terça-feira, 1 de abril de 2014

the death of a fictional character

(Esse post levou mais de duzentas horas pra ser escrito e eu tô aqui sofrendo pra reler tudo. Se tiver erro não intencional SUCK IT UP e siga a vida. Uma hora eu corrijo.)

Você já parou pra pensar no exato momento em que você se encantou por alguém? Às vezes é alguém que você conhece há cinco anos e em algum momento dá aquele estalo e você pensa "pelamor, onde fui amarrar meu bode". Às vezes é alguém que você conheceu há meia hora. Às vezes é alguém por quem você já se apaixonou e desapaixonou 35 vezes, você pensa "agora chega" e dali 18 anos BAM, você cai na mesma armadilha do amor de novo.


Antes de prosseguir com esse post, você tem que saber duas coisas:

- a primeira é que eu não acredito em amor e acho isso incrivelmente triste. Toda vez que eu conheço alguém que me interessa, eu passo pelo processo de visualizar o fim. Em que eu acredito veementemente e sei que em algum momento vai chegar. Algumas vezes eu chego a afogar qualquer possibilidade de romancinho, só pra não ter que lidar com a perda catastrófica no futuro. E, por perda catastrófica, eu quero dizer que eu evito aquele momento em que você acorda um dia e percebe que não sente mais nada pela outra pessoa ou que não admira mais, ou sei lá o que raio aconteceu com o sentimento, mas acabou.

[Se você vem a ser meu ex, nem precisa procurar meu telefone na sua agenda, eu não estou falando de você :)]

Apesar de tudo, eu acredito em amor platônico PROFUNDAMENTE. Eu tenho uma coleção de amorzinhos eternos e revezantes, uns 10 indivíduos que entraram na minha vida 20 anos ou 20 dias atrás, com quem eu sempre penso: e se?

- a segunda, muito relevante, é: se você não está em dia com todas as séries que você assiste e não gosta de spoiler, não clique, DE NENHUMA FORMA, em expandir esse post. Sério. Vou escrever aqui meia dúzia de nome de séries. Se você assiste alguma delas e não está em dia, deixe pra ler depois.

Bones, Criminal Minds, Drop Dead Diva, How I Met Your Mother, Switched at Birth, The Good Wife.



Se você clicou mesmo depois de eu dizer não, a culpa é sua, porque minha próxima frase é:

Mataram Will Gardner.

Se você não sabe quem é Will, eu te digo: em The Good Wife (se necessário, doravante TGW), é amor perdido de Alicia Florrick, a personagem principal. Alicia tinha lá os sentimentinhos pelo Will na faculdade, ninguém fez nada a respeito, se reencontraram quando ela estava casada com um político proeminente, que estava preso por contratar serviços de prostitutas. Alicia fica entre a vontade de mandar o marido pro raio que o parta e viver a vida e manter a aparência de uma família que funciona apesar de tudo. Enquanto o relacionamento dela com o Will evolui, ela coloca tudo que tem em risco. E fica naquelas Will ou Peter (o marido)? Eu fui team Will desde o.primeiro.segundo. em que ele apareceu. E agora Will morreu.


Eu assisto MUITAS séries. Mais do que um humano saudável deveria assistir. Eu assisto Game of Thrones, eu assisto Doctor Who. Se tem uma coisa com a qual eu estou acostumada, essa coisa é personagem morrendo. A gente fica meio sentimental, né? Essa é a graça de ver tanta porcaria na tv. Eu confesso que fiquei #chatiada extreme com despedidas em DW (e ninguém nem tinha morrido). Mas semana passada, quando Will morreu inesperadamente, eu passei 10 minutos de queixo caído. Quando ele voltou ao lugar, eu não conseguia parar de chorar. Não apenas porque seriado serious business, mas eu sempre faço essa coisa estúpida de comparar minha vida com a vida de personagens e eu sempre achei que era burra como Alicia e meus 10 amores eram Will. 

Desde quando eu era criança, eu tinha medo de férias. Meus pais pareciam ciganos de tanto que mudavam de casa, de cidade, me mudavam de escola, me mandavam morar com vó, tia, com o circo, me buscavam de volta, me trocavam de escola de novo (eu sempre friso o ano em que eu estudei em quatro diferentes). Eu sempre tive síndrome de chapeleiro maluco: não vai dar tempo, não vai dar tempo, não vai dar tempo. E quando a vida me separava dos meus amores, eu pensava a frase que Will pronunciou:

yes, I'm the queen of the bad timing

aquele da faculdade #2

Um mês atrás, antes mesmo de esse episódio acabar com a minha vida, eu fui informada pelo facebook de aquele cara da faculdade estava casado. Quinze dias depois, estava o facebook me avisando novamente que o feliz casal tinha agora um filhinho.

Acontece que o facebook nunca me mostra atualizações desse indivíduo, POR QUE AGORA? 

A última vez que eu vi esse moço faz mais de um ano, quando meus neurônios finalmente processaram a história toda, que aconteceu há mais de 10 anos: menina inteligente e pobre conhece menino rico e preguiçoso. Essa história tem vários posts espalhados pela história do blog, mas vou contar de um jeito diferente agora, sem relacionar com coisas que vocês já possam ter lido.

Era o penúltimo ano da faculdade e todas as outras pessoas ricas da minha turma (todas elas) tinham se dado conta que seus abastados papais ficariam #chatiados com maus desempenhos acadêmicos. Aqueles que eram apenas preguiçosos começaram a correr atrás do prejuízo. Os menos providos de neurônios começaram a me convidar pras suas caríssimas festas em suas mansões, acreditando que eu colocaria seus nomes nos meus trabalhos. Fui em todas as festas possíveis no período de um bimestre, só pra satisfazer minha curiosidade globo repórter de como vivem e do que se alimentam pessoas que nadam no dinheiro. Não coloquei o nome de ninguém em trabalho nenhum. Recebi muitas ameaças de macumba e voltei à minha insignificância social e topo da cadeia intelectual de sempre no mês seguinte.

Numa dessas festas, em um apartamento cujo lavabo era do tamanho do quarto que eu dividia com meus dois irmãos naquele tempo (que grazadeus está no passado), eu não poderia estar mais deslocada. Absinto do proibido em potes com fumacinha de gelo seco, vasos com bebida - vasos mesmo, literalmente - e canudos de um metro de altura, as pessoas ainda mais arrumadas do que costumavam ir pra aula (parecia impossível) e eu lá, tentando entender como fui parar naquele lugar. Quando o grau de bebedeira chegou num nível impraticável e ainda faltava mais de uma hora até que minha mãe fosse me buscar (hahaha), fui até a sacada ficar chocada com a paisagem. Niqui chega o cara #2 pra me perguntar se eu não bebia mesmo ou se estava só preocupada com as vibe do absinto. 

Expliquei que não bebia e não comia metade do cardápio da festa, não fumava, não tinha dinheiro, não sabia o que estava fazendo ali. Ele disse que fumava, bebia, comia, tinha dinheiro, mas também não sabia o que estava fazendo ali. Perguntou se eu queria ir pra outro lugar e eu disse que não tinha como avisar minha mãe, com que eu já tinha combinado horário de resgate. Cada vez que algum bêbado aleatório trombava em mim ou que a mãe da dona da festa perguntava "qual é o nome da sua família mesmo?", o cara #2 aparecia magicamente do meu lado e colocava uma reconfortante mão no meu ombro. Me levou até o elevador na hora de ir embora e provavelmente foi a única pessoa que notou minha presença e minha ausência.

No dia seguinte, a sala de aula estava praticamente vazia. Porque rico que é rico faz festão na terça-feira, não espera a sexta chegar. Além de mim, apenas o cara #2, entre os convidados, estava presente na aula.

Foi nesse dia que ele me pediu ajuda com uma matéria qualquer e obviamente eu sabia como ajudar. Separei meia dúzia de textos, sentei com ele no pé da escada do nosso andar, expliquei mais ou menos como relacionar as coisas, deixei com ele o material que eu tinha, desejei boa sorte e fui viver.

Assim que passou a prova, cujo dia eu nem sabia qual era, eu estava no mais absoluto tédio do meu trabalho no silviço público (não o mesmo que eu tenho hoje, um ainda mais chato), quando a secretária liga no ramal da minha chefe desesperada:

- tem um homem lindo aqui fora querendo falar com a Vanessa.

Nunca entenderei a razão de a telefonista não ter ligado no meu ramal. Sempre entenderei o escândalo que minha chefe fez, já que era adepta da palhaçada ocasional.

- HUUUUUUUM, VANEEEEEESSA, PARECE QUE TEM UM HOMEM LINDO NA RECEPÇÃO PRA VOCÊ!!!1111

Saí da minha sala com a maior cara de derrota, vermelha, imaginando que era um maconheiro engenheiro que de vez em quando ia lá tentar limpar a barra sobre acontecimentos do passado que não vêm ao caso e encantou a secretária. Mas não era. Era o cara #2, com a melhor cara de filhote de cachorro que sabia fazer, dizendo que estava lá pra me agradecer a melhor nota da vida. E isso não podia esperar até a próxima aula? Não. Porque ele imaginou que eu pudesse estar bem naquela hora com vontade de comer um chocolatinho. E como ele não sabia qual eu gostava, me levou um saco com 38 chocolates diferentes.

Secretária, chefe e coleguinhas de trabalho declararam amor imediato. Eu achei que era só uma desculpa pra me pedir pra ajudar com OUTRA matéria, o que ele de fato pediu. E depois do horário de trabalho, lá fui eu pra biblioteca da faculdade, ajudar o cara #2, aquele doce de pessoa que te leva chocolates no meio do expediente.

Não sei quantas horas ficamos na biblioteca. Mas ele ficou com fome, eu fiquei com fome e ele me levou num McDonald's pra tomar um lanche, pagou meu lanche (eu nunca fico muito confortável com pessoas pagando minha comida, especialmente aquelas que não têm nenhum vínculo familiar comigo e o cara #2 ainda pagaria MUITAS refeições pra mim no futuro), andou de braço dado comigo pela rua, porque era muito perigoso pra uma menina indefesa ficar andando por aí sozinha. Como o cara #2 era bonito demais, rico demais, legal demais, atencioso demais, cheio de mulher interessada demais, eu concluí o óbvio: não queria nada comigo. 

Depois desse dia ele passou anos dando sinais de que queria sim. Inclusive no dia em que eu disse que estava com vontade de comer torta de morango com chocolate e ele me arrastou por tudo quanto era confeitaria, mesmo que eu dissesse "essa não tá com cara de que tá boa" em todas elas. Acabou me deixando num lugar onde eu tinha que estar no começo da tarde e deu a recomendação de que dali eu fosse direto pra casa dele assim que ficasse livre. Fiz o que ele pediu. Era sábado, eu só saí de onde eu estava quando já era de noitinha, achei que ele teria mais o que fazer, gente pra ver. Toquei a campainha e fui atendida pela mãe dele, que já sabia quem eu era e me levou até a sala. 

- Vanessa, ele já vai descer. Me pediu pra te levar na cozinha, eu fiz uma coisa pra você.

COMO ASSIM??? Eu nem conhecia a família dele ainda, o que teria a mãe dele feito pra mim? Pois foi exatamente isso que você está pensando: uma torta de morango com chocolate. INTEIRA. Pra mim. E você me pergunta se nem assim eu entendi o que esse indivíduo queria comigo e eu te respondo que eu achei que era só amizade mesmo, Silvio, eu sou burra assim. Comemos meia torta na cozinha, ficamos outras quatro horas fechados no quarto dele, ouvindo música e falando mal dos outros. Quando ele provavelmente cansou de tentar entender o que se passava no meu cabeção, me levou pra jantar e me largou em casa, onde eu merecia muito ficar.

Sim, foi nesse dia, na hora em que ele entrou na cozinha e disse "não tinha em lugar nenhum, dei um jeito de conseguir essa bendita torta de pobre que você gosta" que eu soube que de repente, aquele seria o homem da minha vida, aquele por quem eu ficaria arrasada quando o amor inevitavelmente acabasse, que eu odiaria até ficar velhinha ou me ressentiria pra sempre de não ter conseguido fazer dar certo. Não foi a última vez em que ele tentou desenhar pra mim o que ele queria. E eu nunca entendi. Nunca culpei a estratégia dele, de nunca tomar uma atitude mais definitiva de sair me agarrando, tacando na parede e coisa e tal. Se tem um motivo pelo qual eu gostava dele, era justamente esse. Só deu azar de se interessar pela pessoa mais estúpida da galáxia, que não era capaz de compreender todos os sinais e fazer alguma coisa.


Do dia da torta até o dia em que eu entendi o que a torta significava, oito anos se passaram. Desse dia até o dia em que eu me lembrei que sabia ainda onde encontrar esse moço mais o tempo de criar coragem pra ir até lá, foram mais quatro. Do dia em que a gente se encontrou ~casualmente~ até hoje, ele está casado e tem um filho e fim.

Fim.

E se?


aquele da faculdade #1

Estou num processo eterno de limpar as duas mil mensagens inúteis guardadas no meu gmail - duas mil sendo o número exato, não hiperbólico - de modos que eu acabo achando razões pra me deprimir entre uma propaganda de livraria e um comprovante de compra online. Foi nessa limpeza que eu encontrei um email da mãe do cara #1. Pois é. Mais deprimente que sofrer por emails de um amor do passado, é sofrer por emails DA MÃE do amor do passado.

Esse moço eu conheci no segundo ano da faculdade. Em algum lugar do sistema de matrícula teve um erro e algumas pessoas foram misturadas de sala. A maioria corrigiu o problema, mas esse menino resolveu ficar de vez na sala errada. Não demorou muito pra que a gente se conhecesse e estabelecesse laços de amizade. Apesar de ele fazer parte da maioria esmagadora que tinha pais ricos, influentes e com sobrenome famoso, o menino não usava calça jeans nem pra salvar a própria vida, tinha um cabelo enorme e bagunçado que não via pente nem em ocasiões especiais e falava como se fosse nativo de alguma praia qualquer. Era o desgosto da galera. Tinha uma calça de moletom que ele usava os cinco dias da semana (ou eram cinco calças iguais, não sei), daquelas que marcam o joelho depois de umas horinhas sentado. Naquele tempo, eu achava a vibe toda sensacional.

Não demorou muito pra eu me interessar por ele e abrir minha grande bocona pra maior patricinha da sala e do universo. Eu achei que não tinha perigo, né? Mas aí ela quis fazer um "a dama e o vagabundo" versão humanos e nem o cara mais esculachado da galáxia conseguiria dizer não praquela menina. E a amiga feia tem aquelas atribuições estúpidas, né? Tipo ir pra casa da bonita em dia de encontro, pra ajudar a fia escolher a roupa - as que você gosta ela não usa, é claro - e ficar lá quando ela desce pra encontrar o gatchinho, esperando uns 10 minutos até pedir pra mãe dela abrir a porta pra você ir embora.

Só agradeço aos céus por não ser a feliz proprietária de um celular naqueles tempos. Conta a lenda que o combinado é que os dois iriam num restaurante cheio de firula, mas o cara #1 apareceu com a costumeira calça de moletom cinza, uma blusa de moletom preta, o cabelo mais louco do que nunca, dirigindo um carro 1.0 batido e caindo aos pedaços HAHAHAHAH. Por que eu não fiquei olhando pela janela, gente? Por queeeee? A fia me contou isso aos prantos na segunda-feira seguinte à catástrofe. Nunca mais saíram juntos. Ele continuou a vida como se nada tivesse acontecido, apenas pelo fato de me falar do acontecimento usando a frase "eu não sei porque saí com uma menina cheia de frescura. Deveria ter saído com você".

Ainda não foi nessa hora que eu me senti irremediavelmente encantada. 

No ano seguinte, o cara #1 veio me contar que tinha conseguido um intercâmbio sei lá de que jeito e passaria o próximo ano nos Estados Unidos. Tá bom, né? Tirei meu cavalinho da chuva e desencanei completamente da concretização amorosa com esse infeliz. O que eu não entendi (cê jura) era que ele estava me dizendo justamente o contrário: se você me quer, tem que querer agora, ano que vem não tô mais aqui. Quiqui eu fiz, arranjei um namorado velho pra ocupar minha vida e me enlouquecer gradualmente. 

O namorado velho era mais rico que todo mundo que eu tinha conhecido até aquele momento, de modos que a conclusão dos meus coleguinhas de faculdade é que eu era mais pra moça que cobra por companhia que moça que consegue um namorado daquele pedigree. Todo mundo entrou nessa onda de que eu não valia nada, ninguém quis falar comigo o ano inteiro, porque VAI QUE PEGA.

Ali por outubro, a data da partida pros EUA se aproximando, não sei o que deu no cara #1 que voltou a falar comigo. Chegou a pedir minha ajuda pra criar um email (que ano é hoje), pra ter certeza de que a gente não ficaria sem se falar o ano todo. Meu namoro a essa altura estava precisando só desligar os aparelhos, vinha fazia semanas com morte cerebral, mas o cara #1 não sabia disso. Mesmo assim, disse que assim que descobrisse o telefone da casa onde ia morar, eu seria a primeira pessoa saber.

Em dezembro eu comecei a trabalhar no lugar da história anterior, onde o cara #2 em algum momento me levaria chocolates. O que eu não sabia era que eu tinha sido contratada porque a pessoa anterior foi embora pra morar nos EUA. POIZÉ, minha gente. Eu estava trabalhando no lugar do cara #1, cercada de pessoas que amavam o cara #1, com a mãe do cara #1.

No último dia de aula daquele ano, último dia também dele no Brasil, ele resolveu que me levaria até o trabalho, pra poder se despedir direito. Fomos andando até o estacionamento, onde ele tinha parado o carro que nem era mais velho e batido. Entramos no carro e ele começou a falar um monte de coisa, sobre amor e desencontros, sobre trocar de hemisfério pra fugir dos problemas e os problemas irem junto na cabeça. Falou que queria uma coisa simbólica pra me prender por um ano inteiro, pra que eu esperasse ele voltar. Eu já tinha jogado meu namorado no vento e ele não sabia, mas disse que não ia me beijar porque eu não podia. Mas que eu tinha um ano inteiro pra resolver minha vida até que ele voltasse. 

Resolvi acabar com aquela maluquice dando EU um beijo nele (uma coisa inédita na minha história de pessoa medrosa). Quando eu cheguei perto do rosto dele, quase morri do coração com a temperatura que o menino estava. Morrendo de febre. Liguei pro trabalho avisando que ia me atrasar e pedindo pra que alguém ligasse pra mãe dele e avisasse que ele estava no estacionamento, sem condições de dirigir. Fiquei lá até que o irmão dele chegasse pra resgatar. Não tenho muita certeza se ele se lembra de ter me abraçado e falado mais meia dúzia de frases sem sentido até que eu finalmente fosse embora, sozinha, pensando no que é que eu estava fazendo da minha vida.

Duas semanas depois ele ligou pro meu trabalho. Não ligou pra mãe dele, não ligou pra nossa chefe, não ligou pra secretária. Ligou pra mim. Felizmente todo mundo ali conhecia ele e entendeu a choradeira no telefone, apesar de me conhecer há menos de um mês. Também não foi esse o momento da mágica, mas foi o momento que me fez gastar muitos dinheiros uma semana depois pra ficar pendurada com ele no telefone da minha casa, e várias outras vezes enquanto ele esteve fora.

Mas o dia em que eu percebi que já era, que eu casaria com um cara que não era capaz nem mesmo de usar uma calça jeans ou controlar o cabelo, que amava praia e estava a dez mil quilômetros de distância foi o dia em que ele me mandou o primeiro email da vida. Era visível a falta de intimidade com a ~ferramenta~, mas imprimi o email e passei a carregar comigo aonde eu fosse.

Como de fura olho minha vida tá cheia, óbvio que houve uma pedra no meio do caminho. Faltava ainda mais de 4 meses pra ele voltar, no dia em que o destchyno agiu e fez com que a folha em que o email estava impresso caísse da minha pasta. Fura olho com cara de Noviça Celi (nem o google ajuda quem não lembrar dessa) viu o papel voando e fez o que? Deixou quieto? Pegou e me entregou? Abriu e leu?

Abriu e leu.

A reação? Hahahahaha. "Mas ele sabe quem é você? Tem certeza que não mandou errado esse email aí?". Foi pra mim sim, dona Celi. Pode comer o cotovelo aí.

Pois Celi fez da sua via uma missão pra roubar o cara #1 de mim. Cara, quer pegar, pega, ué. Vou fazer o que? Não mando em ninguém.

Eu e ele mantivemos emails de amor e ligações de meia hora. Só que quando ele chegou, estava um ano atrasado na faculdade, né? O que uma pessoa sensata como Celi faria? Isso mesmo, pegou um monte de DP pra poder fazer matérias juntinho com o cara #1. E eu já sabia do histórico da mocinha, que tinha usado a mesma tática com tantos outros antes: combinar de fazer trabalho na casa dela e atender a porta, assim, em trajes mínimos. Cada um joga com as armas que tem e eu não tenho essa aí. O cara #1 caiu no truque e... bom. Entreguei os pontos.

Nessa altura, eu conheci o cara #2 e bom, essa parte vocês já sabem.

No dia da formatura, não lembro MESMO que fim levou o cara #2. Só sei que não estava lá. Eu estava muito maravilhosa na minha vida, bem tranquila, festejante, olhando eterna pra porta em busca daquele proibido, do próximo capítulo. O cara #1 apareceu na minha frente, jurando amor eterno. Pensei que tava tudo perdido com os outros dois, então por que não? Peguei na mão dele e fui.

Quatro horas depois, estava eu indo ao banheiro e vejo o que? ISSO MESMO, ele saindo de lá com a fura olho número dois. A desculpa era que só queria botar fim na pegação com aquela fia, QUE SABIA DA HISTÓRIA TODA, incluindo a da Noviça Celi. Sério, eu tenho um dom pra escolher amigas que deveria ser estudado. Nunca mais olhei na cara de nenhum deles.

Um ano depois, mais ou menos, eu estava numa festa bombadíssima quando apareceu um menino lindo que chamou minha atenção imediatamente. Passei por ele em direção ao bar pra olhar de perto e ele logo me chamou, se apresentou e ficou todo trabalhado na cedussaum. Não quis perder tempo e PEGUEILHO. Meus neurônios falhados não perceberam a tempo, mas vinha a ser o irmão do cara #1, que chegou na festa e deu de cara com aquela belíssima cena, virou as costas e foi embora. Não era minha intenção, mas aconteceu. Na hora achei ótimo, agora acho bocó.

Uns cinco anos atrás eu procurei por ele no facebook, já sabendo que não encontraria. Revirei a lista de contatos até achar alguém que tivesse o email da mãe dele, pra quem eu escrevi, perguntando como ele estava. Babãe provavelmente sabia da história toda do revezamento de irmãos e foi até bem atenciosa no email, ainda que super seca. Finalizando com a belíssima frase "ele finalmente sossegou, tá noivo, deixe ele quieto, tá?". Como se fosse minha culpa o filho dela não valer nada anos antes.

E foi quando achei esse email que resolvi botar o nome do fofíssimo no google. Estava vestido de terno, com uma baita aliança na mão esquerda, com cara de tiozinho: aquele cabelo dividido de lado, ficando careca, uma pancinha. É presidente de alguma coisa importante e provavelmente abraçou a vida sem graça que ele tanto evitou naqueles tempos. Deve ter uns dois filhos e uma mulher loira com luzes, bijuterias douradas e estampa de oncinha e fim.

Fim.

E se?


aquele proibido

Eu evito falar sobre isso porque sempre acho que alguém daquele tempo vai aparecer aqui, lembrar de toda a vibe que envolvia a mim e esse senhor e pensar que alguma coisa aconteceu naquela época, o que não é verdade. Pra ser bem sincera, não aconteceu nada em época nenhuma.

Aquele proibido apareceu entre o cara #1 e o cara #2. Eu ainda estava namorando o velho bocó (o velho que era mais novo naquele tempo do que a idade que eu tenho hoje) e os dois tinham a mesma idade, ele e o proibido. Eu passava a manhã com um e a tarde com outro e não demorou muito pra começar a comparar os dois. Não sei a razão, já que não estava - pelo menos conscientemente - interessada no proibido. 

O velho bocó era realmente bocó extreme, não era difícil ganhar dele em qualquer aspecto. Mas o proibido era perfeito e não demorou até eu tacar meu relacionamento no telhado. Não porque eu achasse que o proibido magicamente largaria a família (pois é) por minha causa. É porque eu não queria ficar com o segundo melhor. Durante esse tempo, o cara #1 estava orbitando à minha volta, mas não casava nem desocupava a noiva. Pra ser bem sincera, eu preferia assim, porque podia gastar meus dias imaginando que o proibido descobriria que estava enganado sobre tudo na sua vida, largaria tudo pra trás e seria feliz comigo pra sempre.

O momento da magia, no entanto, só aconteceu depois de quase um ano de convivência. Eu estava sentada num canto da sala quando Noviça Celi começou a conversar com ele, trabalhando forte na saliência (cê jura). Por alguma razão, ele começou a falar mais alto e elogiar minha inteligência e aptidão pra uma bobagem qualquer. Nem levantei o rosto do que eu estava fazendo. Aproveitei a glória de alguém que não cairia nas artimanhas simplórias da Celi, sorridente com o livro que o próprio proibido tinha me emprestado.

Depois disso, eu e ele tivemos três grandes episódios complexos.

O primeiro foi um encontro casual, e por casual eu quero dizer REALMENTE casual, porque eu jamais imaginei trombar com ele num shopping. Ele dispensou o irmão e a cunhada e disse que ia passear comigo. ANTES mesmo de me cumprimentar, eu vi de longe quando ele se despediu dos dois pra vir na minha direção. Passeamos por uma exposição pelo máximo de tempo que eu aguentei antes de não suportar mais a sede. Imaginei que se eu dissesse que precisava sair pra beber água, o encanto se quebraria, ele se despediria e eu teria que me agarrar àquele pedacinho de memória. Mas ele disse que queria sair da muvuca também e fomos num restaurante escondidinho buscar água, refrigerante e tudo que estivesse em estado líquido. 

Engraçado é que fisicamente eu acho que esse aí se parecia com o Will (aquele, do começo do post) naquele tempo. Aliás, sempre que eu assistia TGW e via todo o erro de timing na vida dos dois, era ele que eu imaginava um dia tendo uma epifania e entendendo que era eu o amor da vida.

Passeamos pelo shopping e esbarramos com amigos dele, que não esperaram nem um segundo pra julgar. Não mudaram de ideia nem quando ele explicou quem eu era ou a razão de estarmos ali. Pensei em ir embora e ele não deixou. Disse que não tinha nada demais. Eu insisti em ir embora, ele quis me levar pra casa e eu não deixei. E ali, naquele momento, duas pessoas que eram conhecidas por nunca encostarem em outras se abraçaram e trocaram um beijinho de bochecha. Achei que nunca mais me recuperaria.

O segundo episódio foi um ~almoço no campo~. Lembro que alguém ligou na minha casa e eu milagrosamente atendi ao telefone. "Quer almoçar no lugar tal, dia tal?" Perguntei quem ia. "Ainda não sei, comecei a ligar agora". Aceitei. Nunca imaginei que ele estaria entre os convidados, muito menos que apareceria.

Quando cheguei ao lugar combinado, vi através do vidro que ele estava lá dentro e ele me viu também. Veio correndo na minha direção, pela primeira vez na vida sem terno e gravata. De bermuda, camiseta e tênis. Achei que ia morrer instantaneamente. Sobrevivi o suficiente pra que ele se convidasse pra sentar na minha mesa. Pra fazer meu prato. Pra buscar quinhentas mil coisas pra eu beber, pra eu não morrer de sede de novo. As amigas que estavam comigo não entendiam nada. O que todo mundo sabia era que o proibido nunca demonstrava intimidade, fazia amizades, sabia da vida de ninguém. E ali estava ele sabendo o que eu queria comer, beber, conversar. Todo.mundo.em.choque. Eu não sabia o que fazer porque, além de tudo, ele fazia parecer muito natural aquela intimidade toda. 

Fiquei na festa o quanto eu aguentei, antes de começar a chorar descontroladamente no banheiro. Ele não me queria. A gente não ia ficar junto no final. Qual era o objetivo? O que eu deveria supostamente fazer com aquilo? Perguntei pra quem me levou se estava tudo bem ir embora e ela disse que sim. Fui me despedir dele, que me abraçou no meio de todo mundo. Deu pra cortar o silêncio com uma faca.

Fui em direção ao estacionamento, onde as meninas todas queriam começar uma inquisição sem fim e eu repetindo que responderia tudo desde que a gente saísse dali. Demorou uns cinco minutos até todo mundo entrar no carro, fazendo com que desse tempo de ver o proibido vindo na nossa direção. Ele passou dizendo tchau e eu perguntei se ele estava indo embora. "Tô sim. Se você vai, não tenho muito mais o que fazer por aqui."

Passei o resto do dia num buraco que tinha no meu quarto, escutando tribalistas hahahha.

FUÉN.

O terceiro e último episódio foi numa época em que a gente já nem tinha mais pessoas em comum. Um dia ele me ligou de manhã e foi até o lugar onde eu trabalhava. Com cara de sono, cabelo despenteado, bermuda e tênis. Essa vestimenta era sempre prenúncio de catástrofe. 

Pois ele entrou na minha sala e começou a falar sobre planos de colaboração em doutorado, que meu nome numa tese aumentaria meus créditos num mestrado, que as coisas que eu tinha escrito num artigo whatever eram perfeitas pra citação num estudo dele blá blá blá. Não precisava de muito mais que isso pra me fazer querer jurar amor eterno. Mas aí ele conheceu meu chefe, que tinha toda uma vibe de pai, que me chamava de pupila, que achava que era meu único mentor intelectual. A ~briga~ que se seguiu ao encontro dos dois foi uma coisa que eu nunca poderia imaginar ver. E os dois insinuando que eu deveria escolher um lado. Eu escolho um de pai e um de marido, isso é que eu escolho!

Foi aí que eu percebi que a situação estava insustentável. Eu não queria ser o pivô da separação de ninguém. E se ele quisesse essa separação, teria ido lá e pedido, não teria esperado pra ver o que acontecia comigo. Então eu tomei a atitude de ir lá e começar a conversa definitiva. Não precisei nem chegar no meio dela. Ele baixou os olhos e disse que estava esperando outro filho e eu entendi o que isso queria dizer. Nos abraçamos pela última vez na vida e fim.

Fim.

E se?


aquele que não tem nenhuma importância pra história

Uma vez eu namorei um cara feio. Mas quando eu digo feio, eu quero dizer que minhas amigas fizeram uma intervenção pra perguntar se eu não tinha batido a cabeça, se eu tava enxergando direito, essas coisas. Se não fosse feio, eu colocaria aqui uma foto do indivíduo pra explicar o que eu tô dizendo. O que piorava tudo era ele ter um amigo daqueles que são a sensação da cidade, por motivos de beleza. O amigo bonito, inclusive, estava me circulando fazia meses. Eu tinha um peguete fixo nessa época, não estava interessada. Depois não estava interessada porque ele não fazia meu tipo, porque não, não sei. 

Um dia o moço bonito me convidou pra ir ao clube, uma coisa que todo mundo fazia o tempo todo e eu fui. Não demorou pra encontrar metade da escola espalhada pelos banquinhos, escolhemos uma turma e sentamos com eles. No meio desse povo estava o cara que não tem importância nenhuma. Ele foi até bem mal educado, sabe-se lá qual o motivo. Nunca levei tanta patada em tão pouco tempo. Desisti, levantei e fui embora. Não tava chateada nem nada, só tinha gente mais legal pra ficar perto.

No mesmo dia à noite tinha um show de pagode. Você não sabe o que é desespero até morar numa cidade de cinco mil pessoas e ter que escolher entre ir ao pagode e não ter vida social aos 16 anos. Você escolhe o pagode. Eu fui ao pagode. O cara que não tem importância nenhuma estava lá, estúpido como antes. Mandei catar coquinho e fui dançar alegremente, sozinha. Um dos meus amigos levou uma menina prum cantinho, o outro estava vomitando até a alma no rio, o outro estava querendo provar que era lindo sim e pegava quem quisesse. Fiquei aproveitando o momento sozinha, concluindo que deveria ter ficado em casa escutando Iron Maiden que ganhava mais. Não sei o que possuiu o cara que não tem importância nenhuma, porque ele foi dançar comigo, parou de ser estúpido e resolveu que me queria muito. Fez alguma piadinha extremamente nerd e foi só o que precisou pra dar o estalo de "vou casar com esse cara e ter muitos filhos de QI gigante". 

Felizmente esse equívoco juvenil dissipa rápido. O cara que não tem importância nenhuma e que também era o mais feio do mundo me trocou por uma menina TÃO FEIA que eu não tive escolha senão rir. Levou um tempo, mas a gente virou amigo, somos amigos até hoje, oremos pra que ele não leia mais meu blog, porque é alguém de quem eu gosto muito. Mas não tinha nada a ver aquele estalo, não era amor e fim.

Fim. 

E só.


aquele de outro país

A gente fica assistindo "PS, eu te amo", "Casa comigo?", "O amor não tira férias" e acha que é só ir pro Reino Unido pra encontrar o amor.

Não acontece.

Mas eu conheci um moço sobre quem não quero dar muitos detalhes. Na verdade, conheci vários moços que propuseram desde casamento pra que eu ficasse no UK, casamento pra que eles pudessem vir pro Brasil. Mas teve esse cara que nem tinha nada muito especial, não era particularmente bonito e há boatos de que nem banho tome frequentemente. Não preciso dizer que não estava exatamente chamando a minha atenção. Mas de repente um violão apareceu e uma versão de why does it always rain on me melhor que a original foi o suficiente pra me fazer querer jurar amor eterno. 

Obviamente não foi recíproco, três dias depois eu voltei pro Brasil sem importar ninguém, sem história de filme da sessão da tarde e fim.

Fim.

E só.

aquele de 20 dias atrás

Eu estava tendo um dia DAQUELES. Tudo estava dando errado, eu estava de mau humor, atrasada, com fome. No meio da muvuca apareceu aquele que também pode ser chamado de o prometido. Obviamente a história toda é muito recente, ainda estou descobrindo detalhes sobre o prometido, ainda não sei se o prometido será o realizado.

Demorou mais ou menos uma hora pra eu prestar atenção na mera existência do prometido, mas quando finalmente resolvi olhar pra ele, minha nossa. 

O sol estava batendo de um jeito nos olhos dele que eu não tive condição de completar um pensamento equilibrado pelos vinte dias subsequentes. Naquela hora eu soube que mobilizaria 130 pessoas para fins investigativos, pra ver se valia a pena mesmo. Neste momento acho que sei até o que ele come no almoço, mas ainda não tive coragem de adicionar no facebook e fim.

Fim?

E se...

aquele de 20 anos atrás

É indecente que uma pessoa de menos de 40 anos se apegue a alguém que conheceu vinte anos atrás, eu sei. E não tem uma vez que eu comece a escrever sobre essa história e não empaque. Estamos aqui contabilizando OITO DIAS tentando. 

O problema com essa história que é ela ainda está em andamento, entende? Fica um pouco difícil de tratar de forma objetivo. E no meio desses oito dias de empacamento, o que acontece? Isso mesmo, uma coisa diferente de tudo que já tinha acontecido nesses vinte ano tudo. Tenho pobres quatro amigos recebendo mensagens loucamente a repeito de uma bobagem tão pequena que olha, só tendo muita paciência comigo.

Essa história obviamente começou quando eu era criança e é tão ridícula que não vale nem a pena os caracteres desperdiçados. Eu mantenho muito poucos amigos daquela época e estava falando com uma delas recentemente, quando ela me fez a inevitável pergunta do andamento da vida amorosa. Respondi "lembra do fulano?", e ela falou que lembrava vagamente. Continuei "irmão do beltrano", que obteve a resposta "AHHHHHHHHH, MAS É CLARO QUE EU LEMBRO", mas não era do irmão que você gostava?

Hahahahahahaha e não, não era. O irmão foi o escolhido pelas minhas amiguinhas preocupadas com a minha condição de pessoa que nunca tinha beijado na boca na vida pra corrigir issaê. Grazadeus não deu certo. Também não deu certo com o irmão que eu de fato queria e isso foi motivo de muita risada na última vez em que a gente se viu.

O engraçado de uma história que dura essa quantidade de tempo é que você tem que se apaixonar e desapaixonar um milhão de vezes pra que ela não te enlouqueça. Você desapaixona porque as circunstâncias não permitem que vocês fiquem juntos, então você tem que superar e continuar vivendo. Você apaixona porque a pessoa nunca chega a ir embora definitivamente e quando acontece aquela onda que traz de volta pra sua vida, você se lembra de tudo que te encantou outras vezes.

Foram inúmeros momentos de mágica. Na arquibancada da escola, quando eu estava sentada me sentindo miserável e abandonada, me dando conta de que teria aquela sensação de inadequação pelo resto da minha vida, de estar no meio de uma festa em que todo mundo está se divertindo, mas eu não consigo me conectar. Ele estava no meio de uma rodinha que conversava animadamente e ria, mas olhou pra mim de lá do meio da multidão, veio na minha direção e sentou do meu lado. Não fez perguntas idiotas, do tipo "aconteceu alguma coisa?" ou "você está chateada?", poque não era o caso. Simplesmente sentou ali e continuou uma conversa muito boba que a gente vinha tendo há dias. Estávamos chorando de rir menos de 15 minutos depois. Aí eu soube.

Num dia de sol forte, em que eu estava escondida atrás de uma parede lendo um livro. "Esse sol refletindo na parede branca vai te deixar cega". Nem vi quando ele chegou. De novo, sentou do meu lado e ficou ali. Não pediu atenção, não pediu nada. Não levou nem cinco minutos pra eu largar o livro e prestar atenção só nele, nessas conversas que a gente tem que começam do nada absoluto e a gente acaba passando oito horas falando sobre tudo e sobre nada.

O dia do qual eu realmente não lembro muita coisa, mas lembro da antecipação do "será que é hoje que ele me beija?" e ele não beijou e até hoje ele acha que eu não beijei primeiro só porque eu sou menina e acreditava que quem tinha que tomar a iniciativa era o menino.

O dia que eu finalmente tive um resultado para o nome dele na busca de uma rede social, revirei o perfil e encontrei uma foto que mostrava que ele continuava sendo a pessoa mais engraçada e inteligente que eu já vi na vida.

O dia em que eu não percebi que tinha clicado no perfil dele por engano e não estava vendo a timeline principal do facebook, nem reparei que as postagens eram todas da mesma pessoa (burra) e saí curtindo e comentando tudo loucamente. Em algum momento meu cérebro fez a importantíssima sinapse e me fez acreditar que tentar explicar só pioraria a situação. Abracei a stalker interior e fui olhar as fotos e me apaixonei tudo de novo pela pessoa que faz o que tem vontade, que é tão engraçada que quase ninguém entende a piada (ou percebe que existiu uma piada), que faz tudo diferente, nem que seja só pelo prazer de sentir que não está preso ao pensamento que prende os outros todos.

O dia em que a gente saiu pra passear e eu pensei "não tem como uma pessoa do mundo real se comparar com uma pessoa que viveu na sua imaginação por tanto tempo" e levei um grandessíssimo stuplash na minha cara, porque era um daqueles casos em que a realidade é ainda melhor que a imaginação.

Com tanta magia, o pobre leitor pode pensar que eu coloquei roupas brancas e esvoaçantes, soltei o cabelo e esperei um dia de chuva pra correr pelas ruas em câmera lenta na direção dos braços do platônico objeto de desejo, mas a verdade é que não. Sabe quando a história vai ficando melhor e melhor e melhor e os diálogos vão ficando melhores e mais complexos e a realidade tem capítulos que você nem conta pros outros porque são tão bons que você quer egoistamente guardar pra você mesma? Eu acho que tirar do mundo das ideias e trazer pro da realidade só vai arruinar uma coisa que estava perfeita, eu acho que a vida estraga todas as coisas que vão muito bem na imaginação. ME ABRAÇA, PLATÃO.

E cada vez que um dia é melhor que o outro, eu fico no relacionamento imaginário de Schrödinger: se melhora toda vez é porque talvez seja bom até de verdade. Mas agora tá tão bom que eu não quero estragar. E fim.

Mas não é o fim.

É um baita de um "e se?".




*****

E a morte do Will com isso?

Os escritores escreveram uma carta para o público explicando que, quando o ator decidiu não renovar seu contrato, eles começaram a imaginar qual seria uma boa saída para o personagem dele. Eles entenderam que casamento, mudança de cidade, estado ou país, ou a vida, de qualquer forma, não seria suficiente pra acabar com o relacionamento ou com as implicações do relacionamento não realizado. Tamos aí de prova de que é verdade. Então eles acharam que a única coisa definitiva pra esse casal era a morte.

E eles fizeram assim, bem boba, bem inesperada, num dia que estava acontecendo normalmente, que era pra ficar parecido com a vida: um dia você acorda e tudo está certo e igual estava ontem até que a tragédia quebra sua vida e você tem que lidar com isso.

Isso me fez pensar - de novo - se a gente não fica perdendo tempo demais com bobagens. Enquanto ficava enrolando pra terminar esse post, assisti também ao final de How I Met Your Mother (um cocô mole, se você quer saber minha opinião) e fiquei com isso na cabeça, de que todo mundo morre, de que a gente nunca sabe quando vai ser, que pode ser alguém pra quem eu podia ter dito alguma coisa relevante e mudado o curso da vida e que pode até mesmo ser eu.

Mesmo assim, eu permaneço aqui na inércia da falta de coragem de fazer alguma coisa e sigo minha vida reclamando da minha falta de timing, cultivando infinitos relacionamentos imaginários that could have been. 

Talvez não fossem pra sempre, mas fossem alguma coisa, né?

Jamais saberemos.