sexta-feira, 4 de abril de 2014

sesame or pistachios



Meu pai está em Jerusalém.

Ele passou ou vai passar pela Europa, não sei, mas eu não tinha pedido pra ele trazer nada de Jerusalém. A única coisa que eu pedi foi pra ele trazer um bendito batom que vende em qualquer farmácia por lá pela Europa e aqui não vende nem por decreto.

Nunca peço coisas pra pessoas que viajam, nem que seja pra Minas Gerais, por duas razões básicas:

1) eu não gosto de trazer nada pra ninguém quando eu vou viajar e acho UM.SACO. quem pede e

2) ninguém acerta o que eu peço, nunca. NINGUÉM. NUNCA. NUNCA.

Isso me deixa tão nervosa que eu prefiro ficar sem, importar a preços exorbitantes pelo correio ou procurar um similar. Mas não peço.

Mas aí meu pai estava lá no fim do dia esperando o resto da galera terminar de se arrumar pra dormir e resolveu entrar no facebook pra contar das maravilhas de andar por onde Jesus andou e etc.

Ni que eu cometo a bobagem de perguntar se eles já tinham ido a algum mercado de rua ou se tinham planos de ir. Não, não foram, sim, há planos. VIVA. Porque tem uma coisa que eu queria e só tem lá naquela região, não tem conversa: halawi.

Eu achava que todo mundo sabia o que é halawi, porque na minha casa sempre teve um pote disso na geladeira, mesmo em épocas em que não tinha literalmente mais nada. Minha mãe é louca por esse doce horroroso, que ela sempre pronunciou "ralêu" e eu passei a vida inteira vendo isso na geladeira, sabendo onde tem no supermercado e comendo um pedaço de tempos em tempos (mesma relação de amor e ódio que manju). O problema desses que são encontrados no supermercado aqui é o eterno gosto de queimado. Não sei explicar, não gosto.

AH É: halawi, halawa, whateva, é um doce de gergelim com trezentos quilos de açúcar e manteiga (se não é, é o que parece). Uma pasta de tahine com alguma coisa, veja só se eu vou saber do que essas coisas são feitas, minha gente. Parece um tijolo gosmento. (Hum, delícia.)

Mas um amigo meu, que tem família em Israel, um dia ofereceu na casa dele. Eu disse não, afinal, tenho isso em casa e não como. Ele insistiu, dizendo que tinha um de café, um de pistache, um de sei lá o quê. Mas falou pistache, falou minha língua e eu aceitei um pedacinho.

QUAL FOI A NECESSIDADE DISSO?

O negócio era maravilhoso, era magia em forma de comida. E só tinha mais um pedacinho, só vende lá pros orientes, e era da família da pessoa, né? Eu não podia comer até o fim. Mas eu queria.

Eu tinha esquecido disso até antes de ontem, quando meu pai falou comigo no facebook e eu pensei "mas, gente, ele tá lá na fonte do negócio, vou pedir, me disseram que é baratinho". Aí eu mandei uma mensagem pra ele, bem assim ó: "pai, se você for ao mercado, me traz halawi com pistache? Parece uma pedra e não deve ser caro". Bem simples, né? Pois umas duas horas depois meu pai me responde "filha, sua tia disse que esse doce é de gergelim".

¬¬

Explico pro meu amado paizinho que é isso mêmo, eu quero doce de gergelim com pistache. E começa o diálogo insano.

- mas como é o doce que você quer?
- doce de gergelim, que chama halawi. Aí pede o que tem pistache.
- mas é doce de pistache?
- não, é de gergelim COM pistache.
- mas pede de pistache?
- tem que pedir halawi (pergunta pra guia como pronuncia esse negócio), mas o que tenha pistache.
- sua tia disse que é de gergelim.
- halawi, até onde eu sei, significa doce de gergelim.
- ENTÃO!
- então eu quero halawi COM pistache, é gergelim + pistache. Mas não precisa comprar não, achei que era mais fácil.

Falei a última coisa sem um pingo de recalque. É porque é um saco mesmo gente pedindo pra comprar coisa, você tá lá maravilhado com a sua viagem e tem que ficar decifrando o que nego quer, haja saco. Larguei mão mesmo, se eu quero o doce, eu que cruze o oceano e vá buscar. Desencanei.

Hoje vem meu pai no facebook de novo.

- filha, a gente vai num mercado amanhã, como é mesmo o negócio que você quer?
- não precisa, pai.
- é o doce de pistache?
- é gergelim com pistache, mas tem que pedir halawi.
- ah, se é de gergelim tá certo.
- mas não é gergelim puro, é com pistache.
- MAS ISSO NÃO EXISTE.

Tá bom, né? Falei que podia deixar, então. Ele me perguntou se eu gostava do de gergelim e eu tive que ser sincera e dizer que não. Mas eu sou muito inteligente da minha cabeça: isso significava que já tava comprado. Completei "mas a mãe gosta". Achei que o caso estava encerrado.

*****

Tava eu andando pela rua no meio dessas chuvas horizontais de Curitiba, tentando equilibrar ovos de páscoa, livros, bolsa, chave, guarda-chuva, quando meu celular avisa que eu tenho mensagem. Como eu estava esperando uma mensagem, malabarizei tudo e peguei o celular. Era uma mensagem da minha tia:

- Vanessa, não sei se você sabe, mas halawi é feito de gergelim.

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CA.TA.PLOF.


Não tenho nenhuma dúvida dentro do meu coração de que vou receber 8 tijolos de halawi comum, que eu poderia comprar ali no carrefour. Receberlhos-ei todos com amor. Prometo. (Mas não vou comer nenhum D:)


update: aparentemente acharam o negócio certo, VAMOS TORCER.