segunda-feira, 28 de março de 2016

mas você também, né?


EU TAMBÉM O QUÊ?

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No post passado (que toda a população da internet ignorou solenemente, estou #chatiada) eu estava falando, entre outras coisas, sobre a percepção de sucesso.

Nossa sociedade percebe sucesso de umas formas bem estúpidas, na minha opinião. Daí esse mar de frustração existencial que a gente vê à nossa volta.

Por exemplo:

Minha mãe queria ser pianista, é engenheira.
Minha irmã queria se estilista, é antropóloga.
Meu irmão queria ser músico, é advogado.
Eu queria ser escritora, sou administradora.

Tem como ser feliz?

Não tem.

(Aí vem aquele povo do "segunda não é ruim, seu trabalho que é uma bosta" e quem foi que disse o contrário, more?)

Mas a sociedade tenta me convencer de que eu sou um sucesso, porque eu consegui algumas coisas na minha vida, tipo: passar em um concurso com 180 candidatos por vaga (eu passei em 3, mas só trabalho em um lugar, né?), por conseguir me comunicar na minha própria língua (OITO PORCENTO da população!) e em mais uma fluentemente em mais umas 5 se minha vida depender disso, por ter uma casa em uma boa vizinhança (e eu não estou falando aqui da casa dos meus pais, já que a casa tá no meu nome também), por ter acesso à saúde e educação, por fazer parte de um seleto grupo de estudantes de pós graduação em engenharia, em uma universidade federal e por aí vai.

GRANDES BOSTA.

Isso aí traz realização e felicidade? Pra minha pessoa: não.

Eu tenho coleguinhas que têm um pouco menos do que isso e acham que chegaram no topo da realização existencial e fico bastante feliz por eles, né? Mas, pra mim, isso é o mínimo pra dizer que não estou na terra apenas gastando recursos naturais.

Por exemplo: eu sempre soube que queria fazer alguma coisa artística na minha vida. Eu me virava com o piano desde bebê, praticamente. Sempre tive máquinas fotográficas, sempre gostei de desenhar, pintar, escrever. Por um tempo, eu tentei ser atleta e ganhei todas as medalhas de todas as competições que eu participei, qualquer que fosse o esporte, em grupo ou individual. Mas tacaram um teste vocacional na minha cabeça e uma das ~aptidões~ era engenharia. Talvez isso tenha sido influenciado pela escola que eu estudava, em que tentavam transformar a gente em mini engenheiros desde antes da oitava série. Tenho culpa que também sou boa em matemática? Não tenho.

Mas a sociedade me fez pagar.

*****

99% dos problemas que eu tive no ano passado foram causados pelo mestrado. Eu trabalho com educação superior há tempo suficiente pra saber que mestrado é realmente uma época difícil na vida de qualquer acadêmico. É a PIOR época. Tudo que você tem que cumprir e o tempo que você tem pra isso tornam esse período o pior da sua vida. 

Isso se tudo correr bem.

Eu, enquanto minha própria pessoa, tive dois grandes problemas extra:

- ser mulher
- ser não-engenheira

E mais um terceiro:

- conhecer todo o corpo docente.

Esse último é uma desgraça que já tinha acontecido antes. Professores conhecem você profissional e pessoalmente, conhecem sua família, sabem da sua vida, então acham que podem acrescentar essa informação na hora de tratar com você e te avaliar. "Sim, eu fui rude, mas é que você já me conhece, não preciso pisar em ovos com você". MAS EDUCAÇÃO PRECISA SIM.

Então vamos nos ater apenas àqueles problemas menos evitáveis.

~ SER MULHER~

Na academia, isso é uma afronta por si só. Como assim, você, parideira, cozinheira, arrumadeira ÔZA (do verbo ozada) estudar e permanecer roubando vagas masculinas no ensino pós graduatório? ESTÁS LOUCA?

Sei que em 2016 tem gente que chama de vitimismo e coitadismo, mas seriam essas pessoas mulheres em lugares que até menos de VINTE anos atrás eram predominantemente ocupados por homens? Porque eu VI minha mãe fazer faculdade de engenharia no começo dos anos 90. Nas 3 engenharias disponíveis na faculdade, não dava pra encontrar DEZ mulheres ingressas por ano. No ano que eu fiz vestibular na mesma faculdade, 6 anos depois, o número de meninas não chegava a um terço. Eu trabalho com cursos de engenharia (e arquitetura) até os dias de hoje e vos digo: em alguns deles até chega a meio a meio. ALGUNS. Mas o corpo discente é predominantemente masculino, porque em elétrica e mecânica a predominância ainda é masculina. Dez anos atrás eu fiz especialização em mecânica e só tinha eu de mulher na sala. Entre os professores, a média é a mesma. Eu faço a inscrição dos concursos (EU TÔ NA CADEIA INTEIRA, FIOTESSSS, eu trabalho e estudo com isso, ninguém barra) e até ano passado não dava meio a meio. Este foi o primeiro ano em que se inscreveram mais mulheres do que homens, mas para engenharias mais "recentes", como a de produção. Que inclusive é a minha. Onde entramos na exata proporção 50/50. 

Agora cê pensa o que isso representa.

Graças ao senhor bom deus, eu me libertei das garras desse amor gostoso do machismo, praticado até mesmo por mulheres, quando eu troquei de orientador e minha vida mudou. Primeira vez na vida que me sinto respeitada enquanto estudante de engenharia: desde janeiro deste ano. Um feito pra quem tá nesse ambiente desde 1994.

Ryzos.

A engenharia de produção é filhotinho de dois outros cursos: administração e engenharia mecânica. De modos que em algumas áreas bem específicas da administração, especialmente quando se fala da parte industrial, os professores costumavam ser engenheiros. Hoje em dia sei que tanto na área industrial quanto na matemática muitos engenheiros ainda fazem parte do corpo docente. Agora cê imagina no final dos anos 90 os cursos sendo inundados de mulher? O meu tinha uma proporção de meio a meio, sendo que a esmagadora maioria das meninas escolhia marketing ou RH quando chegava a hora de dar um rumo pra ênfase. A imensa minoria - eu entre eles - ficava com finanças, produção ou negócios internacionais.

Já ali dava pra sentir o machismo. Em qualquer engenharia (e em algumas áreas da administração, já que eu acho que não existem mais ênfases), em algum momento, você vai escutar durante uma explicação mais complexa:

- isso aqui não é aula de corte e costura.

De 1998 até hoje, eu perdi as contas de quantas vezes escutei isso. "Quando você ler ITA, não se trata do instituto de tricô de arapongas!". São poucos os professores que passam incólumes por essa frase. O infeliz prefere tentar diminuir os ouvintes que se propor a fazer a turma toda compreender o conceito. Prefere semear a ideia de incapacidade de quem está lá pra aprender que se desafiar a ensinar. Acho icônico.

Ano passado, quando um professor perguntou se era difícil compreender o conceito porque a gente achava que estava numa aula de corte e costura, eu respondi "mas você sabe costurar, profe?".

- como assim? o que isso tem a ver?
- nada, ué. corte e costura não tem nada a ver com a aula, mas você usou o exemplo, então eu pergunto, você sabe costurar?
- não, CLARO que não.
- então não fosse existir alguém que faz esse trabalho, você andaria com um tecido amarrado com barbante pela rua?
- não tô entendendo!
- se todo mundo tem que ser engenheiro e se lembrar que isso é muito melhor que ser costureiro, no caso de as pessoas largarem a função de corte e costura pra produzir outras coisas melhores que roupas, você abdica de se vestir ou se enrola nuns pano e amarra com barbante?

A pessoa riu e ~voltou pro assunto~.

Mas tô errada? Mania insuportável que engenheiros têm de diminuir qualquer outra profissão que não seja a deles ou de achar que quem está ca-gan-do para números não é inteligente. 

Tem que ter paciência.

Donde chegamos em

~ SER NÃO ENGENHEIRO ~

E, veja bem, não é "não ser engenheiro", é ser QUALQUER COISA que não engenheiro. Dá vontade de perguntar se a pessoa ia viver de luz, se limparia a própria rua, se faria a própria manteiga. Se ninguém estivesse disposto a cozinhar, limpar, jardinar, produzir arte, artesanato, e fazer toda a infinidade coisas que tornam a vida rica, o engenheiro estaria disposto a acumular funções, pra que o mundo fosse feito de engenheiros e fosse totalmente prático e horrível ao mesmo tempo?

Acho que não.

Mas desde que eu saí da graduação, todo meu tempo acadêmico foi dispendido em aulas de engenharia, por engenheiros, para engenheiros. Se você não me perguntar, você não vê a diferença. Tanto que eu passei numa prova de cálculo para engenheiros e tive uma nota bem na média, com a diferença que eu:

- não me graduei em engenharia
- estava formada havia mais de 10 anos
- e não estudei pra prova

diferentemente de todos os coleguinhas.

UÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉ?????????

Passo o dia conversando com engenheiros ou aspirantes a. Em algum momento, alguém me pergunta onde eu fiz faculdade, eu respondo e PÃ (rap do windows). "Mas não tem curso de engenharia lá!". Eu sei, more, não sou engenheira. E a pessoa não compreende o conceito. 

MÁ COMO QUE NÃO É ENGENHEIRA SE ENTENDE A SUPREMA LÍNGUA DA INTELIGÊNCIA??????

Olha, cara. Olha.

Mas na sala de aula a gente tem que passar pelo eloquentíssimo ritual de dizer onde estudou, o que estudou, etc etc etc. No exato minuto que eu digo as palavras "formada em administração", o ouvido dos engenheiros traduz para "ser inferior que vai dificultar minhas aulas sendo o gordinho do livro A Meta". E daí pra frente eu tenho um total de ZERO dias de sossego, quando o professor explica um conceito simples e olha pra mim, me chama pelo nome e pergunta:

- entendeu, Vanessa?

Entendi sim, quer que vá aí na frente explicar pra todo mundo de um jeito melhor que o seu ou cê tá de boa?

Quando chega o momento de apresentar seminários na frente da sala, não é raro todo mundo dizer "noooossa, agora que você explicou eu entendi" na frente do professor. Geralmente aquele que me perguntou se eu entendi. Mas o orgulho dO ENGENHEIRO jamais permitiria dizer que uma sub qualidade de pessoa conseguiu compreender e explicar um conceito de forma inteligível, de modos que eu tive um festival de nota B durante o mestrado. Que me fez chorar muito, sejemo sincero, mas considerando que sou mulher-não-engenheira, eu devo me orgulhar da honraria.

Agora eu tenho um orientador engenheiro-porém-gestor e um coorientador de sociais aplicadas - que é a melhor corrente, já que é um mix de humanas e exatas, OUSSEJE, gente inteligente em qualquer frente - então meu mundo é bem mais feliz. Orano pra que prospere.


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Aí eu tava lá revisando meu trabalhinho qualitativo AND quantitativo (num falei que é melhor?), quando alguém fala que sei lá quem tá fazendo mestrado em publicidade. Senti uma pontinha de inveja por achar que qualquer curso que exija criatividade deve ser melhor que o meu, mas continuei minhas leituras. As pessoas me puxaram pra conversa, falando que a criatura em questão está sofrendo muitíssimo os horrores do mestrado.

- sei como é, mestrado é um trabalho árduo.
- ah, eu acho exagero, nem é em engenharia!
- não tem problema, pesquisar é sempre complicado e cansativo, tanto faz a área.
- mas você parece que nem sofre!

Mano, em que caverna essa pessoa está vivendo?

- oloco, se isso não é sofrimento, eu prefiro nem ser apresentada.
- mas é que a menina só reclama todo dia e...
- MANO, MESTRADO É UMA DESGRAÇA MESMO, ABRAÇA ELA!
- vai dizer que você sente dificuldade?
- mas mddc, claro que sinto. é por isso que eu estudo tanto.
- mas você também, né?

Eu queria saber EU TAMBÉM O QUÊ?

Sou trouxa e permaneço fazendo coisas de que não gosto, só porque é o que todo mundo queria?

Sou trouxa e tenho que me sentir agradecida por fazer parte de uma minúscula parcela da população nacional e até mesmo mundial que se pós-gradua? 

Sou trouxa e deixei o inimigo perceber que faço sinapses de acordo com o esperado pela nação e em vez de ser feliz assoprando dente de leão e soltando bolhinha de sabão eu gasto minha vida estudando?

Sou trouxa e ingressei num curso de universidade pública, que parece ser a melhor coisa que pode acontecer na vida de uma pessoa, mas é tudo mentira porque os maiores egos do mundo estão enfiados nesses lugares?

Sou trouxa e já tinha me convencido a passar o resto da minha vida na burocracia, alimentando minha alma com blogs, máquinas fotográficas, desenhos, decoração e desfiles de moda nos limites do meu quarto, pra fingir que sou realizada enquanto pessoa?

Jamais saberemos.

Devo só dizer que sou muito ressentida por essa percepção de inteligência que se tem de mim, porque é um fardo muito pesado pra carregar. Todas as pessoas """""""""não inteligentes"""""""""", das redondezas, de quem ninguém esperava nada, estão seguindo seus sonhos. Enquanto eu estou presa nessa desgraça do seguro-almejável porque eu sou inteligente demais pra desperdiçar.

Puta merda, viu?

segunda-feira, 21 de março de 2016

the age of Vaneçine

Este post conterá muitos spoilers mesmo do filme The Age of Adaline. No caso da madame não ter assistido, favor parar de ler JÁ e consertar essa situação.

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Pronto?

Então vamo.


I

anos, amores e taças de vinho são coisas que nunca devem ser contadas

Eu sempre fui obcecada por idades e datas de nascimento. Sempre. É uma das memórias mais recorrentes que eu tenho, a fixação pela quantidade de voltas que a pessoa deu no sol. Por nenhuma razão específica, eu acho. Mas eu sempre preciso saber o dia em que a pessoa nasceu e quantos anos ela tem neste momento. 

Idade, em si, nunca foi um problema. É mais a ideia de quanto tempo a pessoa está na terra e o que se espera que ela tenha cumprido até aquele ponto. Você já tem 8 anos e não anda de bicicleta sem rodinhas? Você já tem 12 e ainda tá na quinta série? Você já tem 18 e não dirige? Esse tipo relevantíssimo de marcos que o cerumano tem que passar pra ser considerado bem sucedido.

Pode ser também porque todo mundo sempre fez muita questão de contar o tempo em relação a mim. "Você nasceu 9 meses e 2 dias de pois do casamento dos seus pais. A essa altura, sua mãe tinha 18 e seu pai tinha 23. Sua avó tinha 38 e sua tia mais nova tinha 12. Sua tia mais velha tinha 40. Sua tia mais velha era mais velha que sua vó. Você tem um primo exatamente seis meses mais velho. Você foi filha única por exatamente 5 anos. Você sabia ler e escrever aos 3. Você passou no vestibular de medicina com 16. Você tem 19 e ele tem 31! Você tem 30 e ele tem 23... Você realmente quer fazer essa viagem aos 32? Você tem 35 e ainda não está casada." Acho que deu pra pegar a ideia, né?

Da mesma forma que eu sempre sei quantos anos todo mundo tem (mesmo que a pessoa não me conte, que ela se recuse a me contar, eu vou descobrir), isso nunca impediu minha convivência de nenhuma natureza com nenhuma pessoa. Eu sempre tive amigos das mais variadas idades, em épocas diferentes da vida. Quando eu tinha 10, todo mundo era mais novo que eu. Quando eu tinha 15, todo mundo era mais velho, BEM mais velho. Hoje eu convivo com dinossauros no trabalho, com jovens muito jovens no mestrado (incluindo professores) e meus amigos têm 10 anos a mais ou a menos do que eu e tá todo mundo aí convivendo sem grandes conflitos causados por essa razão.



II

Sexta-feira foi um dia muito ruim, pra finalizar uma semana igualmente cocô. Mas a sexta não foi completamente perdida, porque eu tive uma aula bem do jeitinho que eu gosto, numas vibe neurolinguística, metafisica, viajada, very creize. 

Essa aula que eu tenho agora toda sexta é sempre muito boa, porque é uma aula colaborativa, feita no círculo do amor, pessoas muito inteligentes dividindo conhecimento e tudo mais. Parece que a gente tá ali só falando bobagem e rindo, mas a gente tá ficando mais esperto toda semana e tal.

Aí esse negócio todo de discutir como a projeção leva ao sucesso não era à toa: a atividade do dia era construir uma planilha de planejamento em três níveis: operacional, tático e estratégico. Qualquer pessoa que tenha estudado administração na vida já passou por esse tormento ~empresarial~, mas ali era pra definir essas coisas enquanto pessoa. O estratégico sendo num horizonte ali de uns 10 anos, o tático uns 5 anos, sendo que algumas dessas coisas deveriam ser ferramentas pro estratégico e o operacional mais imediato, pra alimentar o tático. 

O profe fez a gente dividir a folhinha e deu uns minutinhos pra gente escrever objetivos relacionados ao mestrado naquele momento e...



Assim. Fazer mestrado, fazer especificamente esse mestrado, aconteceu por uma razão bem prática e definida. Massss, no campo do que eu quero estar fazendo daqui 10 anos, o biênio 15/16 não tem praticamente nenhuma participação.



¯\_(ツ)_/¯



Eu até sei bem o que eu quero pra daqui 10 anos, só não consigo ver um caminho reto e bonito até lá. Enquanto pros amiguinhos todos o mestrado era tático pra chegar no doutorado estratégico, meu mestrado é operacional pro doutorado tático, pra VIDA estratégica que deve chegar ali por 2020. O que estaria bem certo, já que a vida começa aos 40. 

*chora*

Também teve o momento em que todo mundo, todo mundo MESMO definiu duas coisas para seus futuros daqui a 10 anos:

- falar inglês fluentemente
- ser concursado

Aí eu fiquei com uma intensa cara de pastel por motivos de: eu já. O profe perguntou se tava difícil estabelecer meus objetivos, porque eu tava com cara de

tela azul


Tá difícil sim, viu? Em parte porque eu não sei nem o que eu quero jantar, magina se eu sei o que eu quero daqui 10 anos? Mas também porque eu sei sim o que eu quero e não tem nada a ver com isso AND o que todo mundo quer eu já tenho.

Menos amor, que aí não tenho, mas isso é outra história.

Bom, por 20 minutos eu me senti muito realizada enquanto cerumano por ter a vida que muita gente ~almeja~. Mas passou até bem rápido porque eu mesma não queria essa vida não. E aí bateu a bad de estar fazendo tudo errado pra VER se vai dar certo. E se não der, né? Fuén.


III

Minha aula acabou mais cedo. No passado, quando eu podia compensar os dias de aula, eu simplesmente ia pra casa ou fazia alguma coisa útil, tipo comprar ração das quiança. Agora ou eu fico plantada na sala esperando a hora de bater o ponto e torcendo pro wi-fi funcionar, ou eu volto pra minha sala no trabalho pra ficar amaldiçoando a existência até a hora de bater o ponto. Como o wi-fi capotou-se, minha alternativa foi atravessar a rodovia e voltar pra minha sala pra curtir uma INTENSA bad. Porque a ~tarefa de casa~ era fazer o plano de três níveis para as várias áreas da vida. Aí, meu amor, se profissionalmente e academicamente a coisa tá ruim... Pessoalmente eu tô no chão. 

Eu pensava no que eu achava que eu achava que teria a essa altura da vida, com TRINTECINCO anos e chorava. Pensava que daqui 10 anos eu tenho coarenta-e-cinco e chorava. Pensava nas coisas que eu tento consertar enquanto indivíduo e tudo dá errado e, bom, chorava. 

*****



Sabe quando Barney Stinson diz que nada de bom acontece depois das duas da madrugs? Essa regra se aplica pro horário comercial também: nada de bom acontece depois das 17h. ESPECIALMENTE numa sexta. Aí cê fica lá, pensando "tá tão bom aqui na frente desse ventinho, tô estudando, tá rendendo, vou pra casa daqui uma hora".

MAS.QUE.CAGADA.

Não vamos estar entrando em detalhes, pois reviver coisa ruim ninguém merece. Só vou dizer que cheguei em casa 19:48h, com uma crise de alergia incapacitante e furiosa. Assim que eu botei o pé em casa, a última pessoa presente saiu, fazendo com que eu tomasse consciência de que isso sempre acontece no fim da semana: estou sempre sozinha, sempre em casa.

Isso + o confronto com a realidade pra fazer o plano pessoal + os acontecimentos mais recentes do dia + a semana como um todo + o escapamento do meu carro arrebentou e agora eu tenho som de pobre pelas ruas = desabamento emocional level hard.

Sentei na frente da tv e chorei por uns 40 minutos pela incompetência em viver, no geral. Fiz uma pizza que poderia figurar no comidas feia, tomei um antialérgico potente pois lágrimas pioram alergia de pele e nem banho eu tinha condição de tomar naquele momento e fui fazer o que qualquer pessoa sensata faria: ver um filme que permitisse chorar. Mais.

Sabendo que o cachorro morre, fui bem certeira rever esse maravilhoso filme que eu amo tanto e acho que todo mundo deveria assistir.

IV

Quando eu li a sinopse desse filme, eu já sabia que ia gostar. Uma senhora de cento e tantos anos aprisionada num corpo de 29, aquela carga interior que te faz se sentir mais velha que todo mundo à sua volta, envolvida por uma massa que mal passa a credibilidade da vida adulta.

De acordo com dados da PM e do datafolha opiniões que sempre me dão, mesmo que eu não peça, posso concluir que não aparento a minha idade. Semana passada eu tava me desesperando por bobagem (cê jura) e a interlocutora vem "mas, menina, cê tem o que? uns 25 anos? não é pra esse sofrimento todo não". Então tamo bem atualizada aqui no quesito juventude facial incompatível com a idade cronológica. Esses dias me proibiram de dirigir um carro, porque precisava ter mais de 10 anos de carteira de motorista e a pessoa achou que eu num tinha nem 2. A primeira bebida que eu comprei sem mostrar a identidade foi depois dos 30 anos, assim como a primeira vez que entrei numa balada sem ser barrada.

Então eu vivi intensamente esse descompasso temporal a minha vida toda. Acho que isso me deixa um pouco biruta, pra ser sincera. Eu nunca sei o que eu deveria estar fazendo, de acordo com a minha idade. As outras pessoas da mesma idade que a minha parecem velhas demais, quase sempre. Eu me sinto inadequada perto daquelas com quem eu me identifico, porque parece que está errado conviver com gente que está em uma fase tão diferente da vida. Mas diferente como? Não sei.

Uma eterna sensação de não-pertencimento. A nada. Nunca.



Fiquei me perguntando se não vem daí a sensação que nada acontece feijoada: essa obrigação de cumprir alguma coisa que a gente nem sabe o que é num tempo que é, que ainda vem a ser um círculo.

 

A nossa compreensão do tempo como tempo do relógio pertence à nossa compreensão equivocada da verdade como verdade eterna. We constantly seek what cannot be delivered in life. 

V


Com isso, resolvi que, dentro do possível, vou viver o desapego chronico (heh). Vou me libertar dessas amarras de datas e tempos e marcos e planos e vou, sei lá, viver. 

Toda uma catarse provocada por um filme, uma aula inspiradora e um dia ruim.

Já tô sendo a protagonista da minha própria história sem graça.

Tudo que é reto mente. Toda verdade é sinuosa.







LET GO.

quarta-feira, 16 de março de 2016

chain and ball



O funcionalismo público é um ecossistema bastante interessante de se observar (não).

Eu já disse e repito: é uma desgraça tanto pra quem usa como pra quem faz parte, só que é bem pior pra quem tá dentro, eu posso lhos garantir. Desde 1999 nesta vida, eu sei do que eu tô falando.

Uma coisa que acontece nesse ambiente é a competição pra mártir. Porque, amigos, se tem 23 pessoas não trabalhando, tem 2 trouxas carregando o silviço desse povo todo (por isso que às vezes as coisas andam devagar). Aí os dois trouxas - me incluo entre eles - não conseguem passar uma semana inteira sem o vangloriamento próprio, tipo eu que carrego esse país. Cê ameaça todo mundo dizendo que se um dia pegar uma catapora, as coisa param TUDO e aí quero ver cêis me dar valor!11 E o pior é que é verdade, mas quem que guenta? E o recalquinho dos trôxa é saber que tem gente que passa o dia no ambiente de trabalho fazendo vários nada, isso quando se dá ao luxo de aparecer.

A outra coisa bonita que acontece é meique derivada da primeira: fiscalização de vida alheia. Eu já parei com isso faz tempo, porque desde que a pessoa não dificulte minha vida diretamente, ela que se lasque. Mas é assim: os trôxa fiscalizando os outro trôxa pra ver quem trabalha mais e sofre mais, os trôxa fiscalizando os vagabundo pra poder dizer que trabalha mais que aquele ali ó, os vagabundo fiscalizando vagabundo pra ver quem é que faz menos, porque ali naquele extremo a competição é ver quem faz menos pra ganhar a mesma coisa.

E é por isso que acontecem momentos bonitos tipo esse de agora, a implantação do ponto eletrônico.

Pra quem trabalha direitinho é uma bosta? É uma GRANDE bosta. Mas alguém acredita que é o jeito de fazer os vagabundos trabalharem (não é), então todo mundo se lasca.

- mas, vaneça, se você trabalha direitinho, qual é o problema com o ponto?

O problema é essa bola acorrentada no meu pé. Tem dias que eu fico na minha cadeirinha pra sempre? Tem. Mas tem dias que tem que ir em outro campus, outra sala, tem dia que você tá saindo pra almoçar e uma aluna faz o favorzinho de desmaiar e você tem que ficar esperando a ambulância buscar e dar soro, tem dia que você tem que levar estrangeiros pro aeroporto, tem dias que você até já foi pro conforto do seu lar e te ligam às 8 da noite pra voltar correndo porque tem criança fazendo idiotice dentro do campus e você larga seu sanduíche de pepino e suco de goiaba pela metade pra ir acudir. 

E aí cê sai pra almoçar correndo como uma louca desvairada, come de qualquer jeito, corre pra voltar, chega 3 minutos antes da hora de bater o ponto, mas a bosta do ponto não bate com um mínimo de 60 minutos. Aí cê volta a trabalhar, se distrai e, quando lembra, se dá conta que serão 40 minutos pra compensar NO SISTEMA, que fisicamente cê tava aí.

Num tem como não amar.

Eu não me opunha a realizar ~trabalhos diversos~ até mês passado, acho que a gente tava aí pra isso mesmo. Mas com o advento do ponto, eu não saio mais daqui. Num é pra botar a bola de ferro no meu pezinho? Então eu fico aqui. Inclusive tenho que estudar, tá ótimo (não é como se eu estivesse concentrada e estudando, mas ok). 

Só que agora, ainda mais no começo, as pessoas vão ficar naturalmente pregadinhas em suas cadeiras, pra provar que elas estão lá sim, não é o amiguinho que tá batendo o ponto por ela. Isso também faz com que muitos trouxas não tenham mais que ficar se deslocando pra cobrir buraco, então tamos operando com estacionamento cheio, portas abertas, luzes acesas (até todo mundo descobrir comofas burlar o sistema)

Minha sala é tipo uma central. Do que, você pergunta. De tudo, eu respondo. Até gente perdida procurando o presídio vem parar aqui. O que facilita muito pros fiscal de vida alheia, porque é só vir aqui pra saber das 9dade. Mesmo antes, meu fiofó tá pregado aqui, porque é pra isso que eu sirvo, pra dizer que a pessoa está na sala errada, ligou pra sala errada, tá fazendo errado. Então eu tenho que ficar majoritariamente aqui.

Tem um infeliz que vem 83 vezes no dia, pelas mais diversas razões, fala OIIII em todas elas (desnecessauro), às vezes puxa conversa, às vezes fala bobagem. Eu vou contornando a situação como dá, porque é isso o dia inteiro, tô acostumada.

Aí da última vez, ele veio me dizer que está enjoado de me ver sentada no mesmo lugar. Kirido, cê trabalha na burocracia, tem armário que tá no mesmo lugar há 60 anos, talvez você tenha escolhido o lugar errado pra trabalhar? Então ele completou com "você tem que sair daí, trocar de lugar na sala, fazer exercícios físicos".

AH, NÃO.

NÃO.

PÉRA UM POUQUINHO.

As 9 horas que eu passo aqui, eu tenho um TRABALHO a cumprir. Um trabalho que envolve uma mesa e uma cadeira. Eu passo esse tempo todo sobre minha bunda? Não. Mas não dá pra fugir muito disso, meu amô. Cê quer que eu vá aonde? Cê sugere exatamente o quê? 

Agooooooooora, se você estiver INSINUANDO que eu devo me exercitar no meu tempo livre, que vem a ser 100% fora da sua jurisdição, aí eu acho que a gente vai ter que conversar mais sério porque:

a) isso realmente não é da sua conta e
b) quem foi que disse que eu não faço exercícios?

"Ah, mas é por causa da saúde que eu tô falando, faz mal a pessoa passar o dia sentada."

Tio, vai trabalhar nos correios, então. Lá o povo anda o dia inteiro, parece.

Olha, fica difícil agradar as pessoas. Lutam bravamente pra enfiar a gente num esquema que obriga a sentar a bunda na cadeira, mesmo que seja pra aprimorar a habilidade de matar mosca com raquete (ou colocar caminhos das índias em dia, por que não?), mas também não pode ficar sedentário, que aí já é ruim demais pra saúde.

Mais um dia feliz trabalhando pro governo :)

segunda-feira, 14 de março de 2016

namorado imaginário de Schrödinger

corazón gelado

Relacionamentos sempre me pareceram uma coisa bastante complicada. Relacionamento de qualquer natureza. Eu sempre tive a impressão de viver numa frequência diferente daquela em que operam a maioria das pessoas, eu nunca sei o que ninguém tá pensando, eu nunca entendo o que tá acontecendo, quando eu vejo, entendi tudo errado tudo de novo.

De modos que evito.

Masss, nenhum homem é uma ilha bem que as mulher podia ser, no caso etc, não dá pra evitar sempre.

Se eu estou num relacionamento, seja ele de qual tipo for, serei uma ótima relacionamentista. Mais conhecida também como trouxa, porque a vida de todo mundo fica meio maravilhosa quando estou presente, porém a minha costuma ficar uma grandes bosta.

E nem vou dar exemplos, pois ouvindo Paul McCartney candando leribi há horas, num quero chorar mais.  

Por causa do meu jeitinho de ver o mundo, eu tive que estabelecer definições pras coisas da minha própria maneira, já que a definição padrão raramente faz meu requisito.

Tanto que muito tempo da minha vida eu achava que casamento era uma coisa que você fazia quando queria ter filhos, alguém pra dividir as contas ou dar satisfação pra sociedade sobre seu sucesso. Eu não tô nem tentando ser engraçada, eu achava que era EXCLUSIVAMENTE pra isso que existia casamento. Como eu não tinha sido bem sucedida em me relacionar romanticamente até hoje, vamo sê sincero os vinte anos, eu achei que tinha entendido que romance era tudo mentira, que as pessoas ficavam juntas pra provar que podiam ficar com alguém e cumprir obrigações sociais. Fim.

(Não que eu não ache mais que isso é o que move MOITA GENTE, mas ok.)

De modos que por uns 10 anos, meus relacionamentos ~amorosos~ foram pautados por essa bonita ideia de fazer minha família e meus amigos pararem de reclamaaaaaar.

Preciso nem dizer como funcionou bem, preciso?

Ali pelos 30 eu abdiquei dessas coisas mundanas e passei a ter uma vida bastante tranquila. Tranquilidade que era interrompida pelas raras paixonites desgastantes que surgiam de vez em quando, cada vez mais convencida que esse negózdi amor, sei não.

Eu preciso de um certo sossego pra existir em boas condições, sabe? Esses dias estava passando a timeline do facebook, aquele lugar onde a gente esquece às vezes de dar unfollow em parente, quando me surge um post com as seguintes palavras bonitas: "quem quer privacidade que fique solteiro, casal tem que compartilhar tudo. quem vê meu corpo e divide comigo a cama é lógico que divida também a senha e o celular".

AHAHHAHAHAHAHHAHAAHAHA PUTAQUELOSPARMITO!

Não sabia nem por onde começar a me desesperar com a quantidade de curtidas e compartilhamentos dessa desgraça. Também não sou nem trouxa de comentar um post imbecil desses pra lindos parente me responder "por isso que tá sem homem", como se não fosse fruto de escolha própria, mas de destino maligno por eu ser ~assim~.

O problema é que eu sei que MUITA GENTE compartilha desse pensamento, especialmente muitos homens. Mulher minha não tem senha no celular, por isso é coisa de biscate. Então tá.

Mesmo antes do advento do celular, eu já tinha uma noção de privacidade e individualidade muito acentuada. Uma vez, terminei um romancinho porque fui a um lugar sozinha e antes de me dizerem oi, perguntaram "CADÊ FULANO?". Eu tô costurada nele? Eu tinha vida antes dele? Olha, vão todos cagar, que eu não posso ser reduzida a uma fusão de casal. Sai pra lá.

E tem o eloquentíssimo movimento de, cada vez que você tem um homem, os convites de eventos sociais, CEM POR CENTO DELES, incluindo aqueles dos amigos que você tinha antes de esse homem surgir, passarem a ser direcionados a ele. E o desgraçado sempre vai filtrar de acordo com sua conveniência e você só vai saber duas semanas depois que perdeu um aniversário porque ele tinha um churrasco com os amigos de infância que você inclusive detesta e você nem foi porque olha bem pra minha cara. E não adianta tentar argumentar com seus amigos, eles ficam incapazes de compreender o motivo de ligar pra uma mulher em vez de ligar pro MACHO SOBERANO.

Eu prefiro viver só.

Tenho uma ideia bem fantasiosa do amor, uma coisa que torna divertida e importante a convivência entre duas pessoas, sem que elas deixem de ser duas.fucking.pessoas. Uma gosta de pescar, a outra gosta de ouvir música eletrônica no talo, mas ninguém precisa fazer isso grudado, é só uma parcela da vida que pode prosseguir normalmente enquanto os dois se enfiam debaixo das cobertas no domingo pra ver seriado com um balde de pipoca, compreende? Um conforto nas coisas feitas a dois que fica mais especial POR CAUSA das coisas feitas separadamente.

Nunca senti esse conforto.

Quando estou num relacionamento, posso generalizar com o uso do ~sempre~: SEMPRE estou desconfortável. Sempre o infeliz quer fazer parte de uma coisa que é minha e que não quero dividir e sempre quer me enfiar em seus infinitos e horripilantes churrascos com os amigos da quinta série que só falam de mulher como coisas e de futebol. Sempre tenho que ceder na escolha do filme e na qualidade da pipoca. Mas, se por alguma razão inexplicável (aconteceu duas vezes), eu tô achando até ok o funcionamento do relacionamento, um dia a pessoa surta que estou sendo sufocante e exigente e ó, ninguém nunca viu meu eu sufocante e exigente, porque EU.SOU.TROUXA. e invariavelmente coloco as necessidades e vontades alheias antes das minhas, nem que eu tenha que ler pensamento pra isso.

Por isso, uns anos atrás aboli relacionamentos num dia bastante específico, em que a pessoa problematizou a compra de uma caixa de sabão em pó. A coisa foi tão ridícula que eu mandei à merda imediatamente e, daquele dia até hoje, eu fiquei sozinha com um escudo de vibranium, jogando pra longe quem tentar se aproximar.

*****

Uma vez eu li isso aqui

"if you meet somebody and your heart pounds, your hands shake, your knees go weak, that’s not the one. When you meet your ‘soul mate’ you’ll feel calm. No anxiety, no agitation."

que vem a ser uma frase atribuída ao budismo, mas nem é (e não me importo de quem seja, pra ser sincera), e concordei. E meique resume tudo, porque essa coisa que te desestabiliza num pode estar muito certa não, amor devia ser um troço que dá calma.

Aí é que mora o PELIGRO.

Porque eu tava lá enlouquecida das minhas loucuras, quando surgiu c e r t a c r i a t u r a. Sabe aquele processo ridículo de encantamento, em que um dia cê pensa "só pensei isso porque eu penso isso em relação a todo mundo que eu conheço, pra ter certeza", 

depois cê vai pro "claro que eu tô pensando naquele diálogo, mas é que foi muito significativo mesmo", 

depois cê vai pro "não é que eu esteja interessada, mas ele é bonito, inteligente, engraçado e é normal querer me aproximar de gente assim", 

depois cê vai pro "não é que eu esteja arrumando desculpa, mas ele realmente vai gostar de saber disso e que melhor maneira de enviar que pelo whatsapp, mesmo que pra isso eu precise coincidentemente ter o número do celular",

depois cê vai pro "não é que eu esteja apaixonada, é que é bem normal pensar na pessoa e em tudo que ela fala de forma obsessiva",

depois cê vai pro "fodeo".


Normalmente é nesse momento que eu já visualizo a desgraça que vai ser quando a pessoa surgir na próxima vez e eu ficar vermelha, tiver tremedeira, falar coisas que não fazem sentido e sair correndo sem razão aparente.

Aí a pessoa surgiu na minha frente e............

Nada.

Inclusive eu soltei um maravilhoso "ué, cê tá fazendo o que aqui?" que rendeu 2 semanas de "nossa, a cara de desdém quando você me viu doeu na alma", fora a pessoa contando pra absolutamente todo conhecido em comum o meu desgosto de verlha ali naquele dia.

E eu fiquei esperando o dia em que viessem os tremeliques e pensei que seria depois de uma mensagem meio sem noção que mandei no celular. Não foi.

Ou que seria depois do dia em que aconteceu uma daquelas conversas ridículas de duplo sentido que só casaizinhos ainda não existentes conseguem ter, cheia de insinuações bocós, que deixam as pessoas em volta com vergonha alheia. Não foi.

Ou podia ser no dia em que alguém fez graça ao ouvir o telefone alheio tocando, dizendo "deve ser as namoradinha" e meu coração não despencou de 3 andares com a ideia. Não foi.

Podia ser depois de um grande oversharing, depois de 15 dias sem ver o cerumano, depois de fazer a doida e aparecer num lugar onde não fui convidada, só pra ver o indivíduo ~exibindo habilidades especiais~, escondida atrás da porta, ser vista e convidada pra entrar, como uma boa pessoa sem noção. NÃO FOI TAMBÉM.

E não foi quando a pessoa passou a achar conveniente debruçar sobre mim durante diálogos sobre assuntos tão internos, que as pessoas ao redor já dizem "não dá mais pra entender a conversa de vocês dois, parece que tão falando em código". 

Inclusive muito pelo contrário.

O que confere à situação de calma todo um nível de desespero.

Já aconteceu, inclusive, de eu estar em franca espiral descendente de ansiedade, com a mão tremendo, taquicardia e respiração ofegante, revirando a bolsa atrás do calmante. Quando finalmente tirei o comprimido do blister e estava segurando ele numa mão e a garrafa de água na outra, me surge a pessoa na minha frente, FALANDO INCLUSIVE BOM DIA, e pá, respiração, coração e músculos imediatamente restaurados às funções normais, tipo mágica.

Fiquei 5 minutos segurando o comprimido e pensando "tomo samerda ou o que?". Nem a ideia de surtar porque me acalmei (q) me deixava nervosa com a presença de anita ali. 

CÊ VEJA SE TÁ CORRETO ISSO????

Por que se a essa altura os sintomas de instabilidade não apareceram, pode existir uma chance de que seja amor.

E eu não tô preparada pra lidar com amor agora não.

*SURTA*

*vai descontroladamente até a presença do rapaz*

*se acalma*


FIM





quarta-feira, 2 de março de 2016

mariekondonização do mundo

Eu odeio palpite.

E não importa quantas vezes eu repita isso, nunca será enfatizado suficientemente, já que as.pessoas.continuam.dando.os.delas.

Do que vive a pessoa que curte opinião? Como se alimenta? Como sai de casa todas as manhãs? Tenho essa dúvida.

Eu sou muito autossuficiente, sempre fui.

A primeira memória que eu tenho de vontade própria deve ser de quando eu tinha uns 8 anos. Eu tinha um daqueles conjuntinhos de moletom horrorosos dos anos 80, que podiam ser de blusa e calça, blusa e bermuda, blusa e saia. Esse, no caso, era de blusa e saia. Verde musgo. MOLETÃO. Pois tinha umas frorzinha e eu achava que ornava super com um sapatinho preto de verniz que eu tinha e minha mãe dizia que achava meio caída essa combinação. Pois eu ignorava solenemente a opinião dela e saía super ~confiante~ com a minha combinação pavorosa de vestimenta e acessório. Tinha também um conjuntinho rosa, cuja calça tinha aquele elástico gangrenante na barra. Pois eu usava com um sapatinho branco medonho e achava que tava linda, posava sorridente pras fotos. Assim como um outfit repetido exaustivamente, que consistia de um macacão jeans semi-bag (reflitão), uma camiseta azul petróleo e um tênis amarelo de cano alto. Muito fashion. Se hoje eu olho pra fotos do passado e quero fazer uma fogueira, se tenho medo de ficar famosa e alguém soltar isso nas internets? MUITO. Porém esses erros foram frutos de escolhas próprias, não tem ninguém a quem culpar além de mim e isso é muito reconfortante.

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Assim, com independência das roupas, veio a independência do armário.

E é aí que eu quero chegar.

Naonde eu vô, pra onde eu olho, com quem eu converso, alguém tá com o bendito livro da capa verde com a bola vermelha ou está falando dele ou está postando sobre ele ou está parecendo uma testemunha de marie kondo "você tem um minutinho pra ouvir a palavra da organização?".

CREDO.

Eu faço o máximo de esforço pra não chatear ninguém, mas eu tenho pouco ou nenhum respeito por pessoas desorganizadas e não me interessa sua desculpa. NUNCA é mais fácil viver na zona e na desordem. Uma baguncinha pelo uso e por falta de tempo sempre vai acontecer, mas o caos doméstico (pra ficar apenas em uma seara) é porquinho sim, é inconveniente sim e é evitável.

QUÉ DIZÊ, a não ser que você more cozotro e ozotro tenha domínio sobre o ambiente, mas a parte que lhe cabe nesse latifúndio sempre dá pra administrar.

Comecei bem cedo a criar uma rotina de organização completamente própria. Minha mãe curte uma zona, minha irmã não poderia se importar menos com organização, meu pai e irmão não estavam em condição de opinar e outros membros da família têm aquele toc que só acomete mulheres que foram educadas pra servir macho. De modos que eu tive que desenvolver sozinha um sistema que compreendesse minhas necessidades. Assim surgiu o ~sábado da arrumação de armário~, cuja primeira edição aconteceu ainda antes dos 10 anos, quando eu ainda dividia o quarto com a minha irmã.

De um baú que a gente tinha pra guardar livros e brinquedos, evoluindo pra gavetas, armários com cabides, portas do topo do armário, sapateiras, tudo foi virando de domínio próprio, arrumado com as próprias mãos. (Em alguns momentos minha irmã era contagiada pelo evento e a arrumação se estendia pro quarto todo.)

Quando eu tinha 12 anos, minha mãe passou a ficar o dia (e boa parte da noite) fora de casa, e o que eu fiz? Me dei conta de que ela não se arrumava sozinha e passei a fazer isso também. Ninguém nunca disse "ó, a gente bota desinfetante no balde, molha o pano, taca no rodo e vai". Por tentativa e erro, inclusive algumas vezes quase assassinando a família toda (literalmente, com clorofórmio) devido à combinação de produtos de limpeza. E, como quem limpa sabe o trabalho que dá, foi nessa época que eu descobri a alegria da movimentação de objetos.

Minha mãe até hoje tira uns dias pra gritar que a casa dela está uma zona e não consegue encontrar nada, mas um dia eu vou filmar. Isso geralmente acontece quando a casa está arrumada e organizada e eu comprei alguma coisa nova pra conter a bagunça.

Sim, porque a glória da pessoa organizada é dinheiros no banco. A gente vê livros fora do lugar e compra nichos, compra estante, compra gaveteiro, compra aparador e gasta uma pequena fortuna na leroy merlin, incompatível com a condição de não-proprietário de uma moradia.

Então quando a pessoa vem falando como se o livro da dona japonesa fosse uma maravilha abridora de olhos, mágica, onde se encontra um segredo incrível, eu tenho vontade de implodir.

MIGA, CÊ REALMENTE PRECISA DE UMA PESSOA QUE NEM TE CONHECE CAGANDO REGRA DE FORMA GENERALIZADA PRA QUE VOCÊ ARRUME SUA GAVETA DE CARÇOLA?

Seus problemas vão muito além da bagunça, sério mesmo.

Num tive ainda coragem de abrir esse belíssimo exemplar pra ver que qualidade de ~regras~ a pessoa dá. Também não consigo deduzir sozinha por meio da conversa dos convertidos, já que as pessoas falam que doaram 12 sacolas de roupa (quantas roupa cê tinha, mddc) ou que compraram cabides (onde cê pendurava as ropa, mddc). Não consigo achar a linha que separa essas pessoas. 

Só sei que cada amiguinho que eu vejo fazendo ode a esse livrinho, me dá um princípio de ataque de pânico de pensar na condição dos lares dessas pessoas e na precariedade em que vivem seus pertences.

Enquanto isso, sem ajuda de ninguém, meus armários de cabides (iguais) têm as roupas distribuídas num degradê que leva em conta o peso, pra que as mais pesadas fiquem longe do meio e evitem empenamento. Minhas gavetas são dividias por categoria, cada uma por tipo de uso e entre elas a frequência do uso. Eu só levo 8 anos pra me arrumar pela manhã porque o corpo está em movimento, mas a alma e o cérebro ainda estão dormindo.

Além das roupas, eu sempre sei onde estão livros, dvds, cosméticos, maquiagem, potes, caixas, remédios, sapatos, tudo em suas devidas caixas de plástico translúcido com tampas, de modos que seja não apenas fácil de guardar, mas de ver e acomodar.

Sério, gente.

Eu me apavoro com a ideia de dividir um lar com pessoas que não são essas com quem divido agora, cuja bagunça conheço, sei domar e sou obrigada pela lei do universo a aceitar. Fico pensando na desgraça que seria roomates bagunceiros ou que precisam de um exemplar do livro cujo nome nem sei pra botar um mínimo de ordem em suas vidas.

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Está especialmente difícil manter este blog atualizado. E nem é porque estou trabalhando, estudando e arrumando a casa igual a uma condenada. É porque tenho um único assunto acontecendo na minha mente: o. boy.

Só quero falar dele, tô realmente muito irritante. Acho que até COM ELE eu tô só falando dele, todo um descontrole social sem precedentes.

Tava consultando aqui meus alfarrábios e me dei conta que faz 4 meses que estou afogada nessa paixonite adversa e não passa, o que quer dizer que já batemos todos os recordes do ridículo e indo RUMUAL hexa.

Mas também, quando o amor vai sendo consolidado com base nos mesmos odinhos, com fofoquinhas de pertinho™, em lindos links estúpidos no whatsapp, em promessas que dependemos ~DOZOTRO~ pra cumprir, em tomar no fiofó juntinhos e dessa mesma forma dividir um chocolate, NÃO TEM COMO SUPERAR ESSA PASHÃO.

Só que tem também o fator: pavor de que a pessoa descubra este blog e leia sobre si mesma e pense "deus, tira essa véia do meu encalço, nunca te pedi nada", então eu se reprimo, não importa quanto os menudos recomendem o contrário.

E é isso, minha gente. Enquanto eu não botar NAMORANDO no status do feice, inclusive naquele esquema que identifica quem é a vítima, (porque putaquelamerda, que pessoa linda, dá vontade de afofar aquela carinha e sair mostrando pra todo mundo), fica este cérebro dificultado de prosseguir com as atividades normais.

E não é como se eu tivesse que qualificar mês que vem e tal, tá sobrando mesmo espaço mental pra gastar em criação de cenários em que o mundo não implode no caso de o amor florescer entre nozes.

Mandem good vibes, arrumem seus quartos e sejam felizes.


Q