sam tem essa cara:


E Luke tem essa cara:


Eu não quero mais viver nesse mundo, em que tem gente que acha que a pessoa pode fazer o que ela quiser na vida só porque ela é bonita. “““““Bonita””””. Eu não quero mais viver nesse mundo em que uma mulher acha que deve se sujeitar a qualquer coisa que um homem faça, só porque ele é bonito ou mais bonito do que ela. O que quer que isso signifique.

Quem me conhece sabe que eu não sou feminazi, nem feminista, nem um pouquinho. Também não sou machista, porque né? Eu gosto de gente. Tanto faz o que os cromossomos arranjaram. Mas eu sinceramente fico enlouquecida quando uma menina (feia ou não) acha que é objeto de milagre se um cara bonito (no conceito dela) lhe concede a HONRA do seu amor.

Vamo acordar, minha gente.

Num vamo assim dizer que as fuça da pessoa não fazem diferença nenhuma no processo, porque não é bem assim. Mas enquanto eu acho todo mundo feio e tenho que partir do princípio que só vou pegar gente feia nesta vida, tem gente que acha todo mundo bonito. O mundo tá cheio de casalzinho que a gente não compreende, mas não é essa a beleza da coisa? Quantas gentes supostamente lindas não ligaram seu sentido aranha (ai, acudão) e quantas gentes supostamente feias te fizeram querer ligar pro número do poste que te traz a pessoa amada em 3 dias? Vai dizer que nunca aconteceu? Se nunca aconteceu, eu tenho medo de você =P

Não tá aí o Wolverine casado com uma tia “caidaça”, que se fosse qualquer uma, jamais acreditaria que tem uma chance? Gisele binxen já não namorou Leonardo di Caprio? A personagem da Kate Winslet já não ficou como personagem do Jack Black? Relacionamento, beleza e o escambau não são fórmulas matemáticas, não são objetivos.

Acho que é por isso que o mundo tá esse cocô estragado.

Cêis vão me perdoar, mas podem perguntar pra qualquer pessoa que me conheça, se num é verdade que eu acredito nisso sinceramente. Mas a beleza duma pessoa não é só a posição do nariz no meio da cara não. Tem muito mais variáveis nissaê.

E vos digo mais: eu casava com o Sam e tinha 36 filhos de parto normal na hora que ele quisesse.

Mas quem sou eu, além de o maior fail na história dos relacionamentos? Tô indo muito longe com a minha capacidade de abstração da beleza humana, vamo todo mundo aí imprimir esse texto e seguir meu exemplo.

Antes só do que com um chifrador nórdico.

Fim.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

hoje, na sessão da tarde



este post contém spoilers

Eu conheço uma mulher que apanhou do marido por vários anos, até levar uma surra muito grande mesmo e finalmente denunciar o infeliz pra polícia, conseguir mandado de restrição, divórcio e uma vida tranqüila.

O caso é que eu nem imagino o que esse tipo de violência faz com a pessoa. Só sei que apesar do jeito aparentemente calmo que essa mulher tem de levar a vida, eu concluí recentemente que era tudo extremo autocontrole.

Ela trabalha numa locadora e sempre dá um jeito de pegar pra gente uns filmes meio desconhecidos, coisas que mal foram lançadas ou até tranqueiras que estejam lá encalhadas. Só porque sim, sem a gente pedir. Ela só traz e diz “esse filme é muito bom, acho que você deveria assistir”.

Acontece que, não sei se por causa da personalidade ou por causa do ocorrido, ela só trazia filmes de vingança. Vingança feminina. Assisti uns três ou quatro, tive que parar um outro no meio pra dar uma vomitadinha (o negócio era TENSO) e decidi recusar qualquer DVD que ela me entregasse depois daquele “os homens que não amavam as mulheres”. Eu ODEIO esse tipo de filme, mas sério, os que ela me deu pra ver eram tortura. Agora, tortura e violência em, sei lá, sueco, eu não mereço.

Tentei sinceramente me colocar no lugar dela, dar um apoio moral, mas é demais pra mim.

Aí esses dias ela chegou, sentou do meu lado, pegou um DVD na bolsa e me entregou. Eu tava lá toda preparando meu discurso de “tia, eu vou virar bulímica com esses filme aê” e ela me entrega “o noivo da minha melhor amiga”.

Tenho que confessar que eu senti um medinho de algum moço morrer de forma trágica no decorrer do filme.

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Chick flick pra mim é igual pizza: é bom até quando é ruim, desde que ninguém morra no final. Mentira, eu não gosto de chick flicks em que o casal não fica junto no final. Coisas tipo Outono em Nova Iorque e Doce Novembro me fazem querer meus cincão de volta, sabe? Na VIDA as coisas dão errado, no filme elas têm que dar certo.

Por isso eu só assisto filme bocó. De complicada, desencontrada, errada e pesada já basta minha vida.

Mas ok, independentemente da qualidade do filme, do fato de eu ter sido enganada pela vida e visto um filme que tem livro ANTES do livro, só porque eu não sabia que era um livro antes de eu assistir (e poder jurar que o livro é melhor e sofrer por causa disso, porque eu já vi esse bendito livro na livraria, em inglês, com o nome certo. Maledetas traduções!), eu gostei, porque as pessoas ficam juntas no final (eu avisei que tinha spoilers).

O problema foi só que o filme foi acontecendo e eu fui lembrando da minha vida e sofrendo miseravelmente, porque olha, na vida, as pessoas não ficam juntas no final.

Cê vê lá. A menina boboca, meio esculhambadinha, chega o cara lindo, rico, inteligente e obviamente ela não capta os sinais. OBVIAMENTE. Tamo junto, amiga, não dá mesmo pra acreditar. Só que nem todo cara lindo, rico e inteligente vai ficar esperando duzentos mil anos até cair sua ficha, né? É.

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Eu estudei numa faculdade de gente rica. MUITO rica. Filhos de banqueiros, filhos de políticos, filhos de empresários (tipo empresa MONSTRO, que todos vós conheceis), filhos de ganhadores da mega sena (sério), filhos da puta, tava cheio, filhos de diplomatas. Tudo lá, enfiado numa mesma sala, com a minha pessoa.

Minha vida tinha sido linda na high school. Eu era bonita, engraçada, mais inteligente que todo mundo (kkk), descolada, fashion. Na business school eu era só a pobre que não fazia unha, não escovava o cabelo, não tinha luzes, não usava salto e maquiagem, não tinha sobrenome com 38 consoantes e 1 vogal.

Eu tinha o mesmo par de tênis em 7 versões da mesma cor, eu me vestia igual hippie (jeans boca de sino e camisetinhas coloridas), meu cabelón tava numa fase rebelde de cachinhos, num “corte” que ia até a cintura. Reflitam.

Ninguém me convidava pra festa nenhuma, porque eu não tinha casa nos hamptons (kkk) e tampouco era daqueles mogolóids que abrem mão da própria vida pra estudar seus cadernos em que constam até as pausas pra suspiro do professor. Passei 3 anos completamente fora do radar daquele povo.

Até que.

Até que no quarto ano, o penúltimo, a negada lembrou que aquilo era uma faculdade, que talvez o dinheirinho do papai até comprasse uma monografia bem bonita, mas poderia não funcionar com o professor de administração de recursos materiais e patrimoniais e que a compreensão do mundo corporativo podia até ser importante. Aí sim, descobriram meu cérebro naturalmente privilegiado e eu passei a ser convidada assim, como quem não quer nada, pras festinha dos amigue.

Gente cujas casas têm lavabos maiores que meu quarto e uma sala de estar maior que a minha casa. Sem hipérbole.

Foi nessa época também que as turmas começaram a se misturar (nossa turma tinha um pacto de permanecer junta até o fim dos tempos, que inocentinhos), porque começamos poder escolher rumos diferentes de carreira.

Foi aí que GORLAMI apareceu na minha vida.

Festa de gente rica, todos lindo. Eu lá, com cabelos e roupas destoando da multidão. Gorlami sendo lindo e parando sempre casualmente do meu lado.

Em algum momento ele disse aquela frase de filme “vou buscar alguma coisa pra beber, você quer?” e eu respondi que queria coca cola. Cê vê. Tinha uma fonte de absinto acontecendo, daqueles absintos proibidos, sacoé? Todos já locão e eu pedindo uma coca. Gorlami não acreditou. Perguntou se eu não queria mesmo a fada verde, e eu com a maior cara de Q, explicando que não tinha ideia do que vinha a ser aquilo. Gorlami aparentemente achou incrível e não me largou o resto da noite.

Ele não me largou e eu não peguei ele, porque né? COMOASSIM, um cara lindo, rico, inteligente, dono de não uma, não duas, mas FÁRIAS empresas, educado, e gente boa pra caramba ia querer alguma coisa com a pessoa pobre, feia e desprovida de talento comercial?

Depois dessa festa, Gorlami virou aluno que freqüenta biblioteca, que estuda pra prova, que faz trabalho. Tudo comigo pendurada do lado. Gorlami me levava no Mcdonald’s se eu tivesse fome, pra casa dele quando a mãe fazia sobremesa, pro fim do mundo, se eu precisasse de carona. Ele inventava que tinha se perdido completamente em alguma matéria e me convidava pra estudar no sábado à tarde. SÁBADO À TARDE. Tem que ser muito imbecil pra não pegar o sinal, hein?

E, como se tudo isso não bastasse, em dias de chuva, Gorlami pegava seu lindo carrão elorme, passava em alguma distribuidora de doces, comprava quilos e mais quilos de twix (meu chocolate favorito da época) e levava até meu local de trabalho. Porque sim.

Matava as secretária tudo de amor, porque Gorlami era lindo e galanteador (/vó). Era só a fofa ligar pra mim suspirante, dizendo que eu tinha visita, e eu já sabia quem era.

Mas né? Como diz minha mãe, “certeza que algum grau de autismo você tem, vanessa”. E eu não captei. EU NÃO CAPTEEEEEI.

Numa das últimas tentativas que ele fez, depois de passar um sábado inteiro me carregando pra lá e pra cá (porque eu precisava comprar ração do meu cachorro, voltar em casa e DAR a ração pro cachorro, levar sei lá o que pra sei lá quem sei lá onde, comprar um livro, plantar uma árvore e ter um filho), em vez de ir jantar com ele, eu disse que tinha outros planos. HAHAHAHAHA. Eu tinha outros planos. Meldels. Convidei Gorlami pro meu outro plano, mas ele disse não. Então eu disse tchau, mas ele disse que me levaria até lá. ELE IA ME LEVAR HAHAHAHAHHAHA. Ele me levou. Paramos na porta. Antes que eu descesse do carro (porque ele sempre descia antes pra abrir a porta, então eu tava esperando), ele ainda olhou pra mim e disse “você tem certeza, vanessa? Tem certeza de que tem outros planos?” e eu, muito perspicaz, respondi “ué, mas não tô te falando que isso já tava marcado faz uma semana e bláblábláblá...” ele desceu do carro, abriu a porta, segurou minha cabeça, beijou minha bochecha (beijo mesmo, não choque de bochechas) e falou “então tá bom, eu vou parar de te perturbar”.

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Nós ainda convivemos por mais uns 6 meses e eu não entendi nada. Ele sumiu da minha vida, era bruto se eu entrava em contato, esfregou umas 25 meninas na minha cara e eu não entendi nada. Até o dia em que ele sumiu de vez.

Pergunta quanto tempo depois eu tive a revelação?

OITO.ANOS.

Eu tava passando na frente da casa dele pra ir pra algum lugar, as memórias foram vindo, foram vindo, foram vindo e eu caí no choro no meio da rua, porque né? NÉ? NÉ?

Gorlami era a pessoa mais perfeita do mundo e eu nem tchuns. Parabéns, viu? Parabéns.

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Gorlami é muito (mais) bem sucedido hoje em dia. Se eu escrevesse o verdadeiro nome dele aqui, praticamente todo mundo saberia quem é, então deixemos esse nome fictício/piada interna no lugar.

Até hoje eu vejo ele de vez em quando, quando passo na frente de um dos milhares de estabelecimentos que ele possui. Porque ao contrário de 98% dos idiotas das pessoas da minha faculdade, ele estava lá porque queria. O resto estava lá pra conseguir um quadro pra pendurar na parede do escritório do lado do papai e herdar os negócios da família. Gorlami tinha os próprios negócios e estava lá pra melhorar mesmo. Um rapaz de ouro. (/bisavó)

Gorlami continua lindo, provavelmente continua rico e eu duvido muito que continue sozinho.

E eu fico aqui fazendo muita força pra não me lembrar dessa história, de como essa minha mente imbecil é capaz de me boicotar de vez em quando e de como eu vou morrer sozinha (ou casar com maconheiro, como costumam ameaçar).

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Filme estúpido.