sexta-feira, 23 de setembro de 2011

I probably just need a nap


Eu não sei o que veio primeiro. Não sei se eu seria assim de qualquer forma, não sei se é culpa de como minha vida aconteceu. O caso é que eu não pertenço.

Minha família se mudou de casa tantas vezes que eu já até perdi a conta. Acho engraçado alguém dizer “morei minha vida toda nesta casa blábláblá” porque eu nem imagino o conceito. Meu atual lar é um monstro remendado de móveis feitos pra cá ou pra lá, que nós fomos amontoando e carregando junto nas costas.

Eu nunca estudei por mais de dois anos em uma escola. Eu bati o incrível recorde de quatro escolas em um ano. E, morando numa cidade do tamanho de São Paulo, quando você sai de perto da pessoa, você sai da vida dela. Pelo menos enquanto você não tem autonomia o suficiente pra ir sozinho nem até a padaria.

Já mudei de casa, escola, cidade, estado, só falta mudar de país. Eu coleciono pessoas que ficaram pra trás.

Não sei se por necessidade ou por gênio ruim, eu deixo que as pessoas vão, ué. Foi-se. Nunca mais terei notícias, mesmo num mundo com email aí, na mão. Depois de um tempo ninguém tem mais o que dizer.

Eu sempre começo relacionamentos “amorosos” avisando ao coleguinha pra que não se apegue, porque eu não vou. Eles nunca acreditam e é uma pena, mas eu fui programada pra não me apegar. Não posso afirmar que jamais acontecerá, mas eu sei dizer quando não vai acontecer. E não acontece.

O que eu deveria é começar TODOS os relacionamentos assim. Pessoa, não se apegue, porque eu não vou ficar. Um dia eu não vou mais atender ao telefone, um dia eu não vou mais aceitar seus convites, um dia você não vai me ver mais. Porque eu sou o típico homem babaca: acho mais conveniente desaparecer que explicar que não é você, sou eu. Eu que cansei de você.

*****

Eu nunca morei tanto tempo no mesmo lugar como agora. Na mesma cidade, na mesma casa. Trabalhando no mesmo lugar, na mesma sala, com as mesmas pessoas. Comprando na mesma padaria, pegando o mesmo ônibus, andando pelas mesmas ruas. Nunca. E de repente me dei conta de que não fui mesmo feita pra isso.

Meu espírito é nômade.

A paisagem me cansa e eu faço um caminho mais comprido, só pra ver uma rua diferente. As pessoas me cansam, até aquelas que eu só vejo no ônibus das 8:45h, então eu espero no portão pra só pegar o ônibus das 8:55h, porque aí eu não conheço ninguém. E tenho a capacidade de ficar emburrada quando eu vejo que o cara da roupa esquisita também se atrasou e vai me atrapalhar no meu plano.

Eu não sei o que é aqui, mas eu sei que eu não quero mais.

*****

Às vezes, muito raramente, eu me acostumo. E por um momentinho eu me deixo iludir e acabo deixando escorregar um pensamento que diz “encontrei meu lugar”. E esse pensamento é quase uma profecia de que tudo está pra desandar. É quando eu fico confortável que a cigana oblíqua e dissimulada (muito dissimulada, faz com que os outros acreditem que eu gosto de estar) que mora em mim chacoalha o vestido de 12 camadas e grita: SAI DAÍ. AGORA.

Porque a cigana que mora em mim sabe que ao menor descuido de gostar de alguém, de pertencer a alguém, faz com que esse alguém te quebre todo. As pessoas só te querem enquanto você voa, a graça toda se perde quando você pousa.

Estou pousada faz tempo demais. As pessoas não acreditam que eu vá voar de novo, que eu posso desaparecer da vista a qualquer momento.

O que elas não sabem, é que eu já voei.

Minha imagem pode parecer estar ainda por aí, mas é só o que se imprimiu na sua retina. De verdade eu já estou longe.

*puf*