sábado, 19 de abril de 2014

Às vezes eu me pergunto se alguém sentiria minha falta se eu morresse e a resposta é sempre: só o meu cachorro.

Por favor, não gaste o seu tempo e o meu dizendo que você sentiria minha falta, porque na internet é muito fácil sentir falta de alguém, quero ver é bater na porta da minha casa e aguentar minha cara feia porque eu odeio que venham sem me avisar, ir comigo num parque numa tarde sem sol ver árvores sem flores, ficar comigo na fila da loja lotada do shopping.

As pessoas falam dos amigos pra quem podem ligar às 3 horas da madrugada pra ajudar a esconder um corpo, mas eu só queria alguém pra quem eu pudesse ligar às 7 da noite, pra dizer "minha vida permanece uma merda, será que rola uma companhia silenciosa só pra eu sair desta casa por duas horas?".

Por favor, não gaste seu tempo e o meu dizendo que eu poderia ligar pra você e ir pra algum lugar só pra sair desta casa, porque ou você não mora nesta cidade estúpida e não adianta nada ou eu já te pedi socorro alguma vez e não fui atendida.

Eu acho que pessoas como eu, que passam a vida inteira literalmente lutando pra permanecerem vivas, não podem se dar ao luxo de ter uma única célula suicida no organismo. Mas às vezes eu entendo a falta completa de perspectiva que motiva as pessoas a simplesmente desistirem de continuar. Qual é o objetivo? Qual é a razão da existência desses dias absolutamente estúpidos, em que nada de relevante acontece? Pra que eu repito 250 dias no ano o ritual insuportável de acordar, trabalhar, voltar pra casa? Qual a necessidade de um dia irrelevante em que alguém resolve acabar com a sua apatia paz por qualquer razão estúpida, só pra não deixar que o dia passe em branco?

Não me acho uma pessoa essencialmente ruim, porque pra ser ruim a gente precisa aceitar dispender tempo em função de outra pessoa e eu não gosto de gastar nem um segundo do meu dia com outras pessoas, sejam elas do meu apreço ou não.

Entre qualquer outra pessoa e mim, eu sempre vou me escolher. Entre ficar em paz comigo mesma e agradar QUALQUER outra pessoa, eu vou escolher ficar em paz comigo mesma. Com exceção do meu cachorro. Talvez isso explique a razão de eu acreditar que ele seria a única criatura no universo a sofrer com a minha ausência.

E às vezes é só por causa dele que eu não me enfio no meu carro às 8 horas da noite de uma sexta feira e não saio dirigindo por aí até parar em algum lugar que torne minha vida menos idiota ou o suficiente pra pensar que tudo é tão idiota que o menos pior mesmo é voltar pra casa.

Ai, se meu cachorro não enjoasse no banco de trás.