sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Michael Jackson's daughter

Gente, que nome mais randômico pra esse post. HAHAHA



Mas é que esse pontinho marrom de saia azul nessa foto aí vem a ser eu. Hoje em dia a cor da minha pele tem um tom assim, puxando pro palmito e a maioria das pessoas não sabem do meu passado de melaninas hiperativas. Aliás, essa foto surgiu de uma pesquisa interna para um post que tá quase pronto, de como eu nasci preta e fiquei branca raízes e etc., mas eu quis fazer esse parêntese em forma de post quando encontrei esse belíssimo registro fotográfico.

*****

Duas coisas marcaram minha infância, para efeitos dessa história:

- a vida social intensa dos meus pais;
- viagens mil, para tudo que é canto deste país.

A gente vivia recebendo gente em casa e indo na casa dos outros. E viajando. Meu Deus, pra que tanta viagem? Quem diria que pais extrovertidos multiplicariam em três criaturas das cavernas, não é mesmo? Bom, entre os três milhões de amigos dos meus pais, tinha essa família carioca que morava em São Paulo, mas em algum ponto acabou voltando pro Rio. Quiqui meus pais acharam incrível fazer? Isso mesmo, esperar o carnaval mais próximo, botar as duas pirralhas no carro e ir rumo ao Rio. No. Carnaval. Aí cêis perguntam de onde vem meus trauma tudo e veja só que começaram cedo.

O ano era 1989, de modos que eu ainda tinha 8 anos, minha irmã tinha 3. 

O plano era ir direto pra cidade do Rio e depois ir visitando outros lugares na volta pra São Paulo. Então passamos vários dias entre Rio e Niterói e meus pais aguentando meus comentários super perspicazes, estilo "AI MEU DEUS, TÔ RESPIRANDO O MESMO AR QUE O CID MOREIRA" ahahhaa que dó da criança perturbada.

A gente fez um monte de passeio óbvio, tipo ir em praias famosas, subir o Corcovado (com a pequena Vanessinha contando os degrau tudo, que horror), ir ao sambódromo vazio e sair sambando loucamente, toda sorte de morros que não envolviam favelas, etc etc etc. Quase tudo com mais gente junto.

Mas teve esse dia que saímos só nós e uma das filhas do amigo do meu pai. Ficamos andando de carro pela cidade e eu não tenho muitas memórias desse dia, além de a gente na praia, uma coisa que sempre me dá aflição, pisar na areia e tal. Só que foi nesse dia que eu descobri a existência de tatuís e vos digo: se fosse possível um cerumano voar, eu teria descoberto a forma naquele dia. QUE.NOJO.MELDELS. Então eu fiquei muito traumatizada, querendo apenas voltar pro carro e pro cimento o mais rapidamente possível.

Pois a hora chegou e aí eu posso estar um pouquinho enganada APENAS nesse trecho. Na minha memória, a gente tava num posto de gasolina, numa espécie de centro comercial. Meu pai foi pedir dica de passeio pra fazer com três crianças e o cara que falou com ele respondeu muito calmamente "atrás dessa cancela aqui é um condomínio, a Xuxa mora aí".

EU.JU.RO.

Minha mãe foi perguntar se a gente podia entrar, só pra dar uma olhadinha na fachada da casa da Xuxa e o cara falou que não, veja bem, não pode, cê vai me quebrar merrrmão, ah, pode. Sério, o cara abriu a cancela e a gente entrou no condomínio onde morava a Xuxa. Três crianças gritando no banco de trás, porque o moço falou até o número da casa. E a gente lá dentro bem contente tentando encontrar onde ficava. 

Cê imagina o tamanho do lugar, né? Porque o tio falou que não era pra gente parar nem descer do carro, era só pra olhar. Mas depois de andar por ruas e mais ruas, casarões e casarões, numa década em que câmeras de segurança praticamente não existiam (gente, A GENTE ENTROU NO CONDOMÍNIO, COMPREENDE?), não tinha um segurança no perímetro, cê pergunta se a gente ficou com a bunda quieta no carro? Claro que não.

Achamos a casa e ficamos lá "ohhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh". O portão estava com uma fresta aberta e meu pai foi botar o zóião lá e começou "o Senna tá aí, eu tô vendo o carro do Senna aí" hHAHHHAKSDJDSHKF, meu senhor, e você lá conhece o veículo do Ayrton Senna? E meus pais fizeram o que qualquer pessoa sensata faria: tocaram a campainha.

Vem uma pessoa muito bem humorada (não) até o portão e aí eles explicam que as crianças estavam super empolgadas pra conhecer a Xuxa. 

Gente, cêis tão alcançando a cara de pau?

A funcionária dizendo que não tem como, que ela chegou tarde em casa e tava dormindo, não podia chamar. Três crianças abrindo um berreiro "não acredito que tô tão perto da Xuxa e não vou falar com elaaaaaaaaaaaaaa", eu fazendo comentários "tô respirando o mesmo ar que a Xuxa" e chorando, aí a mulher falou pra esperar um pouquinho.

E deixou o portão aberto.

E ninguém entrou, porque a gente tem limite na falta de educação HAHAHHAHAHAHA.

Ficamos lá imaginando que a Xuxa OBVIAMENTE iria até o portão, claro, né? Ela não deixaria as quiança lá sofrendo, certeza. 

Aí volta a funcionária com aquelas fotos impressas em papel cartão, com assinatura também impressa, dá uma pra cada uma e fala "a Xuxa mandou um beijo pra vocês".

E FIM.

Sem zueira, a mulher simplesmente foi fechando o portão e tchau, galera. A Xuxa não foi falar com a gente.

Minha mãe então teve a brilhante ideia de tirar uma foto nossa lá na frente da casa, pra que a gente pudesse provar que esteve na casa da Xuxa, ué. Porque tá escrito com uma flecha "XUXA MORA AQUI", como vocês podem ver ¬¬ Mandou ninguém mentir falando que VIU a Xuxa, mas que todo mundo acharia legal a história de como a gente ficou lá mofando na frente da casa dela, chorando e mendigando amor.

Aceitamos a derrota e prosseguimos com a viagem. Quando chegamos em casa, fui eu lá bem contente com a foto da Xuxa e a foto da casa da Xuxa contar pra todo mundo e, surpresa, ninguém acreditava. 

- mas essa foto é impressa e o autógrafo também!
- eu sei, a gente não viu a Xuxa, foi a funcionária dela que deu.
- vocês podem ter pegado isso aí em qualquer lugar.
- podia mesmo, mas foi na casa dela.
- TÁ BOM QUE CÊ FOI NA CASA DA XUXA, NÃO SONHA!!111

E assim foi todas as milhões de vezes que eu tentei contar essa história. Fiquei véia, tenho mais de 30 anos e as pessoas ainda dão risada e me olham como se eu fosse louca, mas, gente, EU NEM VI A XUXA, CARA. Eu via a garagem da casa da Xuxa por uma fresta no portão e ganhei um cartão que devia ser distribuído a rodo pra todas as crianças do mundo, incluindo aquelas bocó que mandavam carta para a rua Saturnino de Brito, 74, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, CEP 22470. (Sim, de cabeça.)

Inclusivemente, no dia em que isso aconteceu, quando voltamos pra casa da menina e contamos pra família dela, ninguém levou a sério.

Então é isso: tô aqui contando pra vocês do dia quem um porteiro muito do sem noção abriu um condomínio de luxo pra cinco pobretão entrarem, pra fazer a alegria das crianças de passar.na.frente.da.casa.da.Xuxa.

E ninguém acreditar.

Pensa em baixas expectativas de vida.