sexta-feira, 24 de abril de 2015

you're gonna hear me roar

Da série: explicando minha vida com letras do cancioneiro do pop merdão.

the eye of the tiger

A única coisa que eu sinto que resolvi mesmo na psicóloga foi um aspecto da minha autoibagem. Quando ela mandou que eu me descrevesse com uma palavra, eu usei a mesma palavra com que eu sempre me descrevera (hahahahhahahahahhahahahhaha vish) até ali: egoísta.

Eu passei trinta e três anos da minha vida achando que eu era egoísta e sofrendo consideravelmente por causa disso. Ainda hoje eu não consigo, por exemplo, ~jantar na rua~, se eu sei que tem alguém em casa. Você não entendeu? Assim: eu preciso ir na papelaria e só posso fazer isso depois do trabalho. Eu moro na roça, então o único lugar com comércio aberto depois das 18h é o shopping. Então eu vou até o shopping e aproveito pra ir na farmácia, comprar roupa, essas coisas. Dá 20h e eu tô o que? Com fome. Eu tô onde? Na rua. Tem o que? Trinta e oito restaurantes diferentes. Que opções eu tenho de acordo com a minha cabeça?


a) permanecer com fome e ir pra casa, onde todo mundo já comeu e só sobrou meio pão seco e coca em gás ou


b) comprar comida pra todas as pessoas da casa, de acordo com suas preferências pessoais, pra poder comprar comida pra mim mesma de acordo com a minha preferência pessoal e ir comer fria em casa.


Se eu comer onde eu tô e não levar nada pra ninguém, chego em casa e minha mãe tá cozinhando e todo mundo me esperando pra jantar.


E aí eu choro por 4 horas, porque sou uma pessoa horrível.


É bem esse nível aí mesmo e eu tô suavizando pra vocês.


VINTE ANOS DE VIDA ADULTA NESSAS CONDIÇÕES PRECÁRIAS.


*****

Um parêntese desnecessário, shall we?

Péra, um parêntese do parêntese: eu tava relendo arquivos muito antigos do blog e de posts que eu nunca cheguei a publicar e, GENTE, eu tenho uma quantidade de ex namorados tão grande que meus neurônios não conseguem dar conta de lembrar de todos. Quando eu vejo, tô tentando achar informações mais detalhadas das pessoas que eu descrevo como namorados (ou afins), porque eu tenho absolutamente ZERO memórias dessas pessoas, às vezes com nome estampados nos posts. [/mulher rodada]

Aí tinha esse ex.

Meu deus, minha capacidade de escolher namorado é uma coisa que a ciência deveria estudar. E tem tantos pra analisar, daria um estudo incrível.

Esse um aí era praticamente um stalker. Eu terminei com ele umas 20 vezes diferentes e ele continuava aparecendo na minha casa e eu tava cansada demais pra discutir, então eu fingia que ele não estava lá e ele achava que o relacionamento ainda estava acontecendo.

Até que numa semana ele conseguiu me ligar 5 dias seguidos na mesma hora e num deles, gente, eu tava no banheiro, sabe? E eu não levo celular no banheiro, mas mesmo que levasse, não é como se eu fosse ATENDER uma ligação no meio ali das atividades. Não vou, não sou obrigada. E o indivíduo me ligou seis vezes nesse curtíssimo período de tempo, deu um chilique por eu não ter atendido, sendo que eu sabia que ele me ligaria cronometricamente naquele instante e ó minhas ruga? No dia seguinte, eu queria fazer uma coisa sem ele (eu queria fazer TODAS as coisas sem ele), então saí do trabalho correndo e fui pra onde eu queria ir com o celular no silencioso. Quem tá na porta do lugar onde eu tô indo? Isso mesmo. Um faro incrível. Pois eu fiquei escondida atrás de um pilar até o cuco me ligar no horário exato, eu dizer que estava em casa e ver ele bem lindo (não) indo em direção ao seu carrinho pra me stalkear no meu lar, enquanto eu fazia tranquilamente o que eu precisava fazer.

Claro que meia hora depois ele me liga de frente da minha casa me contando que eu não estava lá, eu digo que não sou obrigada a dar satisfação e saí, ele me diz que tá indo até mim, eu digo que estou voltando pra casa, porque ainda preciso passar no supermercado pra comprar comida e ele diz "então eu te levo".

O que vaneça pensa nesse momento? 

- posso comprar MAIS comida, se um carro for carregar as sacolas, viva!

Pois chega o encosto e dá a sugestão de tomar um lanchinho antes de ir ao mercado e eu digo que não. O que ele faz? Isso mesmo, dirige diretamente até um restaurante que eu não gosto.

Chegando lá, eu peço uma micro porção de qualquer coisa, enfatizando que, apesar de faminta, pessoas estão me esperando (e à comida) pra jantar, então tem que ser rápido. Ele pede meio menu. Minha porção chega antes, ele come 80% da minha pouca comida, come toda a comida dele e, quando eu vou até o banheiro por 10 segundos porque estou perdendo sangue pelo nariz, adivinha quem foi pedir a conta e pagou apenas metade e me avisou com muito amor que só faltava eu pagar a minha outra metade? Magina que a conta deu 100 reais. Eu comi o equivalente a 10 e paguei 50 :)

NÃO TEM COMO NÃO AMAR.

Pra completar, quando eu reclamei do absurdo que tinha acabado de acontecer, o que o equilibradíssimo fez? Me.deixou.em.casa. Eu gritei, eu pedi ajuda pras entidades superiores, eu avisei que tinha que comprar comida, mas o infeliz me deixou em casa e falou um romântico "se fode aê", porque eu sou muito grossa e não mereço ajuda.

De modos que eu entrei em casa chorando como se tivesse morrido alguém (além da minha dignidade), não sem antes planejar uma forma horrível e dolorosa de terminar esse relacionamento (eu venci, mas isso é assunto pra outro dia) e ainda fui muito mal tratada pelos envolvidos todos porque, NOSSA, QUE QUE CUSTA TRAZER COMIDA?

Fica assim uma vida de traumas nesse sentido.

E você me pergunta como eu sou gorda, se eu NÃO COMO devido à culpa. E eu te digo que é por causa dos remédios e de um rim faltando e você não acreditará em mim.

¯\_(ツ)_/¯


E foi assim com a minha vida toda. Eu compro uma blusa legal, eu compro TRÊS, porque é uma pra mim, outra pra minha mãe e outra pra minha irmã. Teve um tempo que eu comprava SETE, porque adicionava primas e tias na equação. Alguém falava que gostava de uma coisa minha, eu comprava igual pra pessoa. Fica aqui a dúvida: como será que empobreci? Não tenho ideia.

Eu gastei meus dinheiros, meus tempos, minha saúde, minha sanidade mental em favor dos outros e de noite eu ajoelhava no milho porque, meldels, quanto egoísmo, como que pode????

Aí minha pissy me contou que isso é o contrário de egoísmo e que eu estava sofrendo uma certa chantagem emocional do universo por motivos de bundona.

Levou ainda um tempo pra eu acreditar, mas num dia muito iluminado, kátia peres começou a cantar Roar no meu shuffle e eu tava parada no trânsito, comecei a cantar prestando atenção na letra e veja só você que epifania mais incrível: eu sou legal demaissssssss, mas esse tempo acabou e agora fique aqui cos meus rugido (vamos fingir que não errei e escrevi mugido antes).

I used to bite my tongue and hold my breath
Scared to rock the boat and make a mess
So I sat quietly, agree politely
I guess that I forgot I had a choice
I let you push me past the breaking point
I stood for nothing, so I fell for everything


Kátia provavelmente tem uma câmera escondida na minha casa, na minha vida. Stood for nothing, fell for everything era meu lema de vida. Sempre muito educada concordando, sorrindo e acenando, pensando "coitada dessa pessoa, ela já é feia, burra, chata e sem graça, vamo deixar essa vitória acontecer pra ela" e eu só me lascando. 

You held me down, but I got up
Already brushing off the dust
You hear my voice, you hear that sound
Like thunder, gonna shake the ground
You held me down, but I got up
Get ready, ‘cause I've had enough
I see it all, I see it now


Mas eu me dei conta do que tava acontecendo e foi muito difícil pras pessoas, porque "nossa, cê foi sempre tão legal, de onde veio essas grosseria agora?". UÉÉÉÉ, MAS EU NÃO ERA JÁ UMA GROSSA? Sivira, kiridinha, essa é a nova eu e falar grosso é meu novo way of life. 

I got the eye of the tiger, a fighter
Dancing through the fire
'Cause I am a champion
And you're gonna hear me roar
Louder, louder than a lion
‘Cause I am a champion
And you're gonna hear me roar


Talvez não seja assim pra taaaaaanto, baby steps, né? Mas o negócio é que agora eu não vou só mais me colocar em primeiro lugar: as madame vão saber que eu estou em primeiro lugar sim e que não gostar que deite na BR.

Now I'm floating like a butterfly
Stinging like a bee, I earned my stripes
I went from zero, to my own hero


Tamos trabalhando ainda nessa parte de voar como uma borboleta e ser o próprio herói, porque, veje bem, é muita coisa errada dentro da cabeça de uma pessoa só (no caso, eu), mas se você vai me tratar como uma abelha, pelo menos agora eu faço jus às minhas listrinha.

Que combinarei com bolíneas, pois Agostinho Carrara ÍDOLO.

E é assim, gente. Eu sou um amor, eu sou um doce, mas agora tamo aí rugindo rumual jantar romântico comigo mesma fora de casa, sem pedir o acompanhamento do pacotinho pra viagem, que todo mundo é grande o suficiente pra caçar sua própria comida e me deixar em paz.

:)

(Não sei se é conveniente deixar aqui o aviso de que talvez seja importante compreender a ideia de metáfora antes de ler c e r t o s p o s t)