segunda-feira, 21 de março de 2016

the age of Vaneçine

Este post conterá muitos spoilers mesmo do filme The Age of Adaline. No caso da madame não ter assistido, favor parar de ler JÁ e consertar essa situação.

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Pronto?

Então vamo.


I

anos, amores e taças de vinho são coisas que nunca devem ser contadas

Eu sempre fui obcecada por idades e datas de nascimento. Sempre. É uma das memórias mais recorrentes que eu tenho, a fixação pela quantidade de voltas que a pessoa deu no sol. Por nenhuma razão específica, eu acho. Mas eu sempre preciso saber o dia em que a pessoa nasceu e quantos anos ela tem neste momento. 

Idade, em si, nunca foi um problema. É mais a ideia de quanto tempo a pessoa está na terra e o que se espera que ela tenha cumprido até aquele ponto. Você já tem 8 anos e não anda de bicicleta sem rodinhas? Você já tem 12 e ainda tá na quinta série? Você já tem 18 e não dirige? Esse tipo relevantíssimo de marcos que o cerumano tem que passar pra ser considerado bem sucedido.

Pode ser também porque todo mundo sempre fez muita questão de contar o tempo em relação a mim. "Você nasceu 9 meses e 2 dias de pois do casamento dos seus pais. A essa altura, sua mãe tinha 18 e seu pai tinha 23. Sua avó tinha 38 e sua tia mais nova tinha 12. Sua tia mais velha tinha 40. Sua tia mais velha era mais velha que sua vó. Você tem um primo exatamente seis meses mais velho. Você foi filha única por exatamente 5 anos. Você sabia ler e escrever aos 3. Você passou no vestibular de medicina com 16. Você tem 19 e ele tem 31! Você tem 30 e ele tem 23... Você realmente quer fazer essa viagem aos 32? Você tem 35 e ainda não está casada." Acho que deu pra pegar a ideia, né?

Da mesma forma que eu sempre sei quantos anos todo mundo tem (mesmo que a pessoa não me conte, que ela se recuse a me contar, eu vou descobrir), isso nunca impediu minha convivência de nenhuma natureza com nenhuma pessoa. Eu sempre tive amigos das mais variadas idades, em épocas diferentes da vida. Quando eu tinha 10, todo mundo era mais novo que eu. Quando eu tinha 15, todo mundo era mais velho, BEM mais velho. Hoje eu convivo com dinossauros no trabalho, com jovens muito jovens no mestrado (incluindo professores) e meus amigos têm 10 anos a mais ou a menos do que eu e tá todo mundo aí convivendo sem grandes conflitos causados por essa razão.



II

Sexta-feira foi um dia muito ruim, pra finalizar uma semana igualmente cocô. Mas a sexta não foi completamente perdida, porque eu tive uma aula bem do jeitinho que eu gosto, numas vibe neurolinguística, metafisica, viajada, very creize. 

Essa aula que eu tenho agora toda sexta é sempre muito boa, porque é uma aula colaborativa, feita no círculo do amor, pessoas muito inteligentes dividindo conhecimento e tudo mais. Parece que a gente tá ali só falando bobagem e rindo, mas a gente tá ficando mais esperto toda semana e tal.

Aí esse negócio todo de discutir como a projeção leva ao sucesso não era à toa: a atividade do dia era construir uma planilha de planejamento em três níveis: operacional, tático e estratégico. Qualquer pessoa que tenha estudado administração na vida já passou por esse tormento ~empresarial~, mas ali era pra definir essas coisas enquanto pessoa. O estratégico sendo num horizonte ali de uns 10 anos, o tático uns 5 anos, sendo que algumas dessas coisas deveriam ser ferramentas pro estratégico e o operacional mais imediato, pra alimentar o tático. 

O profe fez a gente dividir a folhinha e deu uns minutinhos pra gente escrever objetivos relacionados ao mestrado naquele momento e...



Assim. Fazer mestrado, fazer especificamente esse mestrado, aconteceu por uma razão bem prática e definida. Massss, no campo do que eu quero estar fazendo daqui 10 anos, o biênio 15/16 não tem praticamente nenhuma participação.



¯\_(ツ)_/¯



Eu até sei bem o que eu quero pra daqui 10 anos, só não consigo ver um caminho reto e bonito até lá. Enquanto pros amiguinhos todos o mestrado era tático pra chegar no doutorado estratégico, meu mestrado é operacional pro doutorado tático, pra VIDA estratégica que deve chegar ali por 2020. O que estaria bem certo, já que a vida começa aos 40. 

*chora*

Também teve o momento em que todo mundo, todo mundo MESMO definiu duas coisas para seus futuros daqui a 10 anos:

- falar inglês fluentemente
- ser concursado

Aí eu fiquei com uma intensa cara de pastel por motivos de: eu já. O profe perguntou se tava difícil estabelecer meus objetivos, porque eu tava com cara de

tela azul


Tá difícil sim, viu? Em parte porque eu não sei nem o que eu quero jantar, magina se eu sei o que eu quero daqui 10 anos? Mas também porque eu sei sim o que eu quero e não tem nada a ver com isso AND o que todo mundo quer eu já tenho.

Menos amor, que aí não tenho, mas isso é outra história.

Bom, por 20 minutos eu me senti muito realizada enquanto cerumano por ter a vida que muita gente ~almeja~. Mas passou até bem rápido porque eu mesma não queria essa vida não. E aí bateu a bad de estar fazendo tudo errado pra VER se vai dar certo. E se não der, né? Fuén.


III

Minha aula acabou mais cedo. No passado, quando eu podia compensar os dias de aula, eu simplesmente ia pra casa ou fazia alguma coisa útil, tipo comprar ração das quiança. Agora ou eu fico plantada na sala esperando a hora de bater o ponto e torcendo pro wi-fi funcionar, ou eu volto pra minha sala no trabalho pra ficar amaldiçoando a existência até a hora de bater o ponto. Como o wi-fi capotou-se, minha alternativa foi atravessar a rodovia e voltar pra minha sala pra curtir uma INTENSA bad. Porque a ~tarefa de casa~ era fazer o plano de três níveis para as várias áreas da vida. Aí, meu amor, se profissionalmente e academicamente a coisa tá ruim... Pessoalmente eu tô no chão. 

Eu pensava no que eu achava que eu achava que teria a essa altura da vida, com TRINTECINCO anos e chorava. Pensava que daqui 10 anos eu tenho coarenta-e-cinco e chorava. Pensava nas coisas que eu tento consertar enquanto indivíduo e tudo dá errado e, bom, chorava. 

*****



Sabe quando Barney Stinson diz que nada de bom acontece depois das duas da madrugs? Essa regra se aplica pro horário comercial também: nada de bom acontece depois das 17h. ESPECIALMENTE numa sexta. Aí cê fica lá, pensando "tá tão bom aqui na frente desse ventinho, tô estudando, tá rendendo, vou pra casa daqui uma hora".

MAS.QUE.CAGADA.

Não vamos estar entrando em detalhes, pois reviver coisa ruim ninguém merece. Só vou dizer que cheguei em casa 19:48h, com uma crise de alergia incapacitante e furiosa. Assim que eu botei o pé em casa, a última pessoa presente saiu, fazendo com que eu tomasse consciência de que isso sempre acontece no fim da semana: estou sempre sozinha, sempre em casa.

Isso + o confronto com a realidade pra fazer o plano pessoal + os acontecimentos mais recentes do dia + a semana como um todo + o escapamento do meu carro arrebentou e agora eu tenho som de pobre pelas ruas = desabamento emocional level hard.

Sentei na frente da tv e chorei por uns 40 minutos pela incompetência em viver, no geral. Fiz uma pizza que poderia figurar no comidas feia, tomei um antialérgico potente pois lágrimas pioram alergia de pele e nem banho eu tinha condição de tomar naquele momento e fui fazer o que qualquer pessoa sensata faria: ver um filme que permitisse chorar. Mais.

Sabendo que o cachorro morre, fui bem certeira rever esse maravilhoso filme que eu amo tanto e acho que todo mundo deveria assistir.

IV

Quando eu li a sinopse desse filme, eu já sabia que ia gostar. Uma senhora de cento e tantos anos aprisionada num corpo de 29, aquela carga interior que te faz se sentir mais velha que todo mundo à sua volta, envolvida por uma massa que mal passa a credibilidade da vida adulta.

De acordo com dados da PM e do datafolha opiniões que sempre me dão, mesmo que eu não peça, posso concluir que não aparento a minha idade. Semana passada eu tava me desesperando por bobagem (cê jura) e a interlocutora vem "mas, menina, cê tem o que? uns 25 anos? não é pra esse sofrimento todo não". Então tamo bem atualizada aqui no quesito juventude facial incompatível com a idade cronológica. Esses dias me proibiram de dirigir um carro, porque precisava ter mais de 10 anos de carteira de motorista e a pessoa achou que eu num tinha nem 2. A primeira bebida que eu comprei sem mostrar a identidade foi depois dos 30 anos, assim como a primeira vez que entrei numa balada sem ser barrada.

Então eu vivi intensamente esse descompasso temporal a minha vida toda. Acho que isso me deixa um pouco biruta, pra ser sincera. Eu nunca sei o que eu deveria estar fazendo, de acordo com a minha idade. As outras pessoas da mesma idade que a minha parecem velhas demais, quase sempre. Eu me sinto inadequada perto daquelas com quem eu me identifico, porque parece que está errado conviver com gente que está em uma fase tão diferente da vida. Mas diferente como? Não sei.

Uma eterna sensação de não-pertencimento. A nada. Nunca.



Fiquei me perguntando se não vem daí a sensação que nada acontece feijoada: essa obrigação de cumprir alguma coisa que a gente nem sabe o que é num tempo que é, que ainda vem a ser um círculo.

 

A nossa compreensão do tempo como tempo do relógio pertence à nossa compreensão equivocada da verdade como verdade eterna. We constantly seek what cannot be delivered in life. 

V


Com isso, resolvi que, dentro do possível, vou viver o desapego chronico (heh). Vou me libertar dessas amarras de datas e tempos e marcos e planos e vou, sei lá, viver. 

Toda uma catarse provocada por um filme, uma aula inspiradora e um dia ruim.

Já tô sendo a protagonista da minha própria história sem graça.

Tudo que é reto mente. Toda verdade é sinuosa.







LET GO.