sexta-feira, 8 de maio de 2015

my life as an introvert

cê jura

Esta provavelmente não será a última vez que vou falar sobre isso, até porque deve ser a primeira??

Here we go.

Eu nunca tive o poder da invisibilidade.

Já falei aqui que que estudei em literalmente 10 escolas diferentes, numa época em que existiam 11 séries, mudando de cidade 3 vezes enquanto isso. Cada vez que vinha a notícia "arruma as malas, escola nova", eu pensava: agora eu vou fazer tudo diferente. Fazia diferença? Nenhuma.

As pessoas todas aprendem meu nome numa rapidez incrível. Professores, então? Vish. Não interessa se é na primeira série, no primeiro dia da faculdade, no mestrado. Todo mundo sempre sabe quem sou eu. Sempre fui o tipo de aluna que passa na escola 8 anos depois e a diretora vem alegremente cumprimentar.

Não faço ideia do motivo. 

Nunca fui bagunceira (mentira, teve uma fase que fui sim), nunca tive nenhuma característica marcante, nem dava tempo de parecer especial.

Mas não era só na escola. É em todo lugar. Eu posso me manter firme no propósito de chegar incógnita em um lugar ou grupo de pessoas, mas não dura muito tempo.

Na história recente, por exemplo, teve um dia em que eu estava com uma amiga no shopping e a irmã dela ligou convidando pra ir a um bar. Lá, um grupo de umas 20 pessoas dividia uma mesa e, além da minha amiga, eu conhecia mais uma pessoa e só. Minha amiga logo se fundiu na conversa que já acontecia e eu fiquei do lado do meu outro amigo, olhando o movimento das pessoas. Esse meu amigo fazia mestrado em letras e estava com um livro sobre a história da linguagem que me interessou bem mais que a conversa que estava acontecendo ali. Abri o livro e comecei a ler, rindo sozinha de algumas partes que explicavam o surgimento de algumas expressões da língua (até onde eu me lembro, tinha do português e do inglês). Meu amigo me perguntou do que eu tanto ria e eu comecei a comentar as que mais me interessaram e a gente estabeleceu uma dinâmica que consistia em ele ficar olhando pra minha cara, enquanto eu lia, achava alguma coisa engraçada, interpretava e a gente ria junto. Quinze minutos depois, não tinha mais nenhuma conversa acontecendo na mesa, todas as pessoas olhavam fixamente pra mim, esperando a próxima bobagem que eu narraria dramaticamente. O problema é que depois que eu me dou conta de que isso está acontecendo, a naturalidade vai embora imediatamente. Se eu aguento o tranco, a porção teatral da minha personalidade me arrasta até o limite. Se eu me desespero, fico vermelha, faço a tímida e calo a boca pra todo o sempre. Nesse dia eu fiz um show de umas duas horas, até acabar o estoque de energia da minha pessoa e parti para o meu lar, não sem antes ouvir do meu amigo que era ótimo ter uma amiga engraçada, porque mulher nunca é engraçada. E que mulher nunca é engraçada porque homem não gosta. Mas isso não é relevante pra história. (Ou é, não sei.)


*****

Eu passei anos da minha vida tentando entender se eu era tímida. Porque não era exatamente timidez que parecia, parecia outra coisa. Me perguntava se não era uma timidez bipolar suave, que ia e vinha, dependendo da situação. Ou se era um caso raro que não fazia muito sentido mesmo. Ou se eu era só falta de vergonha na cara. Ou muleta pra situações desconfortáveis.

Demorou muito pra eu aceitar que não é que eu não precise de pessoas o tempo todo, eu preciso ficar SEM pessoas por longos períodos de tempo. Mas não é que eu não goste delas, é que eu preciso de tempo e espaço pra compreender a mim mesma.

Só que tem esse probleminha de ter uma humorista do zorra total aprisionada em mim.

Por que não é que eu seja engraçada, mas eu acredito que seja. Ninguém tá rindo, mas eu não consigo parar. Você tenta abaixar o volume, mas eu ainda estou falando alto demais. De modos que é um pouco difícil não chamar a atenção de toda a humanidade. E aí no fim do dia, todo mundo sabe meu nome. No fim do mês, todo mundo sabe muitas coisas a meu respeito, no fim do ano todo mundo sabe até que marca de papel higiênico eu prefiro.

E, mesmo com esse eterno holofote que anda em cima da minha cabeça, o padrão é entrar em pânico com toda essa atenção.

*****

Foi só recentemente que entendi que mal me acometia: eu sofro de introversão. Mas num é uma coisa assim pouca e suave. É hardcore introversion, é acabar chegando num site chamado introvert, dear e ver o mundo fazendo sentido pela primeira vez na vida.

Vamos por partes: 

Aparentemente, existem 16 tipos diferentes de personalidade, de acordo com Jung, Briggs e Myers (aloca da referência teórica). Já fiz esse teste um trilhão de vezes, em várias fases da minha vida e sempre fui INFJ. O que isso significa? Introversion, intuition, feeling, judging, ou, em outras palavras, QUE DELÍCIA SER EU. INFJs correspondem a menos de 5% da população, não conseguem sentir aquela alegria de adequação e sentem como se tivessem caído da nave-mãe e se perdido. Uma frase que eu repito desde que descobri o conceito de extraterrestre. Aí tem aquela parte "são comumente confundidos com extrovertidos, porque se importam demais com os outros". MAS NUM É QUIÉ? Perfeccionistas (o que é diferente de fazer as coisas muito bem feitas), birutas que vivem no mundo da lua, APASHONADOS POR ♥PALAVRINHAS♥, independentes, analisadores (judging you), idealistas e etc. Temos a vida regrada pelas sábias palavras de Katia Cega: não está sendo fácio.

E é isso aí mesmo, gente. Teve um dia, em Dublin, que eu tava vivendo um momento de filme. Tava num pub cheio de gente bonita, com sotaque legal, pints voando por cima das cabeças das pessoas, tudo de acordo com um roteiro bem escrito de róliúd. De repente, o DJ coloca Mumford and Sons pra tocar a música modinha da época, Little Lion Man, cuja letra eu sabia de cabo a rabo. Berrando do fundo dos meus pulmões, como 100% das pessoas dentro daquele bar, por um momento eu olhei em volta e enxerguei uma clareira imaginária. Não tinha nem 10 centímetros entre mim e os amiguinhos, mas eu enxergava um buraco, dentro do qual estava apenas eu. Todas as pessoas de braços erguidos e olhos fechados, todo mundo cantando igual. Por uns 3 segundos eu me senti parte do todo, sim. Mas não durou muito a sensação, de repente eu não estava mais ali e, se eu sumisse (mais), ninguém perceberia.

Sabe?

Meus amigos estavam ali, abraçados uns nos outros, sorridentes, e eu sentia como se fosse desmaiar. "Se eu não estivesse aqui, faria diferença?". E é um pensamento que eu não consigo evitar. E dessa hora em diante, a única coisa que meu cérebro consegue pensar é: vai pra casa vai pra casa vai pra casa vai pra casa. A casa estando 10 mil quilômetros de distância, fica um pouco complicado. Tem que se controlar, né? Aí vai pro banheiro, se fecha na casinha, respira, mentaliza o silêncio do quarto, volta, faz cara de bonita e segue.

Esse é o sentimento em absolutamente todas as festas em que eu vou na vida. Tem mais de 10 pessoas e existe a possibilidade de eu não poder participar de uma conversa? Vai rolar um momentinho de extrema inadequação.

*****

Agora vou usar este artigo pra explicar alguns tópicos da alegria da introversão (os chatos eu vou estar pulando sem medo de ser feliz).

O sentimento de ser mal entendido

Às vezes eu simplesmente sei as coisas e não sei como explicar. Exemplo? O elevador do meu prédio no trabalho é da era das cavernas (anos 60). Fizeram uma plástica no exterior, ele parece jovem, mas tem um corpinho véio e cansado. Trava 200 vezes por dia, geralmente com gente dentro. Quando acontece, de lááááá da minha sala, eu aviso "alguém pode ir lá resgatar as pessoas presas no elevador?". Eu não vou porque não tenho ferramentas pra isso, mas aviso toda vez. Um dia me perguntaram como eu conseguia acertar 100% das vezes. A resposta é simples: eu ouço o alarme. Porque, veje bem, o alarme não é ligado em lugar nenhum. Não tem um painel ou uma pessoa que fique ali a postos pra salvar pessoas presas. Tem um apito dentro do elevador que a pessoa aperta e ora pra que alguém escute. 200 pessoas no prédio e quem é a única pessoa com habilidade pra isso? POIS É, a surda. Agora tem um coleguinha novo na minha sala e, depois da décima vez que eu falei "elevador travado, send help", ele perguntou como eu sabia. Eu só respondo que ouço o bendito alarme e não tento explicar mais nada.

É assim com tudo. Às vezes eu sei, não sei como eu sei e estou certa. O problema é esperar as pessoas todas chegarem lá onde eu já estou. Demora. E eu levo mil patadas no processo.

Absorver as emossaum dozotro

AI.QUE.PESADELO.

Todo dia de manhã, quando eu chego pra trabalhar, eu sei quando uma c e r t a p e s s o a não está no prédio. Não preciso nem olhar na sala dela, não preciso nem entrar no prédio. Cheguei na marquise, sei que a pessoa não tá lá. Se eu saio pra fazer alguma coisa e volto pro prédio e o indivíduo foi embora, eu também sei. 

MAS NÃO É SÓ ISSIUUUU

Outro dia eu entrei no subway, pedi meu sanduíche e fiquei triste imediatamente. Fiquei prestando atenção no menino que estava fazendo meu lanche e fui perguntar no caixa o que estava acontecendo de errado com aquela pessoa. A moça disse que não sabia e foi perguntar. Pois o menino tinha acabado de ser demitido. Eu já tinha visto ele na vida? Não. Ele me atendeu de má vontade? Não. Mas as vibe emanante da pessoa já me derrubaram imediatamente. Acontece o tempo todo, inclusive em casa. Curto muito chegar de boinha e ter alguém #chatiado. É muito difícil reverter.

Poder estúpido de previsibilzação do futuro

Isso é um grande cocô mole. As pessoas são previsíveis, as coisas são previsíveis. Isso todo mundo concorda, né? É assim que a gente sabe se vai chover amanhã, mesmo estando um sol escaldante hoje. Mas pessoas como eu reparam nos outros, mesmo quando não querem. É incrível, porque você parece que tá jogando xadrez vê 45 jogadas pra frente. Eu vivo mandando mensagens pros amiguinhos com as minhas previsões, que é pra quando o troço acontecer, eu falar EU NUM DISSE???? com provas. É muito raro eu errar. Mas não é nada místico ou transcendental, é só falta do que fazer com o cérebro mesmo. 

Hoje mesmo eu fui tomar um suquinho com uma miga e falei "fia, não me pergunta de onde isso saiu, porque é impossível explicar (oh, lord, pls don't let me be misunderstood, tópico 1), mas daqui duas semanas bláblábláblábláblá. Ela ficou com uma cara de pavor e vamos ver as coisas como se desenrolam. Eu tenho 98% de confiança na minha previsão.

Incrusível já me dei-me a mim mesma o codinome Madame Vaneça, porque minha mente tudo sabe, tudo vê. Menos se for importante, aí fico tapada igual uma porta.

Introvertidíssimo

Diz os pesquiseitor que um introvertido perto de pessoas que curte +qd+ ou defendendo uma ideia parecem extrovertidos. AÍ EXPLICA TUDO, NÉ? Mas no caso de eu estar sendo consultada, eu adoraria poder falar com grupos de no máximo 5 pessoas de cada vez, apenas sobre coisas felizes e calmas. 

O melhor foi entender porque ODEIOOOOO que as pessoas venham até minha casa: porque eu nunca sei quando elas vão embora. A melhor coisa é encontrar as pessoas na rua, na casa delas, em qualquer lugar de onde eu possa ir embora na hora que eu bem entender, porque não aguento mais interação humana. Não é por mal, eu juro. Mas se fosse possível dizer "quer vir aqui em casa das 8 às 9? tenho uma hora de estrutura emocional pra socializar", eu provavelmente seria uma excelente hostess.

Fazendo a Laura do Carrossel

Tãããão sentimental!111 Ahhh, que delícia que é assistir jornal na tv. Ver os baixo astral dos feeds do facebook. Muito simples essas coisas todas com o total descontrole das glândulas lacrimais. Eu nem sei a razão de estar chorando, cara. Hoje de manhã tava passando no jornal as mãe de criança estrupiada e eu pensando na minha mãe quando eu passei dias no hospital vendo a morte e BUÁÁÁÁÁ. Faz mais de 20 anos isso, nem minha mãe lembra mais e eu virando no avesso de chorar.

Multiplica isso por O TEMPO TODO e veja se eu não deveria estar magra de tantas vezes que seguro o choro ao longo de um dia. É uma maratona, é uma olimpíada. Tudo. faz. sofrer.

Sabe demais dozotro

Não é minha culpa, pois não estou interessada em você nem um pouco, mas eu sei a última roupa que eu vi você usando. Isso mesmo, ainda que eu tenha te visto pela última vez em 2010. NÃO FICA ME PERGUNTANDO, CARA. Cê não vai lembrar e eu vou passar por doida. Eu sei também a roupa que eu tava usando, que dia foi, que dia da semana era e um fato engraçado ocorrido no dia. Não estou obcecada, é só meu cérebro.

Carniunha, alma gêmea

Isso é um pouco complexo pra pessoa que não acredita em amor ou em conexão emocional com terráqueos, porque eu só aceito me relacionar com outro cerumano se for amor transcendental, físico, psíquico, químico, estomacal, monogâmico, idolatrístico, mesopotâmico. Se é pra num sentir nada ou sentir blé, não vamo gastar nem meu tempo nem o seu, né? Tem que rolar uma conexão de infinitos giga, com wi-fi. 

Uma vez a cada eclipse da lua com a Terra no meio, eu sinto essa conexão com outro indivíduo. O probleminha é que raramente ela é recíproca HAHAHAHAHAH bem feito, trouxa. "INFJs may struggle to create the kind of relationships they desire. When they do find people with whom they truly connect, it feels almost miraculous." Só que o milagrinho teria que ser uma via de mão dupla, né? Porque quando a gente quebra a cara depois de achar aquela pessoa mágica e unicórnica que preenche todos os requisitos e ela tem mais o que fazer, pensa que simples e fácil é pra pessoa inadequada e sentimental encontrar o caminho de volta pra sanidade mental.

AINDA ESTAMOS PROCURANDO A TRILHA. 

Até porque tomei dois coices unicórnicos seguidos, né? Quais as chances de conectar com duas pessoas diferentes na mesma vida? Na mesma década? No mesmo quinquênio? No mesmo biênio? E levar dois não?

Pois é.


*****

Eu estava planejando fazer um hit combo com um outro artigo, porque algumas coisas se sobrepõem, mas nem eu mesma tô aguentando esse assunto mais hahahahadkfj. De modos que se preparem pra parte II, em que explicarei os motivos dos textão, o que acontece na minha mente, as razões de eu viver uma vida de eremita e porque eu odeio vocês todos quando se encontram e não me avisam, mesmo sabendo que eu não vou. Além de reafirmar aqui até toda a humanidade entender que não é pra me ligar de jeito nenhum.

E por hoje é só.

Aqueles de vós com doutorado em psicologia que quiserem vir me encher o saco, podem reverter esse tempo pra uma coisa muito mais produtiva que é responder aquele questionário maneiro que a cada 10 acertos doa uma quantidade de arroz pra países famintos, já que não pedi opinião, tô só fazendo um manual informal de instruções de como não me tirar do tênue equilíbrio psicológico que sou capaz de atingir :)